terça-feira, 5 de maio de 2020

SUA MAJESTADE O VIZSLA

Ancestral do agora muito visto Weimaraner, o Vizsla, também conhecido como “Pointer Húngaro”, é um braco médio vermelho usado desde há muito como cão de aponte e retriever, o que faz dele um especialista nesses serviços, apesar de ser cada vez menos usado para caçar e gradualmente mais requisitado como cão de companhia, pese embora o facto, comum a todos os cães caçadores, de requerer bastante exercício diário. O Vizsla foi ao longo dos séculos um companheiro activo de nobres e senhores da guerra nas suas caçadas, caçando por vezes em parceria com falcões, mostrando-se extraordinariamente apto na captura de aves e de lebres.
Durante a I Guerra Mundial foi usado como cão mensageiro e na Segunda quase desapareceu, vítima dos extensivos estragos ocorridos neste conflito. Apesar de não ser uma raça muito procurada (nunca ocupou o TOP 10 de nenhum Kennel Club fora da Hungria), este braco mostra grande versatilidade em matéria laboral, podendo ser usado como cão de salvamento em áreas urbanas sinistradas.
Do ponto de vista psicológico estamos perante um “cão velcro”, apelido que ganhou por ser um animal muito ligado ao dono ou de necessitar sempre da companhia de alguém, o que tanto pode ser uma vantagem como uma desvantagem. Será uma vantagem se conseguirmos que os animais se acostumem a ficar sós sem contudo perderem os fortes laços afectivos que nutrem pelos donos; será uma desvantagem se não conseguirem ficar sós, o que será terrível para os proprietários dos cães menos seguros e das cadelas, que terão que suportar a ansiedade da separação e um conjunto de taras à ela associadas como destruição e autoflagelação.
Como se depreende estamos perante um cão dócil, afectuoso, muito confiável, leal, também protector, brincalhão, ágil e atleta, para além de ser bonito, expressivo, saudável e muito asseado, um dos ideais para a constituição binomial e para acompanhar crianças. Apesar de ainda carregar parte da carga instintiva herdada dos seus ancestrais, o Vizsla é um cão fácil de ensinar, apto para interagir e com grande capacidade de aprendizagem, que acusa em demasia a advertência e que tudo faz mediante o reforço positivo. Por outro lado, por ser um cão de grande disponibilidade, sente-se a gosto e pode praticar várias modalidades desportivas caninas. Como cão de caça que é, o Vizsla pode vir a necessitar de sociabilização precoce, subsistindo na raça indivíduos teimosos, excitáveis e tímidos, assim como óptimos guardiões (é preciso saber escolher).
Do ponto de vista biomecânico, ao Vizsla só lhe falta voar, porque foi feito para trabalhar no campo, na floresta e dentro de água, sendo um excelente animal anfíbio. Cão ligeiramente rectangular, de linha dorsal paralela ao solo, focinho proporcional ao crânio, pescoço moderadamente longo e convexo, bem aprumado, de garupa arredondada e com média angulação traseira, o Vizla para além de ser inaudível em passo de andadura, consegue desenvolver a marcha até à sua suspensão, transita facilmente de andamentos e consegue fazê-lo de cabeça baixa, inclusive com ela abaixo da linha do dorso. É resistente e ágil, muscula facilmente e bate com rapidez qualquer território, sendo capaz de acompanhar em marcha outros cães a galope, o que lhe possibilita trabalhar por mais tempo se a sua autonomia concionada o permitir.
Atleticamente falando, quando saudável, o Vizsla não tem contra-indicações, muito embora acuse em demasia o frio, pormenor que diante do seu bem-estar obrigará ao início do treino no verão para que se vá adaptando gradualmente às estações mais frias. No resto, dá-nos todas as garantias exigíveis a cães com a sua e envergadura – dos 53 aos 61 cm e dos 20 aos 30 kg. Devido ao seu nível de energia, à sua necessidade de exercício e potencial de diversão, os Vizslas precisam de comer em qualidade e quantidade. Apesar da maioria dos exemplares desta raça gozar de boa saúde e ter uma esperança média de vida superior aos 12 anos, 5 doenças, quando não despistadas, podem afectar alguns indivíduos, são elas: epilepsia; displasia coxo-femoral; hipotireoidismo; linfossarcoma e Atrofia Progressiva da Retina.
Ousar treinar um Vizsla nas disciplinas clássicas convencionais (Obediência, Pistagem e Guarda, derivando daí para as diversas especialidades de salvamento), sem o concurso da actividade cinegética, é uma viagem quase mítica que nos transporta ao riquíssimo mundo dos bracos e que nos fará entender melhor cada um deles no que têm de igual e diferente. Parabéns se tem um Vizsla – fez uma excelente escolha!    

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