Se
eu no adestramento não conseguir sair do âmbito da memória mecânica canina,
estou a estupidificar o meu cão e a admitir a minha falência enquanto comunicador
e líder, por desprezar a afeição que tudo torna possível em proveito da
mecanicidade das acções que é inibidora da sua concentração, alegria e celeridade,
condenando inevitavelmente o animal ao subaproveitamento. A capacidade de concentração
de um cão é primeiro genética, advinda do impulso herdado ao conhecimento, mas
pode vir a ser aumentada mediante o aproveitamento dos seus ciclos de
crescimento de maior plasticidade anatómica, porque o desenvolvimento físico é
acompanhado pelo cognitivo. Contudo, nunca é demais dizer-se, a concentração de
um cão é reflexo do seu bem-estar e não de escusadas tensões que desconsideram a
riqueza do seu particular individual em função de um parco rendimento padronizado
e previamente procurado.
Em termos de concentração, porque estamos a tratar de indivíduos, a sua duração varia de cão para cão e está directamente ligada aos equilíbrios e desequilíbrios fornecidos pelos principais impulsos herdados (ao alimento; ao movimento; à defesa; à luta; ao poder e ao conhecimento), bem como ao carácter de cada um e ao seu modo de reagir e de suportar o stress. Assim, há cães cuja capacidade de concentração é muito curta e que depois dela teimam em evadir-se, a abraçar a letargia ou a enveredar pela revolta, podendo alguns não se escusar à agressão, manifestações que esclarecem qual o grau de dominância ou de submissão destes indivíduos. Estimular o aumento da concentração de um cachorro sempre será mais fácil do que fazê-lo num cão adulto. Porém, é possível aumentar o tempo de concentração de um cão adulto através de momentos lúdicos e de supercompensação capazes de melhorar a sua inserção social e por inerência a cumplicidade binomial. Sabemos que cães especiais exigem donos especiais, o que nem sempre acontece, pelo que importa “casar” o dono com o cão, pois só o acerto ambiental poderá diminuir a propensão genética pela experiência feliz, uma vez que os cães não distinguem claramente a ficção da realidade. Mais importante que obrigar um cão a saltar um obstáculo é compreender as suas dificuldades, suavizá-las e fazê-lo gostar daquele obstáculo. O que é válido para a ginástica é-o também para a obediência.
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