quarta-feira, 26 de setembro de 2018

PARA QUE NÃO MORRA QUEIMADO

Se tirarmos a nossa preocupação com a sua salvaguarda, tudo o que ensinamos aos cães não passa de circo e vaidade. Com os incêndios que têm assolado o País nos últimos anos, mesmo com o cuidado que tem havido no resgate de animais, muitos cães acabaram por morrer carbonizados, por não serem capazes de ultrapassar pequenas cercas e muros onde se encontravam confinados, morrendo literalmente à distância de um pulo para a vida. Há uma dezena de anos atrás, uma conhecida nossa que abrigava cães abandonados, recolheu 3 num quintal entre dois prédios cercados por um muro de 120cm. Um incêndio deflagrou, alastrou-se às duas habitações e estendeu-se ao quintal, sem saber como sair, os animais foram ali incinerados vivos.
Para além doutros usos, que são acessórios, ensinamos os cães a saltar tendo como objectivo a sua sobrevivência, quando rodeados de barreiras físicas que impedem de pôr-se a salvo, diante de circunstâncias como inimigos armados, incêndios, desabamentos, inundações, queda de árvores, terramotos e outros cataclismos. Diante destas eventualidades, cada vez mais recorrentes com as alterações climáticas, todos os cães confinados em quintais deverão estar aptos, quando tal for necessário, para transpor as barreiras que delimitam as propriedades que os albergam. Na impossibilidade dessas transposições, caberá aos donos arranjar saídas de emergência para os animais.
Ensinar um cão a saltar é uma brincadeira que começa aos 4 meses de idade, altura em que começam a demonstrar curiosidade e apreço por aprender. A altura e a extensão dos saltos aumentam com o passar dos meses e com a robustez que os cachorros vão alcançando. A iniciação ao salto, que começa com verticais de 10cm, induzirá mais tarde a saltos da mesma natureza com 120cm de altura. O ensinar um cachorro a saltar implica em acompanhá-lo e conduzi-lo à trela, para que aprenda o modo correcto de fazê-lo: a marcar a entrada ao obstáculo, a fazer a suspensão e a sair dele em segurança. Mais tarde, o animal virá a saltar em liberdade e sempre que lhe ordenarem. No que concerne ao corpo das verticais, evoluiremos das tapadas para as abertas, podendo ser as últimas de rede ou cruas (de uma só vara sobre um espaço aberto). Na foto abaixo podemos ver o CPA CAPO, agora com 8 meses, a saltar uma vertical de 40cm.
Como este cachorro trabalha há alguns meses e já alcançou a robustez necessária, convidámo-lo depois, no treino matinal deste dia, para transpor uma vertical fechada de 80cm em liberdade, desafio que venceu com grande naturalidade por havê-lo conseguido primeiro à trela e debaixo de forte incentivo, sendo depois generosamente recompensado de acordo com o seu empenho e esforço. Preocupados com o bem-estar das suas articulações, optámos por executar estes saltos num jardim relvado.
Com uma cerca de rede elevada 100cm do solo na nossa frente, achámos por bem, certos de que nenhum mal resultaria para o cachorro, convidá-lo para a sua transposição. Para melhor nos fazermos entender e também para facilitar o desempenho do animal, tapámos primeiro a vedação de rede com uma manta, constituindo-a assim numa vertical fechada. Depois de 2 ou 3 passagens bem-sucedidas, tirámos a manta e cão saltou confiante a rede que tinha na frente, segundo testemunha a foto que introduz este artigo e a que segue abaixo.
Afinal o que andámos a fazer hoje com este cão? A saltar? Bem mais do que isso. Estivemos a habilitá-lo física e psicologicamente para a sobrevivência, a trabalhar para que não morra baleado, queimado, soterrado ou afogado. A tanto nos obrigou o amor e o respeito que temos pelos cães.

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