sexta-feira, 8 de maio de 2020

O VELHO MEDO DAS ALTURAS

Como é sabido, há muito poucas pistas tácticas nos centros de adestramento canino em Portugal e até as militares, de tanto serem desprezadas, servem agora de toca para coelhos e de jardim para os melros que ali procuram minhocas. A inexistência ou desprezo pelas pistas tácticas acaba por prejudicar cães e donos, porque os primeiros saem mal apetrechados e os últimos andaram a gastar dinheiro não se sabe bem para quê. Há muito que mantenho uma liça com um grupo de caçadores em particular, o mesmo que não prepara fisicamente os seus cães durante o defeso, havendo alguns que chegam a pensar que o exercício rouba o instinto de caça aos animais!? Por causa da ignorância dos donos, que em parte se deve ao peso cultural, muitos cães familiares acabam por morrer ao não saberem desenvencilhar-se. Melhor sorte não têm os cães caçadores, que invariavelmente acabam presos em armadilhas naturais, deixados para trás, dados como perdidos ou declarados mortos ainda antes de fecharem os olhos.
O objectivo principal do adestramento canino, que muito gente despreza ou troca por um conjunto de macacadas, é a salvaguarda da vida dos cães, cabendo aos seus mestres prepará-los para ultrapassar os seus medos naturais e individuais para que possam enfrentar e vencer com segurança os perigos e os obstáculos que terão pela frente. E a melhor maneira de fazê-lo é exercitá-los e capacitá-los numa pista táctica, que outra coisa não é que um simulacro em constante evolução daquilo que os cães irão enfrentar no seu quotidiano. Mediante obstáculos próprios, o concurso à pista táctica vai libertando gradualmente as fobias presentes nos cães, que por sinal não são poucas e que obstam ao seu condicionamento, sociabilização e desempenho.
Só para que se tenha uma ideia mais aproximada das fobias caninas que importa vencer, manifestamos aqui algumas: Acluofobia - medo do escuro ou da escuridão; Acrofobia/Altofobia - medo das alturas; Acusticofobia – medo de barulho; Aeroacrofobia - medo de lugares abertos e altos; Aerofobia – medo de andar em aparelhos voadores; Afefobia - medo de contacto; Agirofobia – medo de ruas e dos seus cruzamentos; Agorafobia - medo de lugares abertos, de multidões, de lugares públicos como mercados, shoppings, supermercados ou de deixar um lugar seguro; Agrizoofobia - medo de animais selvagens; Anablefobia - medo de olhar para cima; Androfobia - medo de homens; Astrofobia – medo de trovões e relâmpagos; Claustrofobia - medo de espaços confinados, apertados e fechados e Hidrofobia - medo da água (a lista é imensa). Estas fobias carecem de ser vencidas, porque doutro modo a ansiedade tomará conta dos cães, ensurdecê-los-á para os donos, entregá-los-á aos instintos, atentará contra o seu bem-estar e diminuirá a sua esperança de vida.
Poderá um cão caçador ter medo das alturas? Poder pode, mas não deve, a menos que convença as presas a não subir! Vamos a um episódio caricato ocorrido ontem à tarde na Suíça. Ao ir caçar camurças para os Urner Alpen, também conhecidos por Alpes Uri, perto de Urnerboden, no Município de Spiringen, um cão aventurou-se a perseguir alguns animais encosta acima. Quando reparou onde tinha ido parar, teve medo das alturas e ficou paralisado pelo medo, não conseguindo voltar. Os seus donos ligaram aflitos para a polícia, que por sua vez solicitou os serviços do Alpine Rescue Switzerland que o resgatou e trouxe em segurança dentro de uma mochila, segundo anunciou hoje a polícia do Cantão de Uri. De acordo com o que esta notícia faz saber, não creio que nenhum dos donos do cão seja um caçador profissional ou experiente, porque doutro modo já o teria preparado para caçar em altitude.
Ensinar um cão é prepará-lo para a vida, torná-lo apto, robustecê-lo e dotá-lo de maior longevidade. Se o ensino canino se basear apenas em truques e num conjunto de habilidades, então ainda vai precisar de evoluir muito para chegar aos calcanhares dos artistas circenses, que fazem isso há séculos com reconhecida arte e graciosidade.

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