quinta-feira, 10 de outubro de 2019

JÁ CHEGOU A RAÇÃO CANINA À BASE DE PROTEÍNA DE INSECTOS

Muitas empresas iniciantes oferecem agora croquetes e guloseimas para cães e gatos a partir de farinha de insectos, porque esses pequenos animais são concentrados de energia e criá-los requer pouca comida, espaço e água, surgindo assim como uma opção amiga do ambiente. Vejamos o que se passa em França. A ENTOMA PETFOOD, startup franco-dinamarquesa lançada no início de 2018 pretende alterar os códigos de nutrição animal, oferecendo produtos à base de proteínas de insectos. Depois dos seus croquetes e guloseimas à base de insectos, esta startup lançará até o final do mês uma nova variedade de croquetes à base de proteínas de minhocas, desta vez para gatos. Várias startups estão a tentar mudar os códigos de nutrição animal e os grandes grupos estão a acompanhar esta evolução de perto. Isto ocorre porque os insectos comestíveis contêm proteínas de alta qualidade e podem ser produzidos a baixo custa ambiental, segundo fez saber a FAO, Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
A Entoma Petfood já vende croquetes e petiscos para cães, cuja única fonte de proteína são as larvas de mosca-preta. Uma nova gama de croquetes será adicionada até o final do mês, desta vez para gatos e à base de proteínas de farinha. Tudo começou com uma mudança no regulamento europeu no dia 1 Julho de 2017, que permitiu o uso de proteínas de insectos na alimentação animal, pensando em primeiro lugar na aquicultura, mas também na nutrição de cães e gatos. Desde então, uma dúzia de startups posicionou-se nesse nicho no mundo, como foi o caso do TO MOJO, outra startup francesa lançada em 2018 e o da britânica YORA. Os grandes fabricantes como a ROYAL CANIN e a NESTLÉ PURINA olham atentamente para a possibilidade de incorporar proteínas de insectos nas suas receitas, apesar do uso desta proteína se encontrar ainda na fase de pesquisa.
De qualquer modo, DOMINIQUE GRANDJEAN, professora da Escola Veterinária de Maisons-Alfort e especialista em nutrição de cães e gatos, congratula-se com esta inovação, porque a seu ver os produtos low-end e de gama média oferecidos pela indústria de alimentos para animais de estimação usam principalmente, se não exclusivamente, proteína vegetal, porque é mais barata do que a carne. Contudo, segundo a mesma professora, essa dieta não é suficiente para atender às necessidades nutricionais de cães e gatos, porque não são vegetarianos, ao contrário do que às vezes queremos acreditar.
Nestes produtos de baixa e média gama, também encontramos marcas que utilizam proteínas derivadas de subprodutos animais, recuperadas em matadouros e demais indústrias ligadas ao processamento da carne, ingredientes que não são suficientemente nobres para consumo humano. De acordo com o SIFCO (Syndicat des Indústrias Français des Coproducts d'animaux) a União Europeia distingue três categorias de co-produtos, dos quais apenas a terceira pode ser usada na nutrição animal. Na terceira categoria encontram-se as vísceras, as cabeças, pernas, pescoços e pés, etc., que as marcas irão cozinhar, apesar da qualidade da proteína em alguns desses co-produtos ser muito baixa e nada ter a ver com o peito de frango, isto segundo a opinião da mesma Grandjean (há quem venda mixórdia ao preço do ouro).
Neste contexto, a alimentação à base de insectos tem um importante papel a desempenhar, considerando os seus benefícios para a saúde dos animais, já que o insecto é um verdadeiro concentrado de energia, rico em proteínas, mas também em vitamina B, Ómega 3 e minerais, dispensando a adição de proteínas sintéticas ao contrário de outras receitas à base de carne bovina ou de frango. Além disso, o uso de insectos inteiros restaura nos alimentos a diversidade de proteínas e ácidos neles contidos, bem diferente do que sucede quando apenas usamos pedaços de carne. E Depois, ao terem cadeias curtas de aminoácidos, as proteínas provenientes dos insectos são mais fáceis de digerir.
Maye Walraven, gerente de marketing da Innovafeed, uma das empresas francesas especializadas na criação de larvas de moscas de soldados negros e onde a Entoma Petfood se fornece, diz que em média são necessários 6,8 kg de alimentos para produzir um quilo de proteína bovina, que o índice é de 2,9 kg para porcos, de 1,7 kg para aves e de 1,1 kg para peixes, enquanto nos insectos podemos produzir um quilograma de proteína a partir de um quilograma de alimento. Além disso, a criação de insectos consome pouca água e emite pouco gás de efeito estufa. Até 100 vezes menos que as fazendas de gado convencionais (carne bovina, aves, suínos, etc.), cuja pegada de carbono é aumentada pelas emissões de metano e amónia, segundo avalia a FAO. Sobressai ainda outra vantagem: os insectos podem alimentar-se de resíduos orgânicos e transformá-los que depois se transformam em proteínas de alta qualidade. Os insectos da Innovafeed são alimentados com produtos agrícolas, com resíduos de culturas de beterraba sacarina ou de cereais que ainda não foram valorizados, disse Walraven.
Ainda subsistem alguns entraves a serem vencidos antes que as proteínas dos insectos sejam usadas massivamente na nutrição animal, destacando-se entre eles o necessário aumento da sua criação. Rachelle Cantet da Entoma Petfood adianta acerca dos seus croquetes de proteína de insectos: “Os nossos croquetes e guloseimas são vendidos pelo preço de produtor “Premium” encontrados em veterinários e lojas de animais.” Para Marie Dominique-Gruss, Chefe de Assuntos Institucionais da Royal Canin, a disponibilidade das proteínas de insectos deverá ser considerada porque “antes de incluí-las nas nossas receitas, precisamos de ter a certeza que os criadores podem fornecer-nos o suficiente e a longo prazo.”
Neste momento, as poucas fazendas de insectos existentes estão hoje a desmoronar-se pelo excesso de procura, particularmente pela aquicultura, que continua a ser o nosso primeiro mercado", disse Maye Walraven (na foto abaixo). Essa tensão pode aumentar no futuro ", uma vez que se discute agora a inclusão de proteínas de insectos na dieta de monogástricos como o porco e as aves. Diante de tamanha procura, as fazendas de insectos não terão outra opção a não ser aumentar a sua capacidade de produção. É isso que a Innovafeed fará no início de 2020, adicionando à sua fazenda piloto na região de Cambrai, onde produz 300 toneladas de farinha de insectos por ano, um novo local, desta vez perto de Amiens, com uma capacidade de 10.000 toneladas por ano, segundo adiantou Maye Walraven. A Innovafeed está planear abrir mais cinco fazendas do mesmo tamanho na Europa nos próximos dois anos.
Serão só os cães que futuramente comerão insectos e farinha de insectos? Eu julgo que não, porque já há cá quem os coma e considere-os um verdadeiro pitéu. Por este andar e mais depressa do que se julga, estaremos todos a comer insectos, como sempre sucedeu entre os asiáticos, a quem obviamente deixaremos de chamar badalhocos por conta dos seus menus. A chegada da ração canina à base de insectos, por comparação com as tradicionais, está a mostrar a porcaria que temos dado aos nossos cães, subprodutos comprados quase a custo zero que a indústria alimentar para animais aproveita para vender-nos a um preço exorbitante. As actuais rações nunca foram completas e não se sabe se algum dia serão.

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