Nunca
houve tanta gente a falar de cães e a saber tão pouco acerca deles como agora,
sobressaindo uma legião de esbirros, que debaixo do mais puro sentimento
inquisitorial e embebida de “solene” missão, passa vida a espreitar os cães
alheios e a denunciar os seus donos debaixo de pretensos maus-tratos sobre os
animais, quando na verdade é movida pelo gosto de chatear, por desequilíbrios
emocionais de vária ordem, velhas quezílias com os proprietários de animais e dominada
por sentimentos negativos dos quais não se pode excluir a inveja. Há ainda quem
se dedique a estas denúncias por falta de outra ocupação, laborando assim para
ultrapassar a sua passagem delével nas comunidades e na sociedade. Por falta de
fundamento, a maioria das suas queixas acaba em nada, mas não deixa de
aborrecer os visados. Não, não é verdade que a Inquisição em Portugal tenha
acabado no dia 31 de março de 1821, os processos do Tribunal do Santo Ofício
foram nesta matéria reimplantados, desta vez não foram por um tribunal
clerical, mas em conformidade com a ignorância e a crendice populares, que
outrora tanto contribuíram com o fornecimento de vítimas para os “Autos de Fé”.
Se a ignorância relativa aos cães só grassasse em Portugal viveríamos
certamente num mundo melhor, mas não, ela é uma verdadeira pandemia que polui
impiedosamente e sufoca todo o planeta, traindo os homens ao presidir aos seus
instintos, como sucedeu com um indivíduo na cidade alemã de Altenburg, na
Turíngia.
Ali,
na noite da passada sexta-feira, dia 05 de agosto, ao intervir numa briga entre
dois cães que se encontravam amarrados no estacionamento de um supermercado, um
homem de 38 anos de idade acabou por ver um dos seus polegares decepado e foi
transportado para um hospital, conforme fez saber a polícia da cidade.
Separar dois cães em assanhado conflito não é tarefa fácil, exige conhecimento, rapidez e sangue frio para não agravar as feridas dos animais e proteger quem os pretende separar. Primeiro há que ver qual dos cães está a infligir a dentada mais perigosa, susceptível de causar maior dolo ou até a própria morte do outro cão (na foto acima é o cão que se encontra por baixo a tentar agarrar o pescoço do seu opositor), sendo este o animal a desarmar, não sem antes segurar o outro cão para que no meio da confusão, ao ver-se livre, não venha a morder a quem intenta separá-los. Diferentes raças e diferentes indivíduos caninos carecem de diferentes processos para cessar em segurança as suas dentadas, porque o que é eficaz para um poderá não ser para outro. Por causa do bem-estar dos cães e do perigo envolvido nestas acções, quando tal acontecer dentro do espaço escolar ou numa acção exterior da escola, caberá ao adestrador proceder à separação dos animais em conflito, já que a princípio será a pessoa mais habilitada para fazê-lo. Entre nós sempre foi assim, mas sabemos que outros “adestradores” procedem de modo diverso, esperando que outros o façam ou que os cães se entendem, o que no primeiro caso é arriscado e que no segundo poderá ser criminoso. Não se pode dissociar a separação dos cães do seu próprio bem-estar, o que certamente não acontecerá quando com os adestradores suspendem os cães no ar ou penduram-nos pelos testículos, quando agridem ao pontapé e à mocada os pobres animais, por vezes assessorados por outros que lhes descarregam, “a torto e a direito”, com o que tiverem à mão ou segundo o conselho da sua maldade. Diz-se que para tudo na vida é preciso ter sorte, mas para se ser cão é precisa ainda mais!
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