quarta-feira, 4 de março de 2020

QUEM MATOU ANNE - JANET - JOHNSTONE?

Segundo alguns relatos, uma mulher britânica de 61 anos, chamada Anne Johnstone, mas conhecida por Janet, que dirigia um abrigo para cães vadios no Egipto, foi encontrada parcialmente devorada pelos cães que cuidava, morrendo alguns dias depois de admitir que estava a ficar sem comida para eles. O cadáver de Janet foi encontrado no seu santuário de animais em Wadi al-Qamar, no complexo da cidade de Dahab, na passada Sexta-feira, com feridas na cabeça, rosto, pescoço e pernas, segundo relatou o Times de Londres.
A polícia acredita que os cães estavam com fome e que se voltaram contra ela, disse o mesmo jornal citando a imprensa local. Um exame post mortem deu como causa da morte um choque hemorrágico. Pelo menos três das centenas de cães ela cuidava tinham sangue na boca, o que está agora a ser averiguado. Janet também havia adoptado recentemente um pit bull terrier para evitar que fosse sacrificado, depois deste ter atacado alguém, de acordo com o que disse um amigo ao jornal, temendo que pudesse ser o cachorro que a atacou.
Esta britânica, que levava 16 anos no Egipto a cuidar de animais abandonados, admitiu num post frustrado do Facebook no final do mês passado que não tinha conseguido arranjar o dinheiro suficiente para dar de comer aos cães. Nesse post é possível ler-se: “Portanto, os cães não podem ser alimentados hoje. Porém, alguns amigos que administram uma página no Facebook para seu abrigo insistem que os animais nunca matariam o seu "anjo da guarda", acreditando que ela ficou inconsciente ao tentar alimentar os animais (do jeito que o mundo vai, estes “fellows” ainda vão tentar ensinar aos cães a “oração do anjo da guarda”!).
“Nós refutamos absolutamente qualquer sugestão de que ela (Janet) morreu por causa do ataque de algum um cão", escreveram os administradores da página, chamando aqueles cães de "amigos de longo prazo" da mulher morta. "Não sabemos exactamente e, até onde sabemos, ninguém mais sabe, provavelmente a verdade nunca será revelada", escreveram os mesmos administradores da página, enquanto lutavam para tentar manter os animais seguros.
Eles elogiaram-na por "salvar animais negligenciados e sofridos" e lutar por eles "quando não tinham mais ninguém". Terminam dizendo: "Janet estará para sempre nos nossos corações, ela ajudou muitos", enviando "condolências sinceras em primeiro lugar a todos os bebés de pêlo” (?!). Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha disse ao Sun: “Estamos a apoiar a família de uma britânica que morreu no Egipto e em contacto com as autoridades egípcias” e "Os nossos pensamentos estão com a família neste momento difícil."
Quem matou Janet Johnstone? A polícia egípcia parece não ter dúvidas em atribuir a morte da britânica aos cães, que na altura se encontravam esfomeados. Será tal possível? E se sim, que factores poderiam ter contribuído para este fatal desfecho?
Eu acredito piamente que aqueles cães poderiam matar a britânica, considerando a fome, a sua natureza, número, viver social e tipo de interacção. Debaixo de fome prolongada, bastam dois cães para comerem um cadáver humano e os animais começam por comer-lhe a cabeça, a face e o pescoço, registando-se casos no passado em que chegaram a separar a cabeça do resto dos cadáveres. Um ataque destes dificilmente acontecerá com uma pessoa viva, erecta e consciente, sendo mais natural acontecer com indivíduos paralisados, inconscientes ou já cadáveres. Janet podia ter sido parcialmente comida depois de morta? A direcção dos ataques caninos parece indicar isso, mas só uma análise detalhada da sua profundidade e natureza poderá garanti-lo. Contudo, esta hipótese não deverá ser descartada.
A natureza dos cães abrigados, considerando a sua morfologia, psicologia, carga instintiva e particular cognitivo, estamos a falar de cães esquivos, párias, tipo podengo e fortemente instintivos, condições que os transformam em predadores, habilitam-nos a caçar e garantem-lhes a autonomia, obsta a um relacionamento mais afectivo com os humanos, que são por eles entendidos meramente como “carregadores de presas”, mantendo com eles uma relação de interesse e não de complementaridade. Cães esfaimados deste tipo podem atacar mortalmente uma pessoa? Poder, podem, mas pouco sobraria do cadáver e a luta pela sua posse resultaria em vários cães mordidos.
O número dos cães, que ascendia às centenas segundo foi noticiado, considerando em primeiro lugar a sua natureza, tornava quase impossível um relacionamento caso a caso mais próximo entre eles e a sua tratadora, pormenor que distanciava Janet da maioria dos cães que socorria, porquanto não a consideravam parte do deu grupo e por causa disso poucos ou nenhuns vínculos afectivos tinham com ela, prestando mais atenção às rivalidade entre si e à constituição de matilhas sem interferência humana. Cães em grande número e devolvidos a um estado semi-selvagem, debaixo de fome, podem atacar quem quer que seja, mesmo um animal maior ou até um ou mais humanos.
Tão largo número de cães, sabendo-se que são competitivos entre si e que não dispensam o escalonamento social, deu por certo origem à constituição de várias matilhas autónomas entre si e de difícil controlo, de certo modo invisíveis, mas prontas a actuar quando levadas a intervir. Em matilhas assim não há lugar para humanos e muito menos para aceitar a sua liderança, ou acatar as suas ordens. Janet poderia ter sido vítima de uma matilha destas? Sem dúvida, mas as matilhas rivais da agressora bem depressa lutariam pela posse da presa, o que inevitavelmente deixaria marca em alguns cães. Para dissipar dúvidas, o melhor que há a fazer é saber a quem pertence o sangue presente nos cães ensanguentados, se a um ou mais cães ou à desafortunada Janet.
Entender tanto cão como um bando de anjinhos desafortunados, a quem basta encher a barriga, é uma sandice tremenda que acaba por não ser benéfico nem para os cães nem para quem cuida deles, porque a ausência de uma interacção constante, eficaz e profícua, colocará quem trata dos cães na corda bamba, na fila para a desgraça e para o inevitável. A ausência de interacção entre cães e homens, que não dispensa uma liderança humana activa, para além de induzir os cães ao stress e a um enorme número de disparates, tem levado muitos cães a pôr na ordem os seus donos, atacando-os muitas vezes para usurpar o seu lugar. Janet podia ter sido vítima dos cães pela ausência de liderança e duma relação mais próxima com todos? Se foi atacada em vida, então não restam dúvidas! E se foi atacada em vida, podia muito bem ter sido abatida pelo somatório de todos estes factores.
Falta falar do Pitbull que Janet tinha resgatado recentemente da morte, por ter atacado uma pessoa. Se este cão foi autor ou co-autor da tragédia é fácil de saber pelo tipo de dentadas que a vítima sofreu, uma vez que não deixam margem para dúvidas. Os Pitbulls, mesmo esfomeados, são por norma muito zelosos dos seus donos e perante o ataque de outros cães sobre os seus líderes, lançam-se de imediato sobre eles, pelo que ser-lhes-á mais fácil abater outros cães que o próprio dono - o Pitbull é um cão agradecido que tende a morrer ao lado do seu mestre!
Ainda que Janet possa ter sido morta pelos cães, a hipótese mais plausível, pelas zonas atacadas do seu corpo, é que os animais a tenham encontrado já cadáver, comendo depois parte dele. As circunstâncias exactas da morte desta britânica permanecem ocultas. Teria morrido junto dos cães de morte natural ou teria sido levada para lá depois de morta? Tudo é possível!

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