Muitas empresas iniciantes
oferecem agora croquetes e guloseimas para cães e gatos a partir de farinha de
insectos, porque esses pequenos animais são concentrados de energia e criá-los
requer pouca comida, espaço e água, surgindo assim como uma opção amiga do
ambiente. Vejamos o que se passa em França. A ENTOMA
PETFOOD, startup franco-dinamarquesa lançada no início de 2018
pretende alterar os códigos de nutrição animal, oferecendo produtos à base de
proteínas de insectos. Depois dos seus croquetes e guloseimas à base de insectos,
esta startup lançará até o final do mês uma nova variedade de croquetes à base
de proteínas de minhocas, desta vez para gatos. Várias startups estão a tentar
mudar os códigos de nutrição animal e os grandes grupos estão a acompanhar esta
evolução de perto. Isto ocorre porque os insectos comestíveis contêm proteínas
de alta qualidade e podem ser produzidos a baixo custa ambiental, segundo fez
saber a FAO, Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
A Entoma Petfood já vende
croquetes e petiscos para cães, cuja única fonte de proteína são as larvas de
mosca-preta. Uma nova gama de croquetes será adicionada até o final do mês,
desta vez para gatos e à base de proteínas de farinha. Tudo começou com uma mudança
no regulamento europeu no dia 1 Julho de 2017, que permitiu o uso de proteínas
de insectos na alimentação animal, pensando em primeiro lugar na aquicultura,
mas também na nutrição de cães e gatos. Desde então, uma dúzia de startups posicionou-se
nesse nicho no mundo, como foi o caso do TO
MOJO,
outra startup francesa lançada em 2018 e o da britânica YORA. Os
grandes fabricantes como a ROYAL
CANIN e a NESTLÉ
PURINA olham atentamente para a possibilidade de incorporar
proteínas de insectos nas suas receitas, apesar do uso desta proteína se
encontrar ainda na fase de pesquisa.
De qualquer modo, DOMINIQUE GRANDJEAN,
professora da Escola Veterinária de Maisons-Alfort e especialista em nutrição
de cães e gatos, congratula-se com esta inovação, porque a seu ver os produtos
low-end e de gama média oferecidos pela indústria de alimentos para animais de
estimação usam principalmente, se não exclusivamente, proteína vegetal, porque é
mais barata do que a carne. Contudo, segundo a mesma professora, essa dieta não
é suficiente para atender às necessidades nutricionais de cães e gatos, porque não
são vegetarianos, ao contrário do que às vezes queremos acreditar.
Nestes produtos de baixa e
média gama, também encontramos marcas que utilizam proteínas derivadas de
subprodutos animais, recuperadas em matadouros e demais indústrias ligadas ao
processamento da carne, ingredientes que não são suficientemente nobres para
consumo humano. De acordo com o SIFCO (Syndicat
des Indústrias Français des Coproducts d'animaux) a União Europeia distingue três categorias de co-produtos, dos quais
apenas a terceira pode ser usada na nutrição
animal. Na terceira categoria encontram-se as vísceras, as cabeças, pernas,
pescoços e pés, etc., que as marcas irão cozinhar, apesar da qualidade da
proteína em alguns desses co-produtos ser muito baixa e nada ter a ver com o
peito de frango, isto segundo a opinião da mesma Grandjean (há quem venda mixórdia
ao preço do ouro).
Neste contexto, a
alimentação à base de insectos tem um importante papel a desempenhar,
considerando os seus benefícios para a saúde dos animais, já que o insecto é um
verdadeiro concentrado de energia, rico em proteínas, mas também em vitamina B,
Ómega 3 e minerais, dispensando a adição de proteínas sintéticas ao
contrário de outras receitas à base de carne bovina ou de frango. Além
disso, o uso de insectos inteiros restaura nos alimentos a diversidade de
proteínas e ácidos neles contidos, bem diferente do que sucede quando apenas
usamos pedaços de carne. E Depois, ao terem cadeias curtas de aminoácidos, as
proteínas provenientes dos insectos são mais fáceis de digerir.
Maye Walraven, gerente de
marketing da Innovafeed, uma das empresas francesas especializadas na criação
de larvas de moscas de soldados negros e onde a Entoma Petfood se fornece, diz
que em média são necessários 6,8 kg de alimentos para produzir um quilo de
proteína bovina, que o índice é de 2,9 kg para porcos, de 1,7 kg para aves e de
1,1 kg para peixes, enquanto nos insectos podemos produzir um quilograma de
proteína a partir de um quilograma de alimento. Além disso, a criação de insectos
consome pouca água e emite pouco gás de efeito estufa. Até 100 vezes menos que
as fazendas de gado convencionais (carne bovina, aves, suínos, etc.), cuja
pegada de carbono é aumentada pelas emissões de metano e amónia, segundo avalia
a FAO. Sobressai ainda outra vantagem: os insectos podem alimentar-se de
resíduos orgânicos e transformá-los que depois se transformam em proteínas de
alta qualidade. Os insectos da Innovafeed são alimentados com produtos
agrícolas, com resíduos de culturas de beterraba sacarina ou de cereais que ainda
não foram valorizados, disse Walraven.
Ainda subsistem alguns
entraves a serem vencidos antes que as proteínas dos insectos sejam usadas
massivamente na nutrição animal, destacando-se entre eles o necessário aumento
da sua criação. Rachelle Cantet da Entoma Petfood adianta acerca dos seus croquetes
de proteína de insectos: “Os nossos croquetes e guloseimas são vendidos pelo
preço de produtor “Premium” encontrados em veterinários e lojas de animais.” Para
Marie Dominique-Gruss, Chefe de Assuntos Institucionais da Royal Canin, a disponibilidade
das proteínas de insectos deverá ser considerada porque “antes de incluí-las
nas nossas receitas, precisamos de ter a certeza que os criadores podem
fornecer-nos o suficiente e a longo prazo.”
Neste momento, as poucas
fazendas de insectos existentes estão hoje a desmoronar-se pelo excesso de
procura, particularmente pela aquicultura, que continua a ser o nosso primeiro
mercado", disse Maye Walraven (na foto abaixo). Essa tensão pode aumentar
no futuro ", uma vez que se discute agora a inclusão de proteínas de
insectos na dieta de monogástricos como o porco e as aves. Diante de tamanha
procura, as fazendas de insectos não terão outra opção a não ser aumentar a sua
capacidade de produção. É isso que a Innovafeed fará no início de 2020,
adicionando à sua fazenda piloto na região de Cambrai, onde produz 300
toneladas de farinha de insectos por ano, um novo local, desta vez perto de
Amiens, com uma capacidade de 10.000 toneladas por ano, segundo adiantou Maye
Walraven. A Innovafeed está planear abrir mais cinco fazendas do mesmo tamanho
na Europa nos próximos dois anos.
Serão só os cães que
futuramente comerão insectos e farinha de insectos? Eu julgo que não, porque já
há cá quem os coma e considere-os um verdadeiro pitéu. Por este andar e mais
depressa do que se julga, estaremos todos a comer insectos, como sempre sucedeu
entre os asiáticos, a quem obviamente deixaremos de chamar badalhocos por conta
dos seus menus. A chegada da ração canina à base de insectos, por comparação
com as tradicionais, está a mostrar a porcaria que temos dado aos nossos cães,
subprodutos comprados quase a custo zero que a indústria alimentar para animais
aproveita para vender-nos a um preço exorbitante. As actuais rações nunca foram
completas e não se sabe se algum dia serão.
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