quarta-feira, 3 de agosto de 2022

UMA LOUVÁVEL FORMAÇÃO

 

Ontem, quarta-feira, dia 2 de agosto, pela manhã, nas instalações base de entrega postal de Friedrich-Karl-Strasse na cidade alemã de Oberhausen, dois cães pastores mostraram-se prontos e alegres para o seu próximo trabalho, rodeados por um montão de caixas de correi amarelas. Juntamente com os seus treinadores, eles ensinaram a 10 estagiários do Deutsche Post (correios) como deverão lidar futuramente com cães na hora de entregarem a correspondência, com o objectivo de reduzir os ataques caninos sobre os funcionários dos correios. Pela manhã foram dados os fundamentos teóricos para que os estagiários entendessem correctamente a linguagem corporal dos cães e a partir do meio-dia passou à prática. A entrega de um pacote numa cerca de jardim é simulada, um estagiário do primeiro ano de formação avança incerto em direcção ao cão a ladrar e coloca o pacote à distância, o que merece os elogios de um dos treinadores caninos presentes na formação.

Todos os anos, so funcionários dos correios alemães são mordidos por cerca de quase 2.000 cães e cerca de 1.000 ataques no ano transacto resultaram em ferimentos tão graves que os funcionários postais ficaram incapazes de trabalhar durante alguns dias. Convém relembrar que nestes casos, para além das lesões físicas, importa considerar os efeitos psicológicos, uma vez que os encontros perigosos com cães podem afectar diariamente o desempenho dos carteiros e prolongar-se por tempo indeterminado. Há alguns casos, poucos, em que os carteiros abandonam a profissão. Também em Oberhausen, os carteiros são repetidamente atacados por cães agressivos, e é por isso que a familiarização com cães é parte integrante do programa de treino do Deutsche Post desde 2017. O adestrador de cães Pfaff, presente naquela formação, disse que dá cerca de 30 a 40 cursos por ano e que fala sobre os erros mais comuns ao lidar com cães.

Este mesmo formador alerta para o perigo de se dar guloseimas aos cães quando se está com medo deles, porque os animais poderão reagir negativamente e atacar os seus engodadores, adiantando que nenhum carteiro é obrigado a entregar uma encomenda debaixo de perigo, que é melhor anotar o número da residência onde se sentiu por demais ameaçado, não fazer a entrega e informar o seu chefe de serviço. Outro erro bastante comum ali, disse o mesmo Pfaff, por cá faz-se o mesmo, é o de deixar o cão cheirar a mão, o que poderá instigar o animal ao ataque. Sempre será melhor ignorar o cão ou manter a distância. E caso não haja hipótese de escapar ao ataque de um cão, o melhor que há a fazer é usar a encomenda para evitar as dentadas, segurando-a na frente do corpo (estou a citar, eu ensino outras técnicas mais eficazes e os meus alunos têm conhecimento e experiência disso).

Durante quase uma hora os dois binómios formativos recriaram as mais diversas situações com cães no quotidiano dos carteiros. E como importava que os estagiários conseguissem controlar o seu medo, eles receberam um churro em forma de almofada com duas pegas, devendo ficar firmes e de pé enquanto os cães atacavam aquele potenciador de mordedura, vindos de uma distância de 5 metros (pouco embalados). Este exercício prestou-se também à supressão de traumas, como o acontecido com Julian Zimmer, que está no segundo ano do estágio e que foi mordido severamente por um cão quando pretendia mandar um pacote por cima da cerca de um jardim. Com tudo o que aprendeu na formação, sente-se agora mais seguro e preparado para situações semelhantes. Dele são as palavras: ”Futuramente lembrar-me-ei de segurar a encomenda na minha frente como protecção em caso de ataque.” Por que razão não têm os nossos carteiros uma formação semelhante? Valerão porventura menos que os seus congéneres alemães ou estaremos à espera que algum seja mutilado ou morra? Isto de viver para cá dos Pirinéus só é bom para o turismo! Quem me dera que os Alpes pegassem com o Planalto Transmontano!

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