Sempre ouvi dizer e
ninguém até hoje o desmentiu, que os Vândalos foram obrigados a sair da
Península Ibérica e que rumaram ao Norte de África. Mas, atendendo a certas
práticas cruéis que vitimam galgos e podencos em território espanhol, sou
obrigado a não dar crédito ao que sempre me disseram. Muitos destes cães, finda
a época da caça à lebre, quiçá por não serem considerados animais de estimação,
acabam martirizados de vários modos: abandonados, atropelados, arrastados por
viaturas, de ossos quebrados, enforcados em árvores, jogados em poços,
queimados vivos, mortos à fome, envenenados e até injectados com lixívia,
brutalidade que é alheia à esmagadora maioria dos povos peninsulares, mas que a
todos envergonha, porque tendencialmente somos todos colocados dentro do mesmo
saco pelos restantes europeus. Finalmente, no dia 1 de Fevereiro deste ano, catorze
anos depois da França, a Espanha assinou a CONVENÇÃO EUROPEIA SOBRE BEM-ESTAR ANIMAL, que sujeita os 47
estados membros do Conselho da Europa à sua observação.
Em França, no Departamento
da ALTA SABOIA,
em HAUTEVILLE-SUR-FIER,
todos os anos chegam dezenas de galgos espanhóis que encontram refúgio na ASSOCIAÇÃO LÉVRIERS 74,
em cuja origem se encontra BÉATRICE
BOUVIER, que a fundou há 8 anos atrás e que desde daí não pára
de resgatar cães provenientes da Andaluzia, uma verdadeira “nuestra señora de y para los galgos
españoles”, porquanto continua a insistir em dar-lhes uma segunda chance,
ao recolhê-los, tratá-los e proceder à sua adopção.
Seus já tem vários e todos
de origem andaluza. Desde 2010 já adoptou quase 400 galgos e podencos, a sua
associação trabalha em conjunto com dois refúgios no sul de Espanha, um dos
quais cuida de 250 a 300 cães. Os dois abrigos mandam-lhe os seus exemplares
mais fracos, acompanhados dos seus documentos actualizados (passaporte e
vacinas) e observados por um veterinário 48 horas antes da sua viagem através
dos Pirinéus e da França, até chegar a Hauteville-sur-Fier. O último cão que lhe
chegou às mãos foi uma cadelinha podenca (na foto seguinte), com 1 ano de
idade, muito submissa, que se negava a comer, a quem foi posto o nome de BRISA e
que viajou da Península Ibérica até à Alta Saboia.
Estes cães resgatados são,
na boca de quem os recolhe, trata e recupera, extraordinariamente “fofinhos e
calmos”. Para além disso, como animais de matilha e acostumados a viver nela,
adaptam-se muito bem aos outros cães, constituindo com facilidade matilhas heterogéneas.
Os malfadados galgos espanhóis, agora transformados em radiantes lévriers
français, por terem o pêlo raso, irão necessitar de casacos para o rigoroso
Inverno francês, ainda mais na Alta Sabóia com os Alpes ali ao lado.
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