Desde a invenção da
escrita que rara é a geração que se escapa a uma peste, uma pandemia ou uma
guerra e em todas houve sobreviventes. Há 100 anos atrás, uma tia que não
cheguei a conhecer, foi vítima da chamada “Pneumónica”, repousa desde
então num cemitério que inaugurou, agora ao lado da sepultura de uma comediante
saloia de franja que encafuaram a seu lado. Foi a única vítima mortal daquela
estirpe do vírus da Influenza A do subtipo H1N1 entre 5 irmãos e deixou duas
filhas. Consigo compreender os momentos de angústia que ela e os seus contemporâneos
experimentaram então, porque um século depois, estou a ser confrontado com o
vírus Covid-19. Essa tia, que se chamava Maria dos Prazeres (provavelmente foi encontrá-los
na Jerusalém celestial), segundo me disseram, não era pessoa dada a chiliques e
a tremeliques e eu também não, apesar de me encontrar “na linha da frente” dos
preferidos do actual vírus, que sem faltar à verdade poderá ser apelidado de “Vírus
do Medo”.
Apesar do medo de morrer
nunca me ter tirado o apetite ou o sono, cumpro agora com as indicações dadas
pela Organização Mundial de Saúde e pela Direcção Geral de Saúde, porque considero a vida o melhor dos bens, não pretendo
antecipar a minha morte e muito menos a de outros. Como tenho a morte como
certa e não pretendo vender barato a pele ao diabo, pois hei-de ir quando
chegar a minha vez, conservo a calma e o discernimento no meio do pânico e da
angústia que leva muitos a ficar pregados às televisões, a esvaziar
supermercados, a andar de máscara de cá para lá e de lá para cá, a
automedicar-se, a sentir estranhas palpitações e até inexplicáveis faltas de ar,
sintomas que na maioria dos casos, afortunadamente, não espelham a presença do
vírus, mas o medo de morrer, porque não são fruto de infecção, mas produto da
ansiedade.
Os portugueses são dos
povos europeus que mais consomem antidepressivos e ansiolíticos, 30% da nossa
população tem mais de 65 anos de idade, dos quais 200.000 já ultrapassaram os
80 e ainda temos 700.000 asmáticos. Estes compatriotas cuja idade não é para
brincadeiras e cuja saúde inspira cuidado face ao Covid-19, estão
constantemente a ser bombardeados com notícias, maioritariamente repetidas,
desde que o sol nasce até que se põe, sobre o coronavírus, funcionando as
televisões e as rádios, mais as primeiras do que as últimas, como verdadeiros arautos
do pânico, esquecendo-se que há gente que treme, sofre, chora e desespera ao
ouvir as suas emissões e as suas ênfases calamitosas, mais ligadas às
audiências do que ao bem-estar geral. Por outro lado, tenho dúvidas que isto faça
bem às crianças ou que facilite o seu entendimento do momento que estamos a
viver. Este ribombar de mensagens desesperadas, proferidas por locutores que cacarejam
mais alto do que galos matinais, ao dar menos tempo de antena à esperança –
mata! As direcções de informação dos diferentes canais televisivos, para quem
esta situação é também novidade, têm que fazer a diagnose dos seus telespectadores
e compreender que informar não é semear o pânico.
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