Séculos antes de terem surgido os actuais Pastores Alemães, Belgas e
Holandeses, já o Pastor Boémio ou da Boémia por cá andava, sendo também
conhecido como Chodský Pes, Chodenhund e Bohemian Shepherd, sendo obviamente
natural da República Checa e incrivelmente parecido com o Pastor Alemão. São
vários os autores que dizem ser o Pastor Boémio ancestral do Pastor Alemão. À vista
parece não haver dúvidas, mas importa que tal seja comprovado ou desacreditado
cientificamente, o que não parece interessar nem a alemães nem a checos, quiçá
fartos uns dos outros pela história comum, da qual não podemos excluir a
aplicação do conceito geopolítico do Lebensraum, que levou à ocupação e anexação
da Checoslováquia pelos Nazis que, com a derrota destes, passou para o jugo
soviético. O homem não escreveu a sua história somente em gravuras, livros,
construções, feitos e vitórias, deixou também a sua assinatura no animal que
criou – o cão – que moldou à medida das suas expectativas. Vamos a uma breve
súmula histórica do Pastor Boémio.
A monarquia da Boémia, por necessidade, recrutou o povo Chodové para
fornecer guardas contra uma possível expansão germânica no seu reino ao longa
das fronteiras entre a Boémia e a Baviera. Em 1325, o rei boémio reconheceu ao
povo Chodové o direito de criar cães especiais para ajudá-lo a patrulhar as fronteiras.
Além de guardar as fronteiras, estes cães eram também usados como cães
protectores de rebanhos, passando a raça a ser conhecida como “Chodský Pes”
(Pastor Boémio). Como aconteceu com muitas raças caninas, também este cão quase
desapareceu por ocasião dos dois grande conflitos mundiais. O problema foi tão
sério que a recuperação da raça só aconteceu em 1984, obra de Vilem Kurz e Jan Findejs,
que foram à procura do Pastor Boémio restante. O padrão da raça foi aprovado e
em 1985 nasceu a primeira ninhada desta velha raça.
Antes de explicarmos quais as diferenças existentes entre o Pastor
Boémio e o Pastor Alemão, de quem poderíamos dizer ser mais o que os une do que
aquilo que os separa, importa dizer que nunca compreendemos o exagerado
dimorfismo sexual existente no Cão de Pastor Alemão (10 cm de diferença entre a
cadela mais pequena e o cão maior, 55-65 cm), fosso que tem obstado a melhores
beneficiamentos e que parece dar a entender que, ao invés de uma raça, estamos
na presença de duas. A primeira diferença e que salta logo à vista entre o
pastor Boémio e o Alemão, é que o primeiro é mais pequeno e mais leve do que o
CPA, para além de ser um cão menos rectangular e de ter as orelhas mais curtas.
Onde teriam ido os Pastores Alemães de pêlo comprido buscar o menor peso?
Do ponto de vista biomecânico não subsistem grandes diferenças, no que
concerne às aptidões sensoriais são idênticos, têm capacidades atléticas muito
próximas e ambos têm uma excelente capacidade de aprendizagem. Talvez no
temperamento, sem esquecer que estamos a falar de indivíduos, resida uma
notória diferença entre eles, já que o Pastor Boémio é mais alegre, amistoso, brincalhão,
carinhoso, doce, energético, independente e responsivo do que o comum dos Pastores
Alemães (possivelmente por uma maior carga instintiva). Já o Pastor Alemão tipo
quando comparado com o Pastor Boémio é mais agressivo, calmo e gentil
(possivelmente por conta dos impulsos herdados que a selecção lhe ofereceu).
Com o decorrer do tempo é possível que Pastores Alemães e Boémios se
afastem cada vez mais uns dos outros, como também é possível que se aproximem ainda
mais, como já está a suceder com os Pastores Alemães, Belgas e Holandeses, desconhecendo-se
onde começa um e acaba o outro, por razões ligadas à segurança das populações e
à defesa das nações. Sobre a hipotética relação sanguínea entre o Pastor Boémio
e o Pastor Alemão, estou convencido que em breve todos seremos esclarecidos.
Todavia, assim como consigo diferenciar um Pastor Alemão de um Pastor do Leste
Europeu, sem informação prévia e à vista desarmada, também sou capaz de
identificar num Pastor Alemão, sem grande dificuldade, a presença de outro cão.
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