São muitos os donos que
gostam de levar beijos dos seus cães e muito poucos os que inspeccionam
regularmente a boca dos animais, apesar da Deutsche Gesellschaft für
Tierzahnmedizin – DGT – (Sociedade Alemã de Odontologia Animal), aconselhar a
lavagem dos dentes aos cães regularmente, como prevenção contra o tártaro,
gengivite e periodontite. Eu bem sei que os cães resistem à lavagem ao
princípio, por ser-lhes invasivo e incómodo, vendo-a inclusive como uma
intrusão na sua privacidade, mas com persistência, paciência e recompensa, a
higiene bocal dos cães acabará por ser-lhes tão natural quando a sua escovagem
diária (fala a experiência).
Mesmo que não se atreva a
abrir-lhe a boca para lhe escovar os dentes (há quem por medo fuja disso “como
o diabo da cruz”), convém encher-se de coragem e abrir a boca do seu cão logo
após a escovagem diária, particularmente no Verão e perante cães que adoram
caçar (comer) moscas e outros insectos, mau-hábito que convém eliminar diante
do bem-estar e saúde dos animais. Para que melhor se entenda o que acabo por
dizer, cito aqui o exemplo do meu cão, que de tão teimoso que é, apesar de
advertido e de passar 3 dias por semana com o focinho inchado, não desiste de caçar moscas, abelhas, vespas e besouros, apesar de desconfiar e de não comer qualquer
“petisco” inesperado ou algum que lhe queiram dar. Estou a ver que, por causa
das vespas, ainda vou ter que meter-lhe uma rede a cobrir-lhe a cabeça e prendê-la
à coleira!
Introduzidas primeiro nos
Estados Unidos e depois na Europa no final do Séc.XX, para controlo biológico
de pragas, as Joaninhas Asiáticas (Harmonia Axyridis), que existem numa grande
variedade de cores (foto seguinte), têm-se multiplicado abundantemente em
muitos lugares e teme-se agora que venham a substituir as espécies nativas de
joaninhas americanas e europeias. Particularmente no Outono, a sua presença é
amplamente notada, porque se erguem massivamente no ar e povoam as paredes das
casas e de outros lugares aquecidos pelos últimos raios de sol. Quando se
sentem ameaçadas segregam um líquido amarelo-alaranjado (hemolinfa) que cheira
mal e que raramente causa uma reacção alérgica.
Estes pequenos besouros
quando se agarram ao palato dos cães causam muita dor (ver foto seguinte),
muito embora até à presente data só tenha acontecido um caso devidamente
documentado em 10 anos, raridade que possivelmente se deve ao líquido fedorento
e amargo que segregam, que não é nada atraente para predadores e muito menos
será para os nossos cães, não correndo estes o risco de uma infestação fácil.
Caso os nossos leitores se interessem pelo único relato até agora existente de
uma infestação por Harmonia Axyridis num cão, carreguem por favor em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0041010108003395.
Nós, as nossas famílias e os nossos cães,
devido à globalização e à grande movimentação de pessoas, animais e de
mercadorias que origina, estamos cada vez mais à mercê de animais, pragas e
vírus de toda a espécie, para os quais não temos defesa imediata e que inesperadamente
se propagam à escala planetária. E não preciso de me referir ao Covid-19,
bastam-me as vespas asiáticas que matam as nossas abelhas e outras tantas
pragas que têm vindo a assolar a nossa agricultura e a causar graves prejuízos.
Perante os inimigos que já tinham, os que agora chegam e os que hão-de vir, os
nossos cães precisam de ser protegidos e uma das medidas preventivas para
evitar o pior, é abrir-lhes a boca para ver se está tudo bem. Caberá aos
veterinários ensinar os donos dos seus pacientes a abrir-lhes a boca, cabendo a
mesma tarefa aos adestradores como parte da pedagogia e profilaxia a ministrar.
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