Noyen-sur-Sarthe
é uma pequena localidade francesa na região administrativa do País do Loire e
no departamento de Sarthe, que no censo de 2010 tinha apena 2 657
habitantes, com uma densidade populacional de 61 habitantes por Km2. Ali, no
Sábado passado, dia 20 de agosto, três cães atacaram e morderam uma adolescente
de 15 anos e o homem que correu em seu socorro. Devido ao estado grave em que
ficou, a jovem teve que ser transportada para um hospital, onde foi sujeita a
uma intervenção cirúrgica na noite de sábado para domingo. Logo após o
incidente, o proprietário dos cães foi preso pela Gendarmerie, vindo a ser
solto no dia seguinte, domingo, conforme anunciou anteontem aquele corpo
policial, muito embora as investigações continuem em andamento. Jean-Louis
Morice, prefeito de Noyen-sur-Sarthe, que tem estado em contacto com o seu homólogo
de Sarthe, pede que os cães sejam abatidos, uns American Bully que já haviam
mordido antes e de quem os residentes do local têm medo. Como consequência do
historial e do acontecido, as vítimas dos cães irão apresentar queixa.
Perguntarão
os meus leitores como é possível que uma raça que é descrita pelos seus
criadores como feliz, extrovertida, estável e confiante, para além de gentil e
amorosa com as pessoas, possa produzir cães assim tão malvados? Reflectirão
estes cães o mau-feitio do dono ou obedecerão cegamente aos seus nefastos
propósitos, como tantas vezes ouvimos por aí? Que se desencantem os aldrabões,
os milagreiros, os profetas da desgraça e os fatalistas, porque em matéria de
ataques caninos, quando não são resultantes de pânico, o que manda mais é a genética
e muito pouco o peso ambiental, porque se o cão não nascer com os impulsos
herdados para isso, por mais fracos que sejam, jamais um homem transformará um
cão manso num bravo. Também aqui não é possível fazer omeletes sem ovos, muito
embora o recurso a substâncias alucinogénias ou psicotrópicas possa de maneira
descontrolada solicitar agressividade aos cães, que devido às suas
contra-indicações, espasmos e convulsões, cedo condenarão a saúde e longevidade
do animais, como tem vindo a acontecer nos conflitos a partir da II Guerra
Mundial, onde a procura do super-cão sucedeu à do super-soldado, isto depois
dos cães terem servido de cobaias para os homens.
A agressividade canina, que através da
selecção natural não atinge grandes exageros e tende quase a desaparecer, é
levada a extremos e neles se estabelece pela cuidada e rigorosa selecção humana,
que não dispensa a tão procurada certificação empírica. Mesmo assim, porque
estamos a falar de indivíduos pertencentes a raças com apenas duzentos anos de
existência (algumas nem isso), surgimento muito anterior à descoberta do ADN,
podem aparecer nas ninhadas cachorros com um comportamento diametralmente oposto
ao dos seus irmãos de ninhada, de acordo com as diferentes potenciações dos
seus impulsos herdados. Assim se compreende também porque há American Bullies
que são uns verdadeiros anjinhos e outros que são uns autênticos demónios, como
os de Noyen-sur-Sarthe, uma vez que o pai do American Bully é o Pit Bull. Com
isto não estou a incriminar ou a inocentar o dono destes cães, que poderiam ou
não ser aproveitados e instigados para serem anti-sociais. De qualquer modo, enquanto
adestrador, não alinho a minha opinião com a dos autarcas e vítimas de Noyen-sur-Sarthe,
preferindo que os animais fossem primeiro castrados e depois reeducados, o que
tornaria mais fácil e segura a sua reeducação. No meu entender, todo o processo
pedagógico dos Bullies deveria ser pago pelo seu dono por tê-los fora de
controlo, o que não o livraria de responder por outros encargos e obrigações
legais. Sou contra o abate de cães porque eles não se fizeram a si mesmos e não
conseguem auto educar-se – continuam animais – o que não me impede ser
solidário com as vitimas de Noyen-sur Sarthe.
PS: Se porventura se apaixonar por uma raça particular de cães (seja ela considerada perigosa ou não), não saiba muito acerca dela e desconheça como escolher o cão que pretende, o melhor que tem a fazer é procurar alguém conhecedor que o possa ajudar na escolha certa.
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