segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A TERAPIA QUE ESCOLHERIA

Os jornais online britânicos têm vindo a dar notícia do ataque perpetrado por dois cães, possivelmente Staffordshires, sobre um rapaz de 11 anos num parque em Speke, Condado de Merseyside, Liverpool, no passado mês de Junho, enquanto brincava com os amigos, deixando-o profundamente traumatizado e ferido, conforme se pode ver na foto abaixo.
O pai do garoto achou por bem, ao vê-lo naquelas condições (físicas e psicológicas) e pensando na sua recuperação, livrar-se dos cães que tinham em casa, um Labrador de 7 anos, escolhido e criado pelo garoto e uma Pastora Alemã com 4 anos de idade (na foto seguinte), que foram separados e entregues a amigos, o que nem para os cães foi a melhor opção.
Ao que parece, a recuperação psicológica do rapaz tem sido lenta, porque demorou uma semana a retornar à escola e dela regressou a vomitar, apesar de haver retomado ao boxe. Agora, quando vê um cão, tende a esconder-se atrás do pai e resiste em ir sozinho até à paragem do autocarro que dista da sua casa apenas 10 metros, temendo que lhe surja qualquer cão pela frente. À parte disto, o garoto sente-se culpado pela saída forçada dos cães da família.
A terapia preconizada pelo pai da criança, se assim se puder chamar, eu jamais a faria, porque ao invés de solucionar o problema só irá agravá-lo, problema que podia começar a ser solucionado pela contribuição dos cães familiares que foram desalojados, já que a má imagem que o garoto tem dos cães não desaparecerá apenas pela sua ausência ou distância. Ao invés, fará com que este miúdo, a entrar na adolescência, venha mais tarde a ser mordido por qualquer cão por evidenciar medo, reacção que os cães associam atavicamente às suas presas.
Se o filho fosse meu, e recomendo o mesmo procedimento para os nossos leitores obrigados a enfrentar uma situação destas, começaria por harmonizá-lo com os cães familiares, seus conhecidos e ligados a experiências felizes, que ainda por cima têm o mau hábito de confortar os donos quando os vêem tristes ou abatidos. Vencida esta fase, ainda que a uma distância cómoda para o garoto, começaria a convidá-lo para a observação dos cães alheios, ensinando-o em simultâneo a identificar as suas expressões mímicas e vozes, que denunciam os seus diferentes comportamentos.
Uma vez aprovado nesta face, depois de habilitado a decifrar as intenções dos cães, acompanhá-lo-ia para mais perto dos animais, questionando-o acerca dos comportamentos sucedâneos à sua linguagem gestual, aumentando assim a sua confiança e diminuindo desse modo o medo injustificável. Depois interagiria com um ou mais cães enquanto me observaria e finalmente chamaria um dos seus colegas, de preferência um menor, mais novo e mais frágil para fazer o mesmo, para que se sentisse mais confiante e em vantagem – apto para fazer o mesmo.
Depois de alcançada essa meta e vitória, levá-lo-ia a um centro de treino canino vocacionado para cães de suporte e assistência, onde o deixaria interagir pelo tempo necessário com os cães. Daí, depois ultrapassadas as possíveis dificuldades e atendendo à sua idade (11 anos), deslocar-me-ia com ele a uma escola de agility canina, para que se familiarizar-se com os diferentes andamentos naturais presentes nos cães e conseguisse sair dali capaz de conduzir/liderar alguns.
Com mais esta etapa vencida, levá-lo-ia a uma escola própria para cães de guarda, para ali se familiarizar com as técnicas usadas, com os diferentes tipos de ataque e particularidades de algumas raças destinadas àquele serviço, para além de lhe adiantar técnicas de defesa e de imobilização, assim como os procedimentos correctos diante do ataque de uma matilha. Com a confiança em alta, pedir-lhe-ia, comigo ainda a seu lado, que se imobilizasse no solo correctamente, perante o avanço de um cão a 50m.
Seguidamente suportaria o ataque à manga de um cão e colocaria o rapaz na minha retaguarda, repetindo este exercício até que me pedisse para fazer mesmo comigo ao seu lado. Seguro e convenientemente incentivado, levá-lo-ia a suportar o ataque comigo à distância, primeiro com cães mais leves e menos violentos, depois com os mais pesados e duros a sacudir. É difícil de dizer quanto tempo demoraria a recuperação do garoto, mas estou convencido que seria mais célere do que a tirada a partir do afastamento dos cães.
E, depois disto, ver-me-ia aflito para afastar o rapaz do “vício” dos cães!

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