Damos connosco por vezes a
condenar as acções das polícias do 3º Mundo por achá-las próprias dos séculos
XVIII e XIX, escusadas, brutais e atentatórias dos Direitos Humanos, quando
aqui na Europa estamos a caminhar para estados policiais e quase sem darmos
conta.
Um dos países europeus
onde a polícia não é branda é na Áustria, onde também se perseguem ladrões
recorrendo a helicópteros e cães, como há poucos dias aconteceu. Para além de
Viena, da música e da cultura austríacas, do seu cerimonial e rigor, do idílico
Danúbio, do majestoso Tirol e do Jodler, existe em paralelo uma Alta Áustria
onde o crime prolifera (todos os países têm frente e verso).
Na passada Quarta-feira,
vai fazer amanhã 8 dias, na Ilha do Danúbio (Donauinsel), uma ilha longa e
estreita no centro de Viena, com 21,1km de comprimento e entre 70 a 210m de
largura, situada entre o Rio Danúbio e o canal paralelo escavado que recebeu o
nome de “Neue Donau”, por volta do meio-dia, um homem de 38 anos andava a
correr com o seu cão solto. Dois polícias que ali se encontravam aperceberam-se
disso (o cão até lhes ladrou) e mandaram parar o dono, que desobedeceu à ordem
e que só viria a parar à terceira vez. Quando finalmente parou e se virou para
os polícias ficou surpreso, porque um deles já lhe tinha a arma apontada (não
será isto uso desproporcional da força?). A partir daquele momento, o dono do
cão filmou com o seu telemóvel o resto da cena.
Ao ter conhecimento do incidente,
o portal de notícias heite.at, perguntou à Direcção da Polícia do Estado de
Viena se o procedimento do polícia era normal e a resposta obtida foi esta: “Foi
um acto oficial normal. O oficial puxou a arma porque foi ignorado pelo homem e
para se proteger do cão." É possível que esta resposta tenha satisfeito o
portal de notícias, mas a mim não me convence. Penso até que a resposta
verdadeira seria esta: “O oficial puxou da arma para se fazer respeitar pelo
homem por ausência de outros meios ”, já que ao cão, um mestiço médio de caça,
jamais espatifaria sequer as botas aos polícias. Com esta tragédia do
coronavírus, que induz a ânimos exaltados, se a Europa não travar quanto antes
o Covid-19, corre o risco de ver as suas sociedades irremediavelmente desestruturadas.
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