Tan
Kiat How, Ministro do Estado Sénior do Desenvolvimento Nacional de Singapura
(na foto abaixo), decidiu de livre e espontânea vontade, experimentar em si
mesmo várias coleiras de choques de diferentes marcas destinadas ao treino
canino, para ter conhecimento directo acerca daquilo que os cães sofrem. Ao
falar da sua experiência ao jornal The Straits Times (ST), o Sr. Tan disse:
“Foi importante para mim experimentar as coleiras electrónicas em mim mesmo
para entender melhor o que os cães passam e compreender melhor as perspectivas
dos vários grupos das partes interessadas”. Oficiais do Conselho de
Parques Nacionais (NParks) estavam a avaliar se tais coleiras de choque
deveriam ser usadas no treino canino e providenciaram para que ele
experimentasse uma variedade delas no seu braço. “Os colares electrónicos
causavam fortes dores quando colocados na sua maior intensidade. Não consegui
chegar à configuração máxima. Além da dor, foi o choque inesperado que mais me
desconsertou”, disse Tan. A questão do uso destas coleiras electrónicas nos
cães foi levantada no Parlamento ontem, dia 07 de março, pelo Sr. Louis Ng (Nee
Soon GRC), que solicitou ao Ministério do Desenvolvimento Nacional (MND) uma
actualização sobre um estudo que havia realizado acerca do uso de tais coleiras
no treino de animais.
As
coleiras electrónicas, quando accionadas, transmitem estímulos eléctricos de
variadas intensidades aos nervos do cão, causando dor ao animal. Elas são
frequentemente usados como um dispositivo de treino e podem ser configuradas
para intensidades variadas. Há um debate perene em Singapura e no exterior
sobre o uso destas coleiras no treino canino. Actualmente, as coleiras de
choque para cães são proibidas em lugares como Alemanha, Áustria, Dinamarca,
Noruega, Suécia, Portugal, Eslovénia, Suíça, País de Gales, Quebec no Canadá e
alguns estados da Austrália. A Inglaterra proibiu seu o uso a partir do dia 01
de fevereiro de 2024, após uma campanha de 10 anos de grupos de bem-estar
animal. Já em 1999, a Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra os Animais
apoiou uma proposta do Kennel Club de Singapura para proibir o uso destas
coleiras na República. O Governo encomendou um estudo sobre estas coleiras
electrónicas em 2020. Tan, que também é Ministro de Estado das Comunicações e
Informação, disse ao ST que o estudo concluiu que estas ferramentas só deverão
ser apenas utilizadas como último recurso, quando todos os métodos de formação
baseados na ciência estiverem esgotados.
“As
coleiras elétricas são consideradas ferramentas de treino aversivo que utilizam
punição positiva ou reforço negativo, aplicando choques eléctricos através de
pontos de contacto no animal. Embora possam existir circunstâncias excepcionais
que possam justificar a utilização de tais ferramentas de treino aversivas,
(elas) causam dor e angústia ao animal”, disse Tan no Parlamento. “Mais
importante ainda, o uso de tais ferramentas, incluindo o uso de colares
eléctricos, deve ser feito de forma adequada e por pessoal treinado para que os
resultados desejados sejam alcançados. A NParks não hesitará em tomar medidas
de fiscalização se colares eléctricos forem usados de forma inadequada.” Na sua
pergunta de acompanhamento no Parlamento, o Sr. Ng perguntou quais as
preocupações do MND sobre a proibição do uso de colares eléctricos em Singapura.
“Acho que o próprio Sr. Tan tentou usar o colar elétrico e é doloroso. Obviamente também é doloroso para os cães e é por isso que está a ser usado para treiná-los. Então, como poderia não ser um abuso físico quando causa dor e sofrimento aos cães que estão a ser treinados?” perguntou ele. Com ironia, o Sr. Tan disse que não sabia que o Sr. Ng “estava a monitorá-lo”. Ele disse mais tarde que testou as coleiras numa sessão à porta fechada com colegas do NParks. “Certamente não esperava que o Sr. Ng soubesse disso e levantasse o assunto no Parlamento. Mas pensei que era importante para mim experimentar as coleiras eléctricas em mim próprio, para compreender melhor o que os cães passam e apreciar melhor as perspectivas dos vários grupos das partes interessadas”, acrescentou (não há dúvida que o Sr. Ministro tem conhecimento de causa). Para mim, João Garrido, o uso das coleiras de choques eléctricos nos cães é o cúmulo da brutalidade e crueldade que podemos exercer sobre eles e uma manifestação do mais hediondo especismo. Nas décadas que levo a ensinar cães, nunca usei estes dispositivos e não os recomendei a ninguém, porque sempre os achei desnecessários, abusivos, lesivos e comprometedores dos laços afectivos que fomentam e fortalecem a desejável e fecunda cumplicidade, sem precisar de usá-los em mim para ter conhecimento do mal que fazem!
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