domingo, 30 de setembro de 2018

NÓS POR CÁ: ELA SIM; ELE NÃO!

Neste pequeno país de muitas tricas partidárias e de pouca obra realizada, com uma dívida externa que dava para fazer três países iguais, as novidades são poucas e a maioria vem do exterior. Esta Pátria outrora descrita como de brandos costumes, talvez para aumentar o seu desassossego, já tem um canal televisivo do tipo ”mata, esfola”, onde diariamente jorram crimes acabados de fazer. Ainda que o roubo do material militar acontecido em Tancos mereça algum destaque, o protagonismo vai para o assassínio do triatleta de Cachoeiras, Vila Franca de Xira, ao que parece abatido a tiro pelo conluio “esposa-amante”, depois de ter levado uma valente pancada na cabeça. Certo é que os presumíveis homicidas receberam, depois de ouvidos por um juiz, prisão preventiva como medida de coacção. E como o assunto virou ordem do dia, por todos os cantos se ouve: “Ela sim, foi ela que matou o marido com a ajuda do amante!”
Se porventura houver uma República Federativa Brasileira no Hemisfério Norte, o seu lugar será certamente em Portugal, atendendo ao número de brasileiros que aqui vive e trabalha, graças à facilidade estendida pela língua comum. Primeiro vieram os futebolistas, depois os dentistas, seguiram-se os trabalhadores não-qualificados e agora são os ricos que aqui compram casa. Num raio de 30 km das grandes cidades, nas estâncias turístico-balneares e nas sedes concelhias, também na indústria da noite, já não se estranha ouvir português do Brasil, porque a empregada do bar ou café  veio das Terras de Vera Cruz, como veio a esteticista, a cabeleireira, o trabalhador de construção civil, o repositor de supermercados, o curandeiro, o empregado de mesa, a mulher da limpeza e um sem número de indivíduos espalhados pelas mais diversas profissões, inclusive algumas infelizmente menos recomendáveis. Algumas brasileiras, valendo-se dos seus dons naturais, acabam por dar caça aos “portugas” necessitados de uma experiência revigorante e libertadora, sendo causa de muito divórcio, separação e de muito filho de pai velho.
Com tamanha aglomeração de brasileiros e com o amor que os liga à sua terra, é natural que tudo o que acontece no Brasil tenha aqui alguma repercussão e seja objecto de notícia. Ontem nas cidades de Lisboa e do Porto, as duas maiores de Portugal, a brasileirada saiu à rua e juntou-se às centenas para protestar contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, debaixo do slogan “ELE NÃO!” Estes manifestantes, na sua maioria mulheres, não pouparam adjectivos pejorativos e por demais ofensivos ao candidato em questão, qualificando-o como se fosse o mais vil dos homens. Como seria de esperar, não comentamos o que acontece na casa dos outros, a menos que o seu exemplo nos traga alguma vantagem ou importante lição. Ao que parece, a opinião pública brasileira encontra-se dividida entre dois extremos inconciliáveis que há muito se digladiam.
Deseja-se que o acto eleitoral brasileiro decorra debaixo do maior civismo e tranquilidade, que tanto os candidatos como o povo respeitem os resultados eleitorais – o Brasil merece!
PS: O actual fluxo migratório do Brasil para Portugal sucede, ainda que mais tarde, ao fluxo migratório no sentido inverso que ocorreu durante séculos.  

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