Se tirarmos a nossa
preocupação com a sua salvaguarda, tudo o que ensinamos aos cães não passa de
circo e vaidade. Com os incêndios que têm assolado o País nos últimos anos,
mesmo com o cuidado que tem havido no resgate de animais, muitos cães acabaram
por morrer carbonizados, por não serem capazes de ultrapassar pequenas cercas e
muros onde se encontravam confinados, morrendo literalmente à distância de um
pulo para a vida. Há uma dezena de anos atrás, uma conhecida nossa que abrigava
cães abandonados, recolheu 3 num quintal entre dois prédios cercados por um
muro de 120cm. Um incêndio deflagrou, alastrou-se às duas habitações e
estendeu-se ao quintal, sem saber como sair, os animais foram ali incinerados
vivos.
Para além doutros usos,
que são acessórios, ensinamos os cães a saltar tendo como objectivo a sua
sobrevivência, quando rodeados de barreiras físicas que impedem de pôr-se a
salvo, diante de circunstâncias como inimigos armados, incêndios, desabamentos,
inundações, queda de árvores, terramotos e outros cataclismos. Diante destas
eventualidades, cada vez mais recorrentes com as alterações climáticas, todos
os cães confinados em quintais deverão estar aptos, quando tal for necessário, para
transpor as barreiras que delimitam as propriedades que os albergam. Na
impossibilidade dessas transposições, caberá aos donos arranjar saídas de
emergência para os animais.
Ensinar um cão a saltar é
uma brincadeira que começa aos 4 meses de idade, altura em que começam a
demonstrar curiosidade e apreço por aprender. A altura e a extensão dos saltos
aumentam com o passar dos meses e com a robustez que os cachorros vão alcançando.
A iniciação ao salto, que começa com verticais de 10cm, induzirá mais tarde a
saltos da mesma natureza com 120cm de altura. O ensinar um cachorro a saltar implica
em acompanhá-lo e conduzi-lo à trela, para que aprenda o modo correcto de
fazê-lo: a marcar a entrada ao obstáculo, a fazer a suspensão e a sair dele em
segurança. Mais tarde, o animal virá a saltar em liberdade e sempre que lhe
ordenarem. No que concerne ao corpo das verticais, evoluiremos das tapadas para
as abertas, podendo ser as últimas de rede ou cruas (de uma só vara sobre um
espaço aberto). Na foto abaixo podemos ver o CPA CAPO,
agora com 8 meses, a saltar uma vertical de 40cm.
Como este cachorro trabalha
há alguns meses e já alcançou a robustez necessária, convidámo-lo depois, no
treino matinal deste dia, para transpor uma vertical fechada de 80cm em
liberdade, desafio que venceu com grande naturalidade por havê-lo conseguido
primeiro à trela e debaixo de forte incentivo, sendo depois generosamente
recompensado de acordo com o seu empenho e esforço. Preocupados com o bem-estar
das suas articulações, optámos por executar estes saltos num jardim relvado.
Com uma cerca de rede
elevada 100cm do solo na nossa frente, achámos por bem, certos de que nenhum
mal resultaria para o cachorro, convidá-lo para a sua transposição. Para melhor
nos fazermos entender e também para facilitar o desempenho do animal, tapámos
primeiro a vedação de rede com uma manta, constituindo-a assim numa vertical
fechada. Depois de 2 ou 3 passagens bem-sucedidas, tirámos a manta e cão saltou
confiante a rede que tinha na frente, segundo testemunha a foto que introduz
este artigo e a que segue abaixo.
Afinal o que andámos a
fazer hoje com este cão? A saltar? Bem mais do que isso. Estivemos a
habilitá-lo física e psicologicamente para a sobrevivência, a trabalhar para
que não morra baleado, queimado, soterrado ou afogado. A tanto nos obrigou o
amor e o respeito que temos pelos cães.
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