segunda-feira, 1 de agosto de 2022

OS AUTISTAS E OS CÃES

 

Na cidade norte-americana de Greenfield, no condado de Hancock, no Estado de Indiana, reina um estado de alerta num bairro central após uma série de ataques caninos. Stevens Court, assim se chama o bairro, já havia sido objecto de notícia no mês de junho deste ano, quando dois cães atacaram violentamente um carteiro. Desde então, já aconteceram ali pelo menos três ataques envolvendo cães, todos numa pequena rua que termina num beco sem saída, num bairro a nordeste da Greenfield-Central High School: dois carteiros e um menino de 12 anos. Os dois cães suspeitos dos ataques foram levados para o Departamento de Gestão de Animais do Condado de Greenfield/Hancock. Mais tarde, alguém invadiu aquela instalação e levou os cães! Como os cães estão desaparecidos, o Serviço Postal dos EUA decidiu suspender a entrega de correspondência naquela rua. O menino de 12 anos, que é autista, foi atacado enquanto caminhava e sofreu algumas dentadas num joelho, não sendo mais ferido graças à rápida intervenção de alguém.

Esta lamentável notícia releva o cuidado a haver no contacto entre crianças autistas e cães, que tende a não ser pacífico devido à natureza dos cães e ao comportamento de algumas destas crianças. A esmagadora maioria dos cães que se cruzam connosco nas ruas não está preparada para lidar com autistas, reagindo negativamente contra algumas das suas manifestações bruscas, espontâneas e intempestivas, que poderão ser entendidas pelos cães como uma provocação, uma ameaça ou um convite para a captura, razões suficientes só por si para despoletarem um ataque inusitado. É evidente que os cães poderão ajudar e muito as crianças autistas, mas muito poucos se prestam para isso e carecem de treino aturado, com exigências superiores às exigidas aos comuns cães de terapia e de serviço. Ajudar a sintonizar uma criança altista com o mundo ao seu redor exige um cão muito especial, com um equilíbrio de impulsos herdados particular, seguro e portador de uma docilidade extrema.

Assim, alertam-se os pais destas crianças para o contacto delas com cães desconhecidos nos jardins e demais espaços públicos, que não deverá ser arbitrário e obedecer a todas as cadelas, devendo sempre os pais acompanhá-las nessas abordagens no intuito de precavê-las e protegê-las de uma eventual má experiência ou experiência traumática. Uma criança autista a brincar no meio de outras poderá passar-nos desapercebida, mas dificilmente escapará à observação de um cão, que continua um predador e que pode não morrer de amores por ela. Num país onde a lei obriga todos os cães a andar à trela ou açaimados e ninguém cumpre, a possibilidade da ocorrência de incidentes destes é muito elevada. Proteja o seu filho, afaste-o dos cães desconhecidos e eu não o deixe interagir com estes animais sem se fazer presente.

Ainda que o contacto com diferentes animais possa fazer parte da evolução social ou da inclusão de uma criança autista, há que iniciar preferencialmente esse contacto com animais não-predadores, naturalmente mais dóceis e pouco dados a atitude extremadas e agressivas. Penso que neste sentido as quintas pedagógicas são de grande interesse para as crianças em geral e em particular para as autistas, porque ali  podem tomar contacto com os diferentes animais debaixo de maior segurança e sem o perigo de verem aumentados os seus medos.

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