Não
é fácil encontrar jornalismo de qualidade e isento muito menos, porque a
mediocridade usurpa a qualidade e o poder sempre acaba por comprar a mais
resiliente imparcialidade. Lamentavelmente, tudo tem um preço porque a sobrevivência
a isso obriga. Teremos algo mais valioso do que a vida? Deverá a nossa teimosia
comprometer a existência dos que dependem de nós? O jornalismo, como tantas outras coisas, é
uma questão de conveniência e forma uma encomendada opinião pública,
encomendada não se sabe bem por quem, mas certamente de acordo com as suas conveniências.
E para não molestar ninguém, há que tratar os assuntos “ao de leve”, com pouco
ou nenhum rigor porque o que mais vende é o sensacionalismo.
Segundo
um conhecido tablóide britânico, que passo a citar, “Uma menina de cinco anos
sofreu ferimentos "significativos" no rosto depois de ter sido
atacada por um cão no lado de fora de uma loja de conveniência no condado de
Durham. Ela foi levada ao hospital para tratamento, enquanto o cão que a espancou
foi apreendido, de acordo com a polícia de Cleveland. O incidente aconteceu
perto de uma loja da Nisa em Norton, Stockton-on-Tees, por volta das 18h30 de
sábado. A polícia disse que o dono do cão permaneceu no local do ataque e
cooperou com os polícias. Um porta-voz daquela força acrescentou: “A polícia
compareceu no local minutos após ser chamada e que prestou assistência médica à
menina enquanto aguardava pela ambulância. A menina sofreu ferimentos graves no
rosto e está a receber tratamento no hospital. ‘Pedimos educadamente às pessoas
que não publiquem fotos relacionadas com o incidente e evitem especular nas
redes sociais enquanto a policía continua com a investigação’ ”. Sem outros
detalhes ou considerações, o mesmo tablóide avança depois com o alarmante
número dos ataques caninos ocorridos nos últimos anos no Reino Unido, atribuindo
sorrateiramente para o mui fustigado Covid-19 grande parte da responsabilidade.
Pela notícia acima, o cão acabou por
ser o “mau da fita”, não se atribuindo a mais ninguém qualquer responsabilidade
pelo incidente (que obviamente todos lamentamos) como se a menina proviesse de
geração espontânea e pudesse responder por si, caindo ali o cão de pára-quedas unicamente
para a morder! O que estava ali o cão a fazer? Esperaria o dono que se
encontrava dentro da loja ou andaria em passeio? Calcula-se que seja um cão
pequeno, porque doutro modo o seu tamanho mereceria especial destaque. E como
teria a menina ido parar à porta daquela loja? Teria decidido apanhar um táxi?
Estaria sozinha ou alguém lhe deu permissão para abordar o cão? Teria molestado
o animal? A resposta a estas perguntas poderá isentar o cão de maiores
responsabilidades sobre o incidente ou dividi-las com mais alguém, porque uma
criança de 5 anos de idade ainda não tem o senso de responsabilidade que lhe permite
salvaguardar-se, estaremos perante mais um caso de negligência parental? A
investigação policial em curso logo dirá que sim ou que não!
PS: Se nas notícias de interesse geral o rigor é por vezes pouco, imagine-se nas relativas aos animais, secção que se entregará facilmente a qualquer estagiário sem conhecimento de causa, apesar da sua opinião poder contribuir decisivamente para o abate de um ou mais animais. Por outro lado, desimagine-se aquele que pensa que a censura acabou, ela apenas mudou de mãos, transitou dos políticos para os tecnocratas e estes tentam agora singrar na política – não nos faltam Carles Puigdemont!
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