Para
quem tem como incumbência adestrar cães, as crianças são um tema incontornável,
apesar do seu número entre nós ter vindo a diminuir década após década.
Ultimamente, a natalidade em Portugal mostra sinais de vir a aumentar por via
dos emigrantes que para cá vêm, que apesar de se encontrarem na base da
pirâmide social, não deixam de ter filhos (brasileiros à cabeça). Estas crianças, por razões
culturais, por vezes até religiosas, não gozam de grande apreço pelos cães,
havendo uma maioria que os teme, invariavelmente composta por asiáticos e
africanos, não mostrando os sul-americanos idêntica fobia. As crianças dos
portugueses europeus não temem os cães, correm para eles deliberadamente a
despeito dos perigos que possam correr. Neste panorama, entre cinófobos e
abusadores, não nos sobra outro remédio do que condicionar os cães a respeitar
as crianças. E foi por aí que iniciámos ontem à tarde a nossa sessão de treino,
convidando uma menina de 11 anos a executar um salto com o Coco, o Beagle que é
a nossa mascote (GIF acima). Se assim começámos, assim terminámos, ao
convidarmos o pequeno Miguel, um menino de 2 anos, para se acercar do cachorro
CPA Thor, evidentemente com o consentimento da mãe do garotinho. O Thor adorou
a companhia e acabou por lamber a criança.
Como
não é só de sociabilização que é feito o treino de um cão, passámos para a
execução de passagens estreitas em planos elevados, visando combater a acrofobia
e com isso robustecer o carácter dos cães e torná-los mais versáteis, o que no
caso do CPA Thor é de extraordinária importância atendendo à idade que
atravessa.
Um
dos objectivos que neste momento pretendemos alcançar com o Coco é aumentar a
sua capacidade de concentração, que actualmente é ainda diminuta, o que nos
obriga à constante mudança de ecossistemas e tarefas para não perder o seu
interesse, evitar a sua saturação e captar a sua atenção.
E
porque alguém se lembrou de colocar dois obstáculos no recinto destinado aos
cocós dos cães, o que não é nada benéfico para a saúde dos animais, fomos lá de
passagem e fizemos os ditos obstáculos. Na foto abaixo vemos o CPA Thor a
executar a passerelle, a quem uma alma iluminada e de muito saber surripiou as
tábuas da entrada e da saída (zonas de contacto).
O
Beagle Coco também ali fez o “baloiço”, obstáculo mal concebido a lembrar uma
porta basculante, por ser largo e curto demais, o que o faz descer rápido demais
e causar um impacto ao solo desagradável. Não obstante, o Coco venceu-o sem
dificuldade.
Apesar
de gostar de fazer buracos, o Coco não foi originalmente criado para trabalhos
no subsolo, o que não impediu que iniciasse ontem o trabalho em escombros e
subterrâneos visando uma futura prestação de socorro. Como bom cão de sofá que
tem sido, o Beagle resistiu inicialmente à entrada das passagens subterrâneas,
executando-as depois alegremente e a contento.
Visando
neste trabalho a supressão de traumas, o desempenho alegre e a cativação do interesse
do animal, a sua introdução aconteceu em entradas e as tarefas com baixo grau de
exigência, partindo-se do fácil para o difícil e do simples para o complicado.
No
último dos momentos de supercompensação, porque importa recompensar e
equilibrar (de acordo com as exigências) o trabalho com a pausa, surpreendemos
o Coco a brincar com o seu condutor, que tinha na mão o biscoito que o Beagle
cria.
As metas propostas foram atingidas, os objectivos cumpridos e o Plano de Aula respeitado. O tempo esteve de feição e os ecossistemas escolhidos serviram na perfeição os conteúdos de ensino propostos.
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