Sem
querer ser alarmista, reparo que as nossas sociedades estão cada vez mais
violentas, porque os grupos etários mais frágeis (crianças e idosos) nunca
foram tão impiedosamente desrespeitados, violentados, surrados e surripiados
como se as leis não existissem e o crime sempre compensasse. Debaixo deste
sentimento generalizado de insegurança, cada um defende-se como pode e à socapa
arma-se do que tiver à mão para se defender a si próprio e aos seus. A relação
afectuosa entre o homem e o seu cão é tão profunda que ambos poderão morrer a
defender o outro, ainda mais agora, que os cães são considerados como filhos
por consenso popular, não sendo por isso de estranhar sucederem acaloradas
discussões e aguerridas liças entre proprietários caninos em tudo iguais aos ancestrais
duelos, muito embora combatam com armas desiguais e quando necessário à
traição. A maioria destes desacatos, que podem ter graves consequências,
acontece quando alguém deliberadamente solta o seu cão e acaba por importunar ou
agredir o cão de outrem, que normalmente não acha graça nenhuma e que tanto
pode ferir gravemente o cão como agredir violentamente o seu dono.
Segundo
fez saber Svenia Temmen, da esquadra da polícia de Leer/Emden, no município
alemão de Rhauderfehn, no distrito de Leer, na Baixa Saxónia, na passada
sexta-feira pela manhã, um homem de 66 anos, quando empreendia uma caminhada
matinal com o seu Labrador, cruzou-se com outro homem que se fazia acompanhar
por dois cães. Ao avistá-los, segurou o seu cão até perdê-los de vista,
soltando o Labrador novamente. Como seria de esperar, ainda que o seu dono não
o imaginasse, o Labrador correu à procura dos outros dois cães. Ao ver tal, o
homem correu imediatamente atrás do animal e chamou-o, retornando este a
sangrar abundantemente do pescoço e da boca.
De
acordo com a mesma porta-voz da polícia local, o Labrador já não conseguiu
regressar a casa, morrendo pouco tempo depois. O dono dos outros cães, homem de
69 anos residente em Rhauderfehn, confessou ter combatido com um canivete para
se proteger a si e aos seus cães do ataque do Labrador, esfaqueando-o só uma
vez segundo reza o seu depoimento. Por sua vez, o dono do cão esfaqueado
mortalmente disse à polícia que não ouviu o seu cão ladrar ou rosnar, qualquer
sinal que sugerisse um ataque. A polícia procura agora esclarecer o que se
passou naquela manhã de sexta-feira. O cão esfaqueado vai ser autopsiado para
ajudar a esclarecer o ocorrido. Como sempre, a polícia iniciou investigações
sobre a violação da Lei do Bem-Estar Animal e procura agora testemunhas do
incidente.
Quer goste ou não, a lei portuguesa só permite cães soltos com açaime posto, sejam eles grandes ou pequenos, muito embora todos saibamos que são muito poucos os donos que a respeitam. De qualquer modo, soltar o seu cão sem o ter ensinado e sociabilizado é de uma insanidade e irresponsabilidade de bradar aos céus, porque tanto poderá perder o animal como causar vítimas e sofrer as mais variadas consequências, imediatas ou a posteriori. A lei a este respeito e que sobre todos é soberana não se coaduna com cães não-sociabilizados ou por sociabilizar, seja com pessoas, com cães ou com outros animais. Quando soltar o seu cão e não o tiver controlado e sociabilizado, lembre-se do fim que teve o Labrador de Rhauderfehn, porque disparates destes não acontecem só na Baixa Saxónia. Tristemente, diga-se, esfaquear parece estar agora na moda em Portugal.
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