quinta-feira, 26 de março de 2020

UM CÃO MINIATURA COM 2.000 ANOS

Afinal pequenos cães de colo já eram populares no Império Romano, conforme provam esqueletos encontrados no Sul de Espanha que remontam há 2.000 anos. Ali, os arqueólogos descobriram sepulturas de cães domésticos, além de ossos humanos num cemitério romano, encontrando eles vários cães pequenos, semelhantes aos pequineses ou aos pugs actuais, sendo por isso um dos registos mais antigos de manutenção e criação de cães miniatura nos tempos antigos
O cão é um dos companheiros mais antigos dos seres humanos - há 28.000 anos os seus antepassados já viviam perto dos homens e há cerca de 15.000 anos os lobos foram domesticados e tornaram-se cães domésticos. Desde então, o cão foi-se adaptando cada vez melhor aos seres humanos e foi capaz de entender a nossa linguagem, ter a nossa perspectiva e ser até capaz de reconhecer-nos em fotos. Por sua vez, os seres humanos criaram inúmeras raças de cães a partir dos cães primitivos semelhantes aos lobos, do minúsculo chihuahua ao mastim.
Através de documentos históricos sabe-se que nos tempos antigos as pessoas mantinham cães, não somente como auxiliares de caça ou como animais farejadores, mas também por prazer e como animais de estimação. “A existência de cães pequenos como animais de estimação é conhecida desde os tempos antigos, como mostram textos, a epigrafia e a iconografia”, diz Martinez Sanchez da Universidade de Granada. Autores romanos como Plínio, o Velho e Claudio Eliano relatam que os cães pequenos, em particular, eram muito populares entre as elites urbanas do Império Romano.
Agora, Sanchez e a sua equipa descobriram algumas das mais antigas relíquias desses cães romanos no sul da Espanha, durante escavações realizadas na necrópole romana de Llanos del Pretorio, perto de Cordoba, onde foram também encontradas várias sepulturas caninas. Enquanto alguns cães eram de tamanho médio e mais parecidos com as raças actuais de caça, alguns esqueletos eram notavelmente pequenos. "Particularmente digno de registo é um cão pequeno, com pouco mais de 20 centímetros de tamanho, que tinha membros encurtados e focinho chato … com o crânio arredondado, o nariz achatado e as pernas significativamente encurtadas, que lembra as raças modernas de cães miniatura, como o pug ou o pequinois” – relata Sanchez.
A análise de isótopos do esmalte dentário e dos ossos do antigo cão de colo indicam que o animal não era de origem local. O cão deveria ter sido criado noutro lugar antes de chegar a um morador da cidade romana de Cordoba como animal de estimação, segundo adiantaram os arqueólogos. Também interessante: o pequeno animal - uma cadela - estava grávida no momento de sua morte. "Isso pode ser visto nos ossos de um feto que encontramos junto com a cadela", relata Sanchez. Traços de ferimentos nos ossos indicam que essa cadela sofreu um acidente antes do nascimento de seu filhote ou que foi deliberadamente morta como uma oferta - possivelmente para que ela seguisse o dono na vida após a morte.
A selecção destes cães na Antiguidade parece sugerir que a eugenia prática é muito anterior a Francis Galton e o ao arianismo, que remonta ao momento em que o Homem percebeu que podia ser um agente transformador da natureza por excelência. Por outro lado, com achados arqueológicos destes, a Antiguidade parece saltar dos confins dos tempos e aproximar-se cada vez mais do nosso tempo.

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