Antes de tudo mais gostava
de saber, se alguém me souber explicar, porque é que o peixe é mais caro do que
a carne em Portugal, quando temos uma “Zona Económica Exclusiva” (ZEE) tão
grande e os pescadores ganham tão pouco. Não merecerão eles maior respeito por
arriscarem as suas vidas para nos darem de comer? Estaremos de costas voltadas
para o mar? Hoje, no mercado mais perto de mim, por sinal um dos melhor
abastecidos de peixe em Portugal, tanto em quantidade como em qualidade, o
peixe acabou cedo, sucedendo o mesmo nas peixarias ao seu redor, de tal maneira
que ao meio-dia, só havia gelo sobre as pedras de venda.
O “fenómeno” repete-se todos
os anos por alturas da “Semana Santa” e raros são aqueles que comem carne na Sexta-Feira
desta semana, como se todos fossem católicos devotos e não faltassem às igrejas
365 dias por ano e durante anos a fio, só nelas entrando por ocasião de um raro
baptizado, casamento ou funeral. Os funerais são ainda os que congregam mais “fiéis”,
apesar de já não serem o que eram, porque em muitos deles a figura do padre é
hoje dispensada. Quem comerá carne nesta ocasião? Quem não tem dinheiro para
comprar peixe, os desenraizados, os estrangeiros, os evangélicos e outros
sectários como testemunho da sua fé, para publicitarem a sua desobediência à
tradição católica.
Agora, que não parece nem
bem nem mal comer carne ou não, porque longe vai o tempo em que quem o fizesse
era apontado e objecto de alguma reprimenda ou dissabor, é chique comer peixe e
“fatela” comer carne. Os ricos de antigamente, porque podiam pagar a bula,
gabavam-se de poder comer carne e os de hoje mostram-se a comer peixe, porque
apesar da austeridade, estão acima dela e conseguem manter a tradição.
Desconheço se isto é “carneirada” ou não, mas tenho a certeza que nada tem a
ver com a verdadeira Fé, quando muito será vaidade e/ou superstição, que
estribadas num sincretismo religioso viraram tradição.
Não sei por que carga de
água, se influenciado ou não, ontem acabei também por comer peixe, e o mais engraçado
é que nem dei por isso! Há que gabar a esperteza dos saloios, mormente os de Sintra
e de Mafra, que desde sempre nesta ocasião, perante a antiga proibição de comer
carne, partem à cata do polvo e do marisco, nada perdendo com a permuta, o que
prova mais uma vez que as tradições em Portugal obedecem mais conveniência do
que a outra razão qualquer. Será por causa de isso que sempre ouvi dizer que “taran
tan tan não enche barriga”?