Os
cuidados hoje dedicados aos cães acabam por ser razão de escândalo para muitos,
porque no seu ver acabam por ultrapassar os necessários aos humanos, entendendo
isso como uma loucura resultante de uma insana sobreposição de valores. Estarão
os amantes de cães errados ou faltará iniciativa aos homens para se valerem
mutuamente? Penso que estamos a atravessar o segundo caso, porque ser solidário
não é amar o outro e a solidariedade só costuma despontar em casos extremos, muitas
vezes de acordo com as conveniências de cada um. Em Portugal, espera-se dos
sucessivos governos, devido à carga tributária que sobre todos se abate, quase
tudo, quando na verdade não conseguem suportar aquilo que é sua obrigação, como
são os casos da saúde, educação e segurança, que uma vez postos em causa,
comprometem a nossa própria soberania. Soberania que outros nos garantiram
através da nossa participação na I Guerra Mundial e que espero não necessitar agora
do sangue dos nossos marinheiros na desminagem dos portos ucranianos.
Como
é do conhecimento geral, há falta em Portugal e no mundo de unidades de
cuidados paliativos e tenta-se colmatar essa vergonhosa brecha com o apelo aos
cuidadores informais, que a troco de migalhas são incentivados a fazê-lo. Na
aldeia francesa de Bénéauville, em Bavent, na região administrativa da Normandia
e Departamento de Calvados, há 20 anos que existe uma associação – “LA BUISSONNIÈRE” –
que ali mantém uma casa de repouso para cães e onde são objecto dos cuidados
paliativos necessários, obra de Françoise Saura, uma secretária comercial
aposentada que já leva 40 anos ao serviço da protecção animal, incluindo 15 de
voluntariado na Sociedade Protectora de Animais de Cabourg antes de formar a
sua própria associação que conta hoje com 70 membros. Os 18 cães ali alojados encontram-se
divididos em dois recintos e todos têm uma box individual para descansar e
pernoitar, todos os cuidados são-lhes dispensados, inclusive a administração de
medicamentos tanto de manhã como à noite, o que obriga Françoise Saura a 15
horas de trabalho diário (das 07h00 às 22h00).
Ficaria igualmente contente se bem perto de mim surgisse uma associação de filhos e netos que levasse a cabo uma unidade de cuidados paliativos para os seus pais e avós e que outros mais seguissem o seu exemplo, pois o governo não tem como e as Misericórdias fazem o que podem. Sem querer ferir as susceptibilidades de ninguém, pergunto: o que gastamos com os animais de estimação não seria melhor aplicado nos idosos dependentes, nos nossos e nos outros? A preocupação como nosso bem-estar não deverá levar-nos a ignorar o mal-estar dos outros!
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