Sempre que me pronuncio
sobre os trabalhos escolares que desenvolvemos ao fim-de-semana, sinto-me um
sofrível narrador da poesia biomecânica que solicito a homens e cães, poesia
resultante do desempenho atlético binomial, farto no despertar de emoções e de
momentos inolvidáveis, como os proporcionados pelo Afonso e pela Nasha acima e
abaixo.
No passado Sábado fomos
visitar a Carla Leitão e treinámos no interior e exterior de sua casa. O
objectivo principal da visita era o de aquilatar do desenvolvimento dos seus
cachorros CPA, agora com mais de 30kg de peso. Depois de acordarmos sobre a
necessidade de treino dos cachorros, passámos-lhe o CPA Bohr para as mãos e
integrámo-la na classe em instrução. Na foto seguinte vemo-la a conduzir o Bohr
sobre um salto natural, onde é possível ver que quem sabe nunca esquece.
Não é e nunca será fácil
melhorar a capacidade de impulsão de cães portadores de angulação traseira
recta, que devido a esse particular tendem a formal “saltos de cabra”,
resistindo por isso ao desejável arco convergente de transposição nas barreiras
simples e a levantar em demasia dos posteriores nos saltos em extensão. Esta
impropriedade biomecânica de origem genética só poderá ser suavizada pelo
trabalho aturado proveniente da paciência, paciência que o Jorge evidencia pelo
amor que tem ao Soneca, que pouco a pouco vai levando a água ao seu moinho.
O aquecimento dos cães
aconteceu num conjunto de saltos consecutivos sobre uma mesa com 85cm de alto.
O Adestrador deu início aos trabalhos e adiantou a tarefa pretendida ao conduzir
o CPA Blaze.
Ultimamente dedicado ao
Fila Ben, o José António tem experimentado as costumeiras dificuldades de
conduzir um cão que abomina a troca de condutores e a substituição do seu
líder, promovendo a espaços ameaçadoras confrontações.
Apesar do desempenho do
José António estar a melhorar e a sua confiança estar a aumentar, sempre que o
Fila insiste em ameaçá-lo, visando a sua salvaguarda e o progresso do cão, o
Jorge é chamado a substituí-lo. Depois da perfeita anuência do cão aos
trabalhos, o Fila é devolvido ao primeiro condutor sem apresentar qualquer tipo
de resistência.
Não poderíamos encontrar
melhor exemplo para a convergência de salto e para a técnica de condução,
pormenores intrinsecamente interligados que o treino providencia e que a foto
abaixo evidencia, com o cão a descrever um arco perfeito sobre a cerca de 1m de
altura e a condutora adiantada a dar-lhe trela na saída.
No mesmo salto e com um
cão atleticamente superior, é possível constatar o atraso da Svetlana, que ainda
está no 1º momento do salto enquanto o cão já se encontra no 2º (vai
literalmente a reboque). E isto porquê? Basicamente por não ter sido capaz de
controlar o cão.
Atendendo ao grau de
dificuldade, o José António está de parabéns por ter conseguido levar o Ben a
ultrapassar uma cerca de arame com 1 metro de altura, muito embora tenha sido
ajudado pelo dono do animal, que colocado na frente da transposição, chamou
efusivamente pelo Fila.
A foto seguinte, esteticamente
bela, mas deplorável do ponto de vista técnico, porque evidencia um sério desacerto,
mostra um cão abandonado a si mesmo no 1º tempo do salto, quando a mão que
segura na trela injustificadamente o abandona ao invés de ajudá-lo (o fenómeno
estaria ligado à posição do fotógrafo em relação ao cão?).
À falta de melhor,
aproveitámos uma escada de piscina para Exel e o resultado está à vista. Como
seria de esperar, o binómio Afonso/Nasha venceu o obstáculo com rara beleza
biomecânica, sendo possível ver na foto abaixo o acerto na ajuda do condutor,
que continua de mão levantada e em pressão para que a cadela ultrapasse a linha
mais alta de transposição (onde é que o menino teria aprendido tanto em tão
pouco tempo?).
O Jorge, ingloriamente,
viu-se obrigado com o Soneca a idêntico esforço e ajuda. Ingloriamente porque o
cão afundou-se no meio do obstáculo. Se o Jorge, cuja ânsia de vencer impede-o
por vezes de pensar, tivesse recorrido ao concurso do brinquedo, certamente o
Soneca saltaria este mundo e o outro! Ponham isto na cabeça de uma vez por
todas – os cães não são todos iguais e não respondem de igual modo às mesmas
motivações.
Na foto seguinte a ajuda
do condutor é a correcta, mas a sua posição é que está errada, apesar do atraso
do condutor poder ser justificado pela pouca disponibilidade do cão. Neste caso
faltou o adiantamento que precede a ajuda de mão – há que ajudar e ir para
diante, o que nem sempre é fácil. O acerto na ajuda é aqui ratificado pela correcta
projecção do animal.
Tal como o binómio
Jorge/Soneca, o binómio Afonso/Nasha já fugiu ao pelotão escolar e encontra-se
agora a fazer exercícios de condução em liberdade. Na foto abaixo vemo-los a
transpor um conjunto de simples verticais naturais, com a cadela a crer mimosear
o fotógrafo (os olhos dizem tudo e onde eles estiverem, estará também a afeição
do animal!).
Infelizmente, a espectacularidade
do desempenho do Bohr, que há muito nos habituou a estas coisas, não consegue
esconder o atraso da condutora no exercício, o que sinceramente lamentamos face
à transcendência biomecânica do animal.
A nossa amiga Jessy, uma
atleta de mão cheia que continua em litígio com a balança, aparece na imagem
seguinte a conduzir o Soneca com acerto sobre uma vertical natural. Ela e o
Soneca entendem-se bem, porque ela é uma pomba-mansa e o cão não faz mal a ninguém.
O José Maria tem entre nós
uma qualidade única: não só chega atrasado ao treino como se atrasa nos saltos.
A foto seguinte comprova o que acabámos de dizer, onde atendendo ao momento da transposição,
o condutor já deveria estar na frente da cadela ao invés de pendurá-la pelo
pescoço (reparar no pormenor da corrente do semi-estrangulador).
Mais uma vez, perante a
resistência do Ben, que não cria saltar um duplo de irrisória altura, o Jorge
foi chamado e o Fila acabou por ultrapassar o obstáculo que não queria, como se o obrigasse a um esforço desmedido. No duelo das vontades, o cão que foi
criado com os javalis, ainda afiambrou o seu condutor de ocasião, não sem que
primeiro o tenha ameaçado.
Participaram nos trabalhos
os seguintes binómios: Afonso/Nasha; Carla/Blaze; Jessy/Soneca; Jorge/Ben; Jorge/Soneca;
José António/Ben; José Maria/Mel e Svetlana/Bohr. O Paulo Jorge e José António
foram os fotógrafos e o pequeno Lourenço Leitão mostrou ser um corredor inato.
No final dos trabalhos todos os condutores participaram numa prova de
velocidade, merecendo a Jessy especial destaque por vencer entre as senhoras.
Para a semana há mais.
Entretanto, por precaução, para além de reforçar a vacina contra a Tosse do Canil
no seu cão, vacine-se você mesmo contra a gripe!
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