quarta-feira, 11 de março de 2020

NÃO É FÁCIL SER-SE CEGO EM TOULOUSE

As conclusões presentes neste artigo não têm como propósito alimentar a já longa guerra entre taxistas e condutores uber, que é por demais desgastante, não beneficia nenhuma das partes e que só prejudica o público e a paz social, porque em todo o lado há gente capaz e incapaz, indivíduos competentes e incompetentes de acordo com o que somos enquanto povo. A desventura de Florie e de Elba, a primeira invisual e o segundo um cão-guia, levantou uma onda de contestação sem precedentes nas redes sociais, porque 3 condutores da Uber recusaram transportá-los juntos em Toulouse, onde a cega se encontrava de visita ao irmão. Como importava que a senhora chegasse à estação ferroviária a tempo, o irmão chamou um carro da uber e prontificou-se a pagar a corrida.
Quando o primeiro motorista chegou, disse para a invisual que não lhe levava o cão, apesar desta lhe ter dito que o animal era um cão de serviço e que recusar transportá-lo incorria em multa. O motorista disse que não havia tal lei, virou-lhe as costas e deixou-a apeada e a falar sozinha. Quando a hora de partida do comboio se aproximava, veio um segundo motorista e recusou-se também a transportá-los. Veio também um terceiro que se desculpou por não ter um pano para limpar o carro. A invisual ainda insistiu com ele e disse-lhe que o cão podia ir no porta-bagagens, mas nada feito. Cada vez mais desesperada, pois nunca tal lhe tinha acontecido, a invisual viu-se obrigada a esperar pelo 4º motorista, que finalmente a levou até Matabiau, o que não evitou que perdesse o comboio.
Contactada a Uber, um seu porta-voz disse: “Lamentamos que o passageiro não tenha conseguido completar a corrida que havia encomendado. A Uber não tolera nenhuma forma de discriminação, seja por origem, religião, deficiência, orientação ou identidade sexual, situação familiar, idade ou qualquer outro factor de discriminação. Comunicamos regularmente aos motoristas da VTC as suas obrigações nessa área e continuamos a trabalhar para impedir que esse tipo de situação aconteça no futuro.” Quando será esse futuro é que ninguém sabe. Situações destas envergonham-nos a todos, mas nem por isso deixam de repetir-se. Não deveria esta invisual ser compensada pelo transtorno e os motoristas condenados a uma pesada multa e inibidos de conduzir carros de aluguer? C'est la France que nous avons aujourd'hui! Quando os culpados não são condenados, são as vítimas a arcar com as penas!

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