quarta-feira, 11 de março de 2020

O PROJECTO DA ANJA

Casualmente, ao ler hoje o “Heute” online, tive conhecimento da vienense Anja Miletic de 34 anos (o apelido parece ser de origem kosovar ou de outro país balcânico), da sua luta contra o cancro e do seu projecto. Esta senhora, que luta contra o cancro há 7 anos e a quem já foram removidos 8 tumores, atribui o seu apego à vida à companhia que lhe foi prestada pelos seus dois cães, “Mini” e “Miki”. Grata aos animais, está agora empenhada em retribuir-lhes, abraçando decididamente um novo projecto: a “Happy Hunde House”, um centro de atendimento para cães na rua Anton-Sattler-Gasse, no município de Donaustadt, 22º bairro de Viena, onde pretende para além do usual, oferecer workshops e festas.
Com a abertura deste centro, Miletic pretende valer às pessoas que vão às compras, a consultas médicas e a outros afazeres e que não têm onde deixar os seus cães, que ela receberá de boa vontade e cuidará como se fossem seus. Uma hora de permanência ali irá custar 8€, meio-dia 15€ e 30€ o dia inteiro (está dentro dos preços de mercado). Miletic também oferece o serviço de transporte dos cães, podendo ir buscá-los ou entregá-los pelo preço de 10€.
Além do atendimento clássico, Anja Miletic também aluga uma sala inteira para várias celebrações e planeia eventos caninos para o Dia das Bruxas, para o Natal e para a procura de ovos na Páscoa. Encontros às cegas, dias de cabeleireiro, testes, bingo e noites de cinema completam o seu leque de iniciativas. 
Esta vienense, para implementar o seu projecto, precisa de 8.250 euros como capital inicial até ao dia 31 de Março para pagar a primeira parcela e o sinal das instalações. Não tendo outro modo de angariar este valor decidiu valer-se do crowdfunding em "startnext.com".
Para mim não ficou claro a quem mais interessa este projecto, se à Anja ou aos cães. Pode ser que interesse a ambos, que é afinal aquilo que se deseja. Não tenho razões que me levem a duvidar da sinceridade desta austríaca, apesar de saber que graças a apelos sentimentais, grandes quantias têm sido extorquidas e muita gente tem sido ludibriada através da Internet, que também se presta como excelente ninho de burlões e de toda a casta de salafrários.
Um projecto destes “tem pernas para andar” em Portugal, quando abraçado por um jovem credenciado e amigo de animais, desde que convenientemente elaborado. Debaixo destas condições o financiamento bancário torna-se mais fácil, já que o dinheiro dos bancos foi feito para se usar. Nunca compreendi uma coisa entre nós e nunca encontrei quem me esclarecesse: por que razão se endividam os portugueses na compra de uma casa por dezenas de anos, ao invés de pedirem dinheiro emprestado aos bancos para alcançarem riqueza, comprando depois a casa e outros bens. Duvidarão porventura de si próprios ou faltar-lhes-á conhecimento, talento e arrojo? O que falta ao povo parece sobejar à nossa classe política, para quem todos somos um verdadeiro “crowdfunding”. Não estaremos já fartos de dar para a mesma quermesse?

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