Depois de ter conhecido o
pai do 1º Ministro britânico e a sua preferência por bares (a sua origem turca jamais
lhe permitiria tal devaneio), e a telenovela relativa a Meghan Markle, entre
tantas outras coisas, chego à conclusão que as novas fornadas de ingleses nada
têm a ver com as do passado, a quem era reconhecido inexorável pragmatismo,
espírito empreendedor e avidez pelo progresso. As actuais, que ainda conservam
a fleuma, são mais contemplativas, esperam que aconteça e vivem para o dia-a-dia
(não me estou a referir a britânicos de origem indiana, paquistanesa ou de outras
etnias). Através o do Daily Mail fiquei a saber a história da Bess, uma Border
Collie, que depois de passar 10 anos num abrigo de animais, “Last Chance Animal
Rescue”, em Kent, foi anteontem finalmente adoptada.
Pelas declarações do
pessoal do abrigo atrás citado, a cadela apresenta “um problema de confiança”
com novas pessoas, é amorosa e gosta de ser acariciada, mas segundo os seus
próprios termos, desagradando-se quando há muita confusão ou muita gente,
particular que os responsáveis do abrigo atribuem ao facto da cadela ter sido
atropelada quando cachorra. Segundo o que também adianta o tablóide britânico,
os donos da então cachorrinha não foram capazes de cuidar dela e entregaram-na
nas mãos responsáveis do abrigo. O atraso na adopção desta cadela ficou a
dever-se ao facto de recear e/ou desconfiar das pessoas até finalmente se
constituir em trauma, o que nos lança indubitavelmente para um problema de sociabilização,
mais propriamente para a sua ausência.
Não duvido que quem abre,
seja sócio ou trabalhe num abrigo para animais não esteja preocupado com o seu
bem-estar e se assim é, porque deixaram a pobre cadela entregue ao seu trauma, dez
anos não foram suficientes para a reabilitar? Seria o seu mal incurável? Foi objecto
dos mesmos cuidados que os demais? Haveria outros com problemas ainda maiores? Não
houve nenhum etólogo que se interessasse por ela, apesar da sua raça ser
caracterizada por um forte impulso ao conhecimento e uma reconhecida alta
capacidade de aprendizagem? Independentemente das razões, a perpetuação dos
problemas da Bess é uma pedra no sapato para quem a acolheu e não a ajudou a
ultrapassar as suas dificuldades psicológicas, mesmo diante de uma ou mais
incapacidades físicas.
Problemas destes têm
solução e têm solução porque os cães não sabem diferenciar, na sua totalidade,
a diferença entre a realidade e a ficção. Se lhe contarmos através da
experiência uma estória com um final feliz, eles crêem-na real e ela poderá
alterar as suas vidas, serenar as suas aflições e ajudá-los a vencer as suas
dificuldades, tudo isto porque experimentaram a felicidade e com ela vão
adiante. E quando assim acontece, contrariamente ao parecer do pessoal do “Last
Chance Animal Rescue” de Kent, não precisamos de cruzar os dedos para que a
cadela tenha sorte e muito menos de orações, porque como disse e canta um poeta
brasileiro: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.
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