sexta-feira, 20 de março de 2020

FORGIVE THEM BESS, THEY DON'T KNOW WHAT THEY DO!

Depois de ter conhecido o pai do 1º Ministro britânico e a sua preferência por bares (a sua origem turca jamais lhe permitiria tal devaneio), e a telenovela relativa a Meghan Markle, entre tantas outras coisas, chego à conclusão que as novas fornadas de ingleses nada têm a ver com as do passado, a quem era reconhecido inexorável pragmatismo, espírito empreendedor e avidez pelo progresso. As actuais, que ainda conservam a fleuma, são mais contemplativas, esperam que aconteça e vivem para o dia-a-dia (não me estou a referir a britânicos de origem indiana, paquistanesa ou de outras etnias). Através o do Daily Mail fiquei a saber a história da Bess, uma Border Collie, que depois de passar 10 anos num abrigo de animais, “Last Chance Animal Rescue”, em Kent, foi anteontem finalmente adoptada.
Pelas declarações do pessoal do abrigo atrás citado, a cadela apresenta “um problema de confiança” com novas pessoas, é amorosa e gosta de ser acariciada, mas segundo os seus próprios termos, desagradando-se quando há muita confusão ou muita gente, particular que os responsáveis do abrigo atribuem ao facto da cadela ter sido atropelada quando cachorra. Segundo o que também adianta o tablóide britânico, os donos da então cachorrinha não foram capazes de cuidar dela e entregaram-na nas mãos responsáveis do abrigo. O atraso na adopção desta cadela ficou a dever-se ao facto de recear e/ou desconfiar das pessoas até finalmente se constituir em trauma, o que nos lança indubitavelmente para um problema de sociabilização, mais propriamente para a sua ausência.
Não duvido que quem abre, seja sócio ou trabalhe num abrigo para animais não esteja preocupado com o seu bem-estar e se assim é, porque deixaram a pobre cadela entregue ao seu trauma, dez anos não foram suficientes para a reabilitar? Seria o seu mal incurável? Foi objecto dos mesmos cuidados que os demais? Haveria outros com problemas ainda maiores? Não houve nenhum etólogo que se interessasse por ela, apesar da sua raça ser caracterizada por um forte impulso ao conhecimento e uma reconhecida alta capacidade de aprendizagem? Independentemente das razões, a perpetuação dos problemas da Bess é uma pedra no sapato para quem a acolheu e não a ajudou a ultrapassar as suas dificuldades psicológicas, mesmo diante de uma ou mais incapacidades físicas.
Problemas destes têm solução e têm solução porque os cães não sabem diferenciar, na sua totalidade, a diferença entre a realidade e a ficção. Se lhe contarmos através da experiência uma estória com um final feliz, eles crêem-na real e ela poderá alterar as suas vidas, serenar as suas aflições e ajudá-los a vencer as suas dificuldades, tudo isto porque experimentaram a felicidade e com ela vão adiante. E quando assim acontece, contrariamente ao parecer do pessoal do “Last Chance Animal Rescue” de Kent, não precisamos de cruzar os dedos para que a cadela tenha sorte e muito menos de orações, porque como disse e canta um poeta brasileiro: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

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