Sejamos
sinceros, a igreja católica já se encontrava moribunda antes da denúncia dos
escândalos sexuais perpetrados pelo seu clero, quiçá por ter posto a palavra
dos concílios em pé de igualdade com a de Deus ou por ter cavado um profundo
fosso entre a sua hierarquia e os seus seguidores, talvez também por causa do
aumento das sociedades laicas e pela inadequação da sua mensagem para os
jovens, muitos deles já filhos de pais descrentes ou há muito afastados da
igreja romana, sequelas de uma visão eclesial mais ritual do que
cristocêntrica. Diante deste panorama, a igreja romana foi obrigada a mexer-se
e continua a fazê-lo através das Jornadas Mundiais da Juventude, obra do papa polaco
Karol Józef Wojtyła (1920-2005) que para o seu pontificado escolheu o nome de
João Paulo II, quiçá um dos grandes obreiros da queda da União Soviética ou
quem lhe deu o golpe de misericórdia.
A
escolha de Portugal como sede para actual Jornada Mundial da Juventude é antes
de tudo político-estratégica, porque em termos de doutrina é vaga e nada trouxe
de novo. O seu lema, escolhido pelo próprio Papa «Maria levantou-se e partiu
apressadamente» (Lucas 1, 39) é exemplo disso e não esconde o seu
principal objectivo ao denunciar em simultâneo as suas estratégias. Quando é
perguntado aos jovens participantes nas Jornadas o que os fez vir a Lisboa, a
resposta é quase sempre a mesma: “ Venho ver o Papa e conhecer outros jovens de
lugares e culturas diferentes”. Mas terá vindo o Papa só para conhecer jovens
de lugares e culturas diferentes? A quem darão as Jornadas maior visibilidade?
Os políticos envolvidos dizem que é para Portugal, mas será?
Um
acontecimento destes num país que nunca realizou uns jogos olímpicos e que tem
apenas 11 milhões de habitantes irá captar obrigatoriamente as atenções de
todos os canais televisivos, carregando o Papa e a igreja católica para dentro
dos lares de todos, mesmo daqueles que dificilmente poriam os pés nas igrejas –
as Jornadas servem em primeiro lugar para divulgar a igreja romana e transmitir
as suas mensagens com o dinheiro dos contribuintes, como ela historicamente
sempre fez, mostrando nisso uma habilidade quase sobrenatural que remonta a
época do imperador romano Constantino. E se porventura este catequisar imposto
puder surtir efeito, certamente será em Portugal, considerando o seu passado
católico e a sua vocação ultramarina, que não deu só “novos mundos ao Mundo”,
mas que criou novas culturas e que optou por necessidade pela miscigenação,
aproximando dessa forma os povos uns dos outros, transmitindo-lhes em simultâneo
um catolicismo misturado com o misticismo de cada lugar.
Se
o objectivo imediato das Jornadas é difundir a mensagem católica pelo mundo,
este obedece a um outro mais amplo e a médio prazo – à reconversão católica da
Europa e do Mundo através dos jovens – e finalmente a outro a longo prazo que aponta
para o repovoamento das igrejas romanas, uma vez que o futuro pertence aos
jovens. Contudo, as famílias das nações mais prósperas têm poucos filhos e eles
superabundam nas mais pobres, pelo que essa reconversão só será possível
através de jovens vindos do exterior como é o caso dos imigrantes, que ainda
crêem no papismo e de quem o Papa nunca se esquece nas suas prédicas e orações.
Consciente desta necessidade, o Vaticano não pode desprezar a importância
estratégica de Portugal e da língua portuguesa, enquanto pilares seguros para a
aceitação de todos os povos, nomeadamente dos seus jovens. Estou convencido, e
não estou acossado por nenhuma febre nacionalista ao dizê-lo, que a esmagadora
maioria dos jovens que vieram até Lisboa nunca esperou ser tão bem recebida
pelos portugueses, confessando muitos que se sentiram como na sua própria casa.
E se em termos de importância missionária não se deverão desprezar os
portugueses, muito menos deverá a igreja católica fazê-lo com os brasileiros,
para quem este Papa parece ter chegado atrasado diante da proliferação e
importância das ditas “igrejas evangélicas” no Brasil.
Se por acaso houvesse uma citação bíblica que dissesse que Maria dançava, logo este Papa diria: “Dancemos todos com ela!” No meio desta pândega, Cristo fica para depois, quiçá para nunca!
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