Se
há coisas que me deixam furibundo, o desplante de certos idiotas ao afirmar-se
surpresos depois dos seus cães, considerados perigosos, terem atacado alguém é
uma delas, porque “não casa a bota com a perdigota” e das duas, uma: ou a
ignorância e a tolice regem as suas cabeças ou estão a arranjar desculpas esfarrapadas
(ambos os casos são infelizmente bastante comuns). Hoje, pouco depois das 7
horas, aconteceu mais um incidente destes em Vincentia, um município de Nova
Gales do Sul, na Austrália, quando 3 cães (cruzados de Bullmastiff) quebraram a
cerca dum quintal e foram matar uma senhora de 91 anos que se encontrava a
nadar na praia de Collingwood Beach e feriram mais três pessoas, sendo uma
delas a sua dona, que em vão tentou cortar-lhes a fuga e os ataques.
Depois
de se mostrar solidário com as vítimas, Adam Newbold, o dono dos cães,
descreveu-os como bons animais de estimação e como os “melhores amigos da
família, que brincavam com as suas no quintal e que eram gentis com o gato e o
lagarto de estimação da família. Disse também que já os tinha há sete anos e
que não sabe porque se transtornaram, uma vez que ainda ontem as suas filhas estiveram
penduradas neles na brincadeira. Mas a declaração de Newbold que mais me deixou
perplexo foi: “Eu nunca teria esses cães perto dos meus filhos se soubesse que
isto poderia acontecer." Este australiano não conhece certamente a
história do “Capuchinho Vermelho” e muito menos aquela passagem em que a menina
pergunta ao lobo por que razão tinha ele os dentes tão grandes. Para que mais gente
não incorra no mesmo erro de cálculo do senhor Newbold, é de todo conveniente
que a história atrás mencionada seja do conhecimento geral e explicada para
todos.
Há
já muito tempo que os Bullmastiff estão a ser usados maioritariamente para
guarda e quando abrem a boca os estragos que provocam são gravíssimos, capazes
de matar as suas presas como aconteceu neste caso. A gravidade das suas
dentadas tem a ver com o particular do seu focinho e o tamanho do crânio. O
focinho é mais curto do que o crânio e sua a abertura tem sensivelmente a mesma
largura da sua base, o que lhe confere uma tremenda força de mordedura. Por
outro lado, a mestiçagem do Bullmastiff com cães lupinos, vulpinos ou
bracóides, tende a produzir animais mais perigosos que o Bullmastiff na sua origem,
porque juntam a força a um insaciável instinto de presa. Já o cruzamento do
Bullmastiff com qualquer molosso tende a dar animais mais calmos e confiáveis.
Ao
que parece, os cães do Sr. Newbold irão ser abatidos, sacrifício desnecessário
caso tivesse adestrado os seus cães e fosse mais cauteloso com o seu
confinamento. Cães destes não são para todos e muito menos para quem julga que eles
são todos iguais, que são apenas maus por terem sido maltratados ou quando os
provocam. Anda por aqui, e por todo o lado, muita gente a contar mentiras para
o povo acerca de cães, alguma dela com grande impacto na cinecultura e na
cinotecnia, que na ânsia de valer aos rafeiros, que pouco ou nenhum trabalho
dão e nem o reclamam, acaba por pôr em risco a vida de uns quantos donos.
Ao
falar de Bullmastiffs lembrei-me de um episódio que me aconteceu no final da
década de 90, em Alcoitão, na Rua do Tabaco, quando surpreso e desprovido de qualquer
defesa, apenas munido de dois sacos de lixo, fui cercado por dois enormes
Bullmastiffs já acostumados a delapidar os vizinhos. E como há momentos em que
o medo induz-nos ao bom senso, aproveitei o arremesso dos sacos para me
esconder dentro do caixote do lixo, que na altura parecia ter sido feito à
minha medida. Entrar lá foi fácil, sair é que não, porque os cães montaram
guarda à caixa de saneamento e só saíram de lá quando o cromo do dono os
chamou. Eis em síntese uma das poucas “retiradas estratégicas” a que me vi
obrigado ao longo da vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário