No passado dia 4 deste
mês, ocasião em que se celebrou o DIA
DOS ANIMAIS, efeméride que se comemora desde 1931 e
que é também o DIA
de SÃO FRANCISCO DE
ASSIS, muitos animais domésticos foram benzidos por padres
devidamente paramentados, solícitos e com a retórica estudada, anunciando a vida
do santo e o seu apego protector aos animais, numa apologia aparentemente inocente,
mas que encarna uma estratégia proselitista que a Igreja Romana espera vir a
dar bons frutos – já que os donos não vão à Igreja, a Igreja alcança-os pelos
animais!
É evidente que muitos proprietários de animais partem para aquela bênção
debaixo de um espírito há muito conhecido: “se mal não faz, pode ser que faça
algum bem e se bem não fizer, mal também não fará”, sentença tirada da velha
estória da TRAVESSIA
DA PONTE, na qual um homem atravessava uma prestes a ruir pela
força da corrente e que durante a enxurrada ida dizendo para si mesmo que “Deus
é bom e que o Diabo também não é mau”, mandando bugiar os dois ao acabar a
travessia. Contudo, haverá muita gente sincera que concorre à bênção na procura
de protecção e benefícios para os seus animais.
A bênção dos animais
estará melhor cotada e melhor conotada com os países latinos e ibero-americanos,
povos mais dados ao misticismo do que à razão, o que não impede que suceda
também entre os germanos católicos, nomeadamente entre os bávaros. Em Dießen am
Ammersee, no distrito alemão de Landsberg am Lech, na Alta Baviera, em frente à
lindíssima igreja barroca de Marienmünster (vale a pena visitá-la), o padre
local, Josef Kirchensteiner, pelo segundo ano consecutivo, procedeu à bênção dos
animais debaixo da chuva constante que se fazia sentir, benzendo pelo menos 12
cães e 3 furões, cedendo à pressão de uma família local (Kolping).
Diz quem assistiu à
benzedura, que na altura da bênção a chuva parou e que os animais receberam as
gotas consagradas intactas. Penso que na Alemanha, como noutros lugares onde o
catolicismo ainda resiste, tal como outras igrejas históricas, o amor pelos
animais fala mais alto que a ligação dos seus donos ao sagrado – o Deus
connosco virou quadrúpede!
Todavia, não deixa de ser
interessante reparar na capacidade que a Igreja Católica tem em adaptar-se ao
longo dos tempos, quiçá por confundir os reinos da glória e do poder, ao fazer
uso da história de São Francisco de Assis para reconverter os arredios donos
dos animais. Nisto leva vantagem até que outras igrejas e seitas sigam o seu
exemplo. Pode ser até que venham a ser criadas umas quantas novas, cuja
divindade poderá assentar sobre os cães ou outros animais, como se o Céu esperasse
há muito pela sua chegada ou fossem eles os únicos intermediários entre os
donos e Deus, os únicos capazes de guiar a humanidade até à eternidade.
Para
mim, e agora falo do ponto de vista estritamente pessoal, a bênção dos animais,
com raízes fortemente pagãs, faz tanto sentido como organizar uma tourada
dedicada a um santo qualquer.
Para quem não sabe ou já
não se lembra, uma vez que estamos a falar de Francisco de Assis, adianta-se
que foi ele o inventor do PRESÉPIO
DE NATAL tão ao gosto dos portugueses, quando em 1223, na
floresta de Greccio, hoje uma comuna italiana da Região de Lácio, Província de
Rieti, recriou numa gruta os eventos da Noite Santa com figuras vivas, com os
seus irmãos, um boi e um burro, animais que encontrou famintos na sua jornada.
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