Comecemos
pela StreetVet. A StreetVet é uma instituição de caridade
sem fins lucrativos para o bem-estar animal no Reino Unido fundada em 2016. A
organização fornece suporte para os sem-abrigo donos de animais que não podem
pagar tratamento veterinário particular e educa-os sobre as responsabilidades e
os cuidados com a propriedade dos animais. Neste momento esta instituição ajuda
mais de 1.000 animais de estimação pertencentes a sem-abrigos e está a pedir
aos hotéis que abram uma excepção às políticas de proibição de cães de
estimação ao fornecer alojamento aos sem-abrigo, uma vez que alguns preferem
ficar nas ruas se os hotéis não os deixarem levar consigo os cães. Este pedido
sucede à ordem governamental que obriga os funcionários dos conselhos locais a
alojar os sem-abrigo em hotéis e abrigos como parte dos esforços para conter a
disseminação do coronavírus.
A
StreetVet faz saber que alguns moradores de rua ficarão nas ruas se forem
forçados a separar-se dos seus amados cães. Num movimento sem precedentes, os
gestores de desabrigados e os coordenadores de pernoita de todas as autoridades
locais receberam instruções do Ministério da Habitação, Comunidades e Governo
Local (MHCLG), na passada sexta-feira, para fornecer acomodações no
fim-de-semana. No dia anterior, o secretário da Habitação, Robert Jenrick, pediu às principais redes de hotéis que fiquem abertas e forneçam
camas para os desabrigados. No entanto, uma instituição de caridade diz que
muitas pessoas encontram-se numa situação desesperada e ainda estão nas ruas
"assustadas e famintas" porque "as fontes normais de comida se
foram."
Jade
Statt (na foto seguinte), fundadora da StreetVet, tem 650 veterinários e
enfermeiros voluntários que geralmente visitam 16 locais como 'clínicas de
rua', que ainda recebem chamadas de emergência e continuam a enviar comida para
os sem-abrigo, concentrando a sua atenção em incentivar os hotéis a permitir
entrada dos seus animais de estimação. "Muitos sem-abrigo recusam separar-se
do seus cães porque é o que sempre fizeram: temos pessoas que dormem nas ruas
com eles ao invés de ficarem num quarto de albergue se os cães não forem
permitidos." Muitas pessoas sem-abrigo não estão de boa saúde por várias
razões e não estão em posição de se auto-isolar ou manter os bons procedimentos
de lavagem das mãos, por isso são muito vulneráveis nas ruas". A StreetVet
está a tentar organizar um espaço de emergência para canis em todo o país,
incluindo contactos com a Battersea Dogs Home, em Londres. Se for oferecido aos
sem-abrigo um quarto de hotel e não puderem levar seu cachorro, eles esperam
até encontrar abrigo para o animal.
Esta
instituição de caridade também tem para oferecer boxes e açaimes, caso os
hotéis permitam a entrada dos cães. "Obviamente, nós e os sem-abrigo,
preferimos que os cães e seus donos sejam mantidos juntos", disse Jade.
"Sou veterinária há 16 anos e o vínculo humano-canino é especial, sendo ainda
mais profundo no caso dos sem-abrigo. "Eles costumam ver os seus cães como
o único amigo que têm ou como um membro da família e são uma recordação de
melhores tempos, quando ainda não eram sem-abrigo". Apesar dos planos do
governo, os moradores de rua ainda correm sério risco devido a desorientação, porque
os sistemas de suporte até há pouco existentes, como cozinhas de sopa e
distribuições de alimentos, já não estão nos mesmos sítios.
O
Independent informou que não conseguiu obter dados do governo sobre quantos sem
abrigo haviam sido alojados até agora em todo o país. Até domingo, 464 pessoas
que dormiam pelas ruas de Londres foram colocadas em hotéis e quase 50 noutras
acomodações independentes, dos cerca de 11.400 sem-abrigo que dormem nas ruas em
toda a capital, segundo disse o gabinete do prefeito. Há relatos de que as
autoridades locais continuam a pedir aos sem-abrigo que provem ter uma ligação
local e que forneçam um histórico de endereços antes que possam aceder aos
abrigos, impedindo assim que sejam alojados.
Matt Downie, director de políticas
e assuntos externos da Crise, disse ao jornal: “Temos relatos de pessoas que
não comem há dias. As pessoas nas ruas que ainda não chegaram aos hotéis estão
realmente a lutar pela sua sobrevivência, porque as fontes normais de comida
desapareceram. Estamos a operar em algumas cidades e as pessoas estão
assustadas, esfomeadas e desesperadas.”
Ao
ver tanto “olho azul” desprezado, emporcalhado e jogado pelas calçadas
britânicas, percebo automaticamente que a miséria é transversal a todas as
nações, como sinto que infelizmente temos feito muito pouco, enquanto
sociedade, pela reinserção social dos sem-abrigo, gente para quem os cães são
mais do que um meio para despertar a generosidade alheia. Mais do que rotular e
encafuar apressadamente esta gente, importa recuperá-la psicologicamente, apesar
de não ser nada fácil, porque não é “normal” descer-se tão baixo. Perante a
situação em que vivem, se não tivessem os cães por companheiros, a sua vida
ainda seria mais triste, vazia e miserável.
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