Depois de dois meses de confinamento, tanto os animais selvagens como os
domésticos podem ter perdido o hábito de coabitar no mesmo território com os
humanos. E foi neste sentido que a Prefeitura dos Alpes Marítimos franceses
alertou ontem sobre o risco de potenciais caminhadas, cujo número “corre o
risco de aumentar acentuadamente nos próximos fins-de-semana” perto dos
rebanhos. Esta autoridade pediu maior atenção aos viandantes naquelas paragens,
porque os cães de protecção dos rebanhos já se desacostumaram da possível
presença de caminhantes e ciclistas.
Estes famosos Cães de Montanha dos Pirinéus, ali conhecidos como “Patous”,
designação advinda do termo "pastou", pronunciado “patou” e derivado
da palavra "pastre" (“pastor” em francês arcaico), criados para
defender ovelhas e cabras de possíveis predadores como o lobo, podem ser
agressivos e o confinamento pode tê-los perturbado ainda mais. Os Patous que
quase desapareceram dos Pirinéus com o desaparecimento de ursos, lobos e linces,
estão agora a despertar um interesse renovado pelo retorno natural do lobo no
Mercantour e a reintrodução do urso nos Pirinéus.
A transumância em altitude começará ali nas próximas semanas. “Que eu
saiba, não houve relatos de problemas nos últimos dias, observa Laurent
Scheyer, Director Interino do Mercantour National Park. Mas é verdade que o
período de confinamento poderá ter perturbado os cães." No seu site, a
Direcção do Parque insiste na necessidade de um “comportamento adaptado” no
caso de encontros com algum rebanho, adiantando que “a mensagem essencial é
manter distância e contornar o rebanho quando possível", procedimento
particularmente recomendado.
Não sendo possível, e agora adiantamos nós (Acendura), ao ver um cão
destes correr na sua direcção, mantenha a calma, não grite, não lhe atire uma
pedra e não o ameace com um pau, porque o cão poderá entender essas
manifestações como um ataque. É melhor parar ou circular ao redor do rebanho,
para que o cão sinta o seu cheiro e reconheça-o como um humano. Depois de escoltá-lo
duas ou três vezes para se certificar das suas intenções, o cão retornará
pacificamente ao rebanho. Se há que haver este cuidado nos Pirinéus, ele também
será necessário em Portugal, porque temos por cá cães idênticos, com as mesmas
funções, igualmente fortes e que não lidam com estranhos também há dois meses.
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