terça-feira, 15 de outubro de 2019

SOFRÍVEL NARRADOR DE POESIA BIOMECÂNICA

Sempre que me pronuncio sobre os trabalhos escolares que desenvolvemos ao fim-de-semana, sinto-me um sofrível narrador da poesia biomecânica que solicito a homens e cães, poesia resultante do desempenho atlético binomial, farto no despertar de emoções e de momentos inolvidáveis, como os proporcionados pelo Afonso e pela Nasha acima e abaixo.
No passado Sábado fomos visitar a Carla Leitão e treinámos no interior e exterior de sua casa. O objectivo principal da visita era o de aquilatar do desenvolvimento dos seus cachorros CPA, agora com mais de 30kg de peso. Depois de acordarmos sobre a necessidade de treino dos cachorros, passámos-lhe o CPA Bohr para as mãos e integrámo-la na classe em instrução. Na foto seguinte vemo-la a conduzir o Bohr sobre um salto natural, onde é possível ver que quem sabe nunca esquece.
Não é e nunca será fácil melhorar a capacidade de impulsão de cães portadores de angulação traseira recta, que devido a esse particular tendem a formal “saltos de cabra”, resistindo por isso ao desejável arco convergente de transposição nas barreiras simples e a levantar em demasia dos posteriores nos saltos em extensão. Esta impropriedade biomecânica de origem genética só poderá ser suavizada pelo trabalho aturado proveniente da paciência, paciência que o Jorge evidencia pelo amor que tem ao Soneca, que pouco a pouco vai levando a água ao seu moinho.
O aquecimento dos cães aconteceu num conjunto de saltos consecutivos sobre uma mesa com 85cm de alto. O Adestrador deu início aos trabalhos e adiantou a tarefa pretendida ao conduzir o CPA Blaze.
Ultimamente dedicado ao Fila Ben, o José António tem experimentado as costumeiras dificuldades de conduzir um cão que abomina a troca de condutores e a substituição do seu líder, promovendo a espaços ameaçadoras confrontações.
Apesar do desempenho do José António estar a melhorar e a sua confiança estar a aumentar, sempre que o Fila insiste em ameaçá-lo, visando a sua salvaguarda e o progresso do cão, o Jorge é chamado a substituí-lo. Depois da perfeita anuência do cão aos trabalhos, o Fila é devolvido ao primeiro condutor sem apresentar qualquer tipo de resistência.
Não poderíamos encontrar melhor exemplo para a convergência de salto e para a técnica de condução, pormenores intrinsecamente interligados que o treino providencia e que a foto abaixo evidencia, com o cão a descrever um arco perfeito sobre a cerca de 1m de altura e a condutora adiantada a dar-lhe trela na saída.
No mesmo salto e com um cão atleticamente superior, é possível constatar o atraso da Svetlana, que ainda está no 1º momento do salto enquanto o cão já se encontra no 2º (vai literalmente a reboque). E isto porquê? Basicamente por não ter sido capaz de controlar o cão.
Atendendo ao grau de dificuldade, o José António está de parabéns por ter conseguido levar o Ben a ultrapassar uma cerca de arame com 1 metro de altura, muito embora tenha sido ajudado pelo dono do animal, que colocado na frente da transposição, chamou efusivamente pelo Fila.
A foto seguinte, esteticamente bela, mas deplorável do ponto de vista técnico, porque evidencia um sério desacerto, mostra um cão abandonado a si mesmo no 1º tempo do salto, quando a mão que segura na trela injustificadamente o abandona ao invés de ajudá-lo (o fenómeno estaria ligado à posição do fotógrafo em relação ao cão?).
À falta de melhor, aproveitámos uma escada de piscina para Exel e o resultado está à vista. Como seria de esperar, o binómio Afonso/Nasha venceu o obstáculo com rara beleza biomecânica, sendo possível ver na foto abaixo o acerto na ajuda do condutor, que continua de mão levantada e em pressão para que a cadela ultrapasse a linha mais alta de transposição (onde é que o menino teria aprendido tanto em tão pouco tempo?).
O Jorge, ingloriamente, viu-se obrigado com o Soneca a idêntico esforço e ajuda. Ingloriamente porque o cão afundou-se no meio do obstáculo. Se o Jorge, cuja ânsia de vencer impede-o por vezes de pensar, tivesse recorrido ao concurso do brinquedo, certamente o Soneca saltaria este mundo e o outro! Ponham isto na cabeça de uma vez por todas – os cães não são todos iguais e não respondem de igual modo às mesmas motivações.
Na foto seguinte a ajuda do condutor é a correcta, mas a sua posição é que está errada, apesar do atraso do condutor poder ser justificado pela pouca disponibilidade do cão. Neste caso faltou o adiantamento que precede a ajuda de mão – há que ajudar e ir para diante, o que nem sempre é fácil. O acerto na ajuda é aqui ratificado pela correcta projecção do animal.
Tal como o binómio Jorge/Soneca, o binómio Afonso/Nasha já fugiu ao pelotão escolar e encontra-se agora a fazer exercícios de condução em liberdade. Na foto abaixo vemo-los a transpor um conjunto de simples verticais naturais, com a cadela a crer mimosear o fotógrafo (os olhos dizem tudo e onde eles estiverem, estará também a afeição do animal!).
Infelizmente, a espectacularidade do desempenho do Bohr, que há muito nos habituou a estas coisas, não consegue esconder o atraso da condutora no exercício, o que sinceramente lamentamos face à transcendência biomecânica do animal.
A nossa amiga Jessy, uma atleta de mão cheia que continua em litígio com a balança, aparece na imagem seguinte a conduzir o Soneca com acerto sobre uma vertical natural. Ela e o Soneca entendem-se bem, porque ela é uma pomba-mansa e o cão não faz mal a ninguém.
O José Maria tem entre nós uma qualidade única: não só chega atrasado ao treino como se atrasa nos saltos. A foto seguinte comprova o que acabámos de dizer, onde atendendo ao momento da transposição, o condutor já deveria estar na frente da cadela ao invés de pendurá-la pelo pescoço (reparar no pormenor da corrente do semi-estrangulador).
Mais uma vez, perante a resistência do Ben, que não cria saltar um duplo de irrisória altura, o Jorge foi chamado e o Fila acabou por ultrapassar o obstáculo que não queria, como se o obrigasse a um esforço desmedido. No duelo das vontades, o cão que foi criado com os javalis, ainda afiambrou o seu condutor de ocasião, não sem que primeiro o tenha ameaçado.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Afonso/Nasha; Carla/Blaze; Jessy/Soneca; Jorge/Ben; Jorge/Soneca; José António/Ben; José Maria/Mel e Svetlana/Bohr. O Paulo Jorge e José António foram os fotógrafos e o pequeno Lourenço Leitão mostrou ser um corredor inato. No final dos trabalhos todos os condutores participaram numa prova de velocidade, merecendo a Jessy especial destaque por vencer entre as senhoras.
Para a semana há mais. Entretanto, por precaução, para além de reforçar a vacina contra a Tosse do Canil no seu cão, vacine-se você mesmo contra a gripe!

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