Como é sabido, há muito
poucas pistas tácticas nos centros de adestramento canino em Portugal e até as
militares, de tanto serem desprezadas, servem agora de toca para coelhos e de jardim
para os melros que ali procuram minhocas. A inexistência ou desprezo pelas
pistas tácticas acaba por prejudicar cães e donos, porque os primeiros saem mal
apetrechados e os últimos andaram a gastar dinheiro não se sabe bem para quê.
Há muito que mantenho uma liça com um grupo de caçadores em particular, o mesmo
que não prepara fisicamente os seus cães durante o defeso, havendo alguns que
chegam a pensar que o exercício rouba o instinto de caça aos animais!? Por
causa da ignorância dos donos, que em parte se deve ao peso cultural, muitos
cães familiares acabam por morrer ao não saberem desenvencilhar-se. Melhor
sorte não têm os cães caçadores, que invariavelmente acabam presos em
armadilhas naturais, deixados para trás, dados como perdidos ou declarados
mortos ainda antes de fecharem os olhos.
O objectivo principal do
adestramento canino, que muito gente despreza ou troca por um conjunto de macacadas,
é a salvaguarda da vida dos cães, cabendo aos seus mestres prepará-los para
ultrapassar os seus medos naturais e individuais para que possam enfrentar e
vencer com segurança os perigos e os obstáculos que terão pela frente. E a
melhor maneira de fazê-lo é exercitá-los e capacitá-los numa pista táctica, que
outra coisa não é que um simulacro em constante evolução daquilo que os cães irão
enfrentar no seu quotidiano. Mediante obstáculos próprios, o concurso à pista
táctica vai libertando gradualmente as fobias presentes nos cães, que por sinal
não são poucas e que obstam ao seu condicionamento, sociabilização e
desempenho.
Só para que se tenha uma
ideia mais aproximada das fobias caninas que importa vencer, manifestamos aqui
algumas: Acluofobia - medo do escuro ou da escuridão; Acrofobia/Altofobia - medo
das alturas; Acusticofobia – medo de barulho; Aeroacrofobia - medo de lugares
abertos e altos; Aerofobia – medo de andar em aparelhos voadores; Afefobia - medo
de contacto; Agirofobia – medo de ruas e dos seus cruzamentos; Agorafobia - medo
de lugares abertos, de multidões, de lugares públicos como mercados, shoppings,
supermercados ou de deixar um lugar seguro; Agrizoofobia - medo de animais
selvagens; Anablefobia - medo de
olhar para cima; Androfobia - medo de homens; Astrofobia – medo de trovões e
relâmpagos; Claustrofobia - medo de espaços confinados, apertados e fechados e Hidrofobia
- medo da água (a lista é imensa). Estas fobias carecem de ser vencidas, porque
doutro modo a ansiedade tomará conta dos cães, ensurdecê-los-á para os donos, entregá-los-á
aos instintos, atentará contra o seu bem-estar e diminuirá a sua esperança de
vida.
Poderá um cão caçador ter
medo das alturas? Poder pode, mas não deve, a menos que convença as presas a
não subir! Vamos a um episódio caricato ocorrido ontem à tarde na Suíça. Ao ir caçar
camurças para os Urner Alpen, também conhecidos por Alpes Uri, perto de
Urnerboden, no Município de Spiringen, um cão aventurou-se a perseguir alguns
animais encosta acima. Quando reparou onde tinha ido parar, teve medo das
alturas e ficou paralisado pelo medo, não conseguindo voltar. Os seus donos
ligaram aflitos para a polícia, que por sua vez solicitou os serviços do Alpine
Rescue Switzerland que o resgatou e trouxe em segurança dentro de uma mochila,
segundo anunciou hoje a polícia do Cantão de Uri. De acordo com o que esta notícia
faz saber, não creio que nenhum dos donos do cão seja um caçador profissional
ou experiente, porque doutro modo já o teria preparado para caçar em altitude.
Ensinar um cão é
prepará-lo para a vida, torná-lo apto, robustecê-lo e dotá-lo de maior longevidade.
Se o ensino canino se basear apenas em truques e num conjunto de habilidades,
então ainda vai precisar de evoluir muito para chegar aos calcanhares dos
artistas circenses, que fazem isso há séculos com reconhecida arte e graciosidade.
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