quarta-feira, 9 de outubro de 2019

SÃO FRANCISCO DE ASSIS NOS ACUDA!

No passado dia 4 deste mês, ocasião em que se celebrou o DIA DOS ANIMAIS, efeméride que se comemora desde 1931 e que é também o DIA de SÃO FRANCISCO DE ASSIS, muitos animais domésticos foram benzidos por padres devidamente paramentados, solícitos e com a retórica estudada, anunciando a vida do santo e o seu apego protector aos animais, numa apologia aparentemente inocente, mas que encarna uma estratégia proselitista que a Igreja Romana espera vir a dar bons frutos – já que os donos não vão à Igreja, a Igreja alcança-os pelos animais! 
É evidente que muitos proprietários de animais partem para aquela bênção debaixo de um espírito há muito conhecido: “se mal não faz, pode ser que faça algum bem e se bem não fizer, mal também não fará”, sentença tirada da velha estória da TRAVESSIA DA PONTE, na qual um homem atravessava uma prestes a ruir pela força da corrente e que durante a enxurrada ida dizendo para si mesmo que “Deus é bom e que o Diabo também não é mau”, mandando bugiar os dois ao acabar a travessia. Contudo, haverá muita gente sincera que concorre à bênção na procura de protecção e benefícios para os seus animais.
A bênção dos animais estará melhor cotada e melhor conotada com os países latinos e ibero-americanos, povos mais dados ao misticismo do que à razão, o que não impede que suceda também entre os germanos católicos, nomeadamente entre os bávaros. Em Dießen am Ammersee, no distrito alemão de Landsberg am Lech, na Alta Baviera, em frente à lindíssima igreja barroca de Marienmünster (vale a pena visitá-la), o padre local, Josef Kirchensteiner, pelo segundo ano consecutivo, procedeu à bênção dos animais debaixo da chuva constante que se fazia sentir, benzendo pelo menos 12 cães e 3 furões, cedendo à pressão de uma família local (Kolping).
Diz quem assistiu à benzedura, que na altura da bênção a chuva parou e que os animais receberam as gotas consagradas intactas. Penso que na Alemanha, como noutros lugares onde o catolicismo ainda resiste, tal como outras igrejas históricas, o amor pelos animais fala mais alto que a ligação dos seus donos ao sagrado – o Deus connosco virou quadrúpede!
Todavia, não deixa de ser interessante reparar na capacidade que a Igreja Católica tem em adaptar-se ao longo dos tempos, quiçá por confundir os reinos da glória e do poder, ao fazer uso da história de São Francisco de Assis para reconverter os arredios donos dos animais. Nisto leva vantagem até que outras igrejas e seitas sigam o seu exemplo. Pode ser até que venham a ser criadas umas quantas novas, cuja divindade poderá assentar sobre os cães ou outros animais, como se o Céu esperasse há muito pela sua chegada ou fossem eles os únicos intermediários entre os donos e Deus, os únicos capazes de guiar a humanidade até à eternidade. 
Para mim, e agora falo do ponto de vista estritamente pessoal, a bênção dos animais, com raízes fortemente pagãs, faz tanto sentido como organizar uma tourada dedicada a um santo qualquer.
Para quem não sabe ou já não se lembra, uma vez que estamos a falar de Francisco de Assis, adianta-se que foi ele o inventor do PRESÉPIO DE NATAL tão ao gosto dos portugueses, quando em 1223, na floresta de Greccio, hoje uma comuna italiana da Região de Lácio, Província de Rieti, recriou numa gruta os eventos da Noite Santa com figuras vivas, com os seus irmãos, um boi e um burro, animais que encontrou famintos na sua jornada. 

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