domingo, 29 de março de 2020

AVÓ, PORQUE TENS OS DENTES TÃO GRANDES?

Se há coisas que me deixam furibundo, o desplante de certos idiotas ao afirmar-se surpresos depois dos seus cães, considerados perigosos, terem atacado alguém é uma delas, porque “não casa a bota com a perdigota” e das duas, uma: ou a ignorância e a tolice regem as suas cabeças ou estão a arranjar desculpas esfarrapadas (ambos os casos são infelizmente bastante comuns). Hoje, pouco depois das 7 horas, aconteceu mais um incidente destes em Vincentia, um município de Nova Gales do Sul, na Austrália, quando 3 cães (cruzados de Bullmastiff) quebraram a cerca dum quintal e foram matar uma senhora de 91 anos que se encontrava a nadar na praia de Collingwood Beach e feriram mais três pessoas, sendo uma delas a sua dona, que em vão tentou cortar-lhes a fuga e os ataques.
Depois de se mostrar solidário com as vítimas, Adam Newbold, o dono dos cães, descreveu-os como bons animais de estimação e como os “melhores amigos da família, que brincavam com as suas no quintal e que eram gentis com o gato e o lagarto de estimação da família. Disse também que já os tinha há sete anos e que não sabe porque se transtornaram, uma vez que ainda ontem as suas filhas estiveram penduradas neles na brincadeira. Mas a declaração de Newbold que mais me deixou perplexo foi: “Eu nunca teria esses cães perto dos meus filhos se soubesse que isto poderia acontecer." Este australiano não conhece certamente a história do “Capuchinho Vermelho” e muito menos aquela passagem em que a menina pergunta ao lobo por que razão tinha ele os dentes tão grandes. Para que mais gente não incorra no mesmo erro de cálculo do senhor Newbold, é de todo conveniente que a história atrás mencionada seja do conhecimento geral e explicada para todos.
Há já muito tempo que os Bullmastiff estão a ser usados maioritariamente para guarda e quando abrem a boca os estragos que provocam são gravíssimos, capazes de matar as suas presas como aconteceu neste caso. A gravidade das suas dentadas tem a ver com o particular do seu focinho e o tamanho do crânio. O focinho é mais curto do que o crânio e sua a abertura tem sensivelmente a mesma largura da sua base, o que lhe confere uma tremenda força de mordedura. Por outro lado, a mestiçagem do Bullmastiff com cães lupinos, vulpinos ou bracóides, tende a produzir animais mais perigosos que o Bullmastiff na sua origem, porque juntam a força a um insaciável instinto de presa. Já o cruzamento do Bullmastiff com qualquer molosso tende a dar animais mais calmos e confiáveis.
Ao que parece, os cães do Sr. Newbold irão ser abatidos, sacrifício desnecessário caso tivesse adestrado os seus cães e fosse mais cauteloso com o seu confinamento. Cães destes não são para todos e muito menos para quem julga que eles são todos iguais, que são apenas maus por terem sido maltratados ou quando os provocam. Anda por aqui, e por todo o lado, muita gente a contar mentiras para o povo acerca de cães, alguma dela com grande impacto na cinecultura e na cinotecnia, que na ânsia de valer aos rafeiros, que pouco ou nenhum trabalho dão e nem o reclamam, acaba por pôr em risco a vida de uns quantos donos.
Ao falar de Bullmastiffs lembrei-me de um episódio que me aconteceu no final da década de 90, em Alcoitão, na Rua do Tabaco, quando surpreso e desprovido de qualquer defesa, apenas munido de dois sacos de lixo, fui cercado por dois enormes Bullmastiffs já acostumados a delapidar os vizinhos. E como há momentos em que o medo  induz-nos ao bom senso, aproveitei o arremesso dos sacos para me esconder dentro do caixote do lixo, que na altura parecia ter sido feito à minha medida. Entrar lá foi fácil, sair é que não, porque os cães montaram guarda à caixa de saneamento e só saíram de lá quando o cromo do dono os chamou. Eis em síntese uma das poucas “retiradas estratégicas” a que me vi obrigado ao longo da vida.

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