quinta-feira, 7 de março de 2024

CRIANÇAS, TÚNEIS E PASSAGENS ESTREITAS

 

Para quem tem como incumbência adestrar cães, as crianças são um tema incontornável, apesar do seu número entre nós ter vindo a diminuir década após década. Ultimamente, a natalidade em Portugal mostra sinais de vir a aumentar por via dos emigrantes que para cá vêm, que apesar de se encontrarem na base da pirâmide social, não deixam de ter filhos (brasileiros à cabeça). Estas crianças, por razões culturais, por vezes até religiosas, não gozam de grande apreço pelos cães, havendo uma maioria que os teme, invariavelmente composta por asiáticos e africanos, não mostrando os sul-americanos idêntica fobia. As crianças dos portugueses europeus não temem os cães, correm para eles deliberadamente a despeito dos perigos que possam correr. Neste panorama, entre cinófobos e abusadores, não nos sobra outro remédio do que condicionar os cães a respeitar as crianças. E foi por aí que iniciámos ontem à tarde a nossa sessão de treino, convidando uma menina de 11 anos a executar um salto com o Coco, o Beagle que é a nossa mascote (GIF acima). Se assim começámos, assim terminámos, ao convidarmos o pequeno Miguel, um menino de 2 anos, para se acercar do cachorro CPA Thor, evidentemente com o consentimento da mãe do garotinho. O Thor adorou a companhia e acabou por lamber a criança.

Como não é só de sociabilização que é feito o treino de um cão, passámos para a execução de passagens estreitas em planos elevados, visando combater a acrofobia e com isso robustecer o carácter dos cães e torná-los mais versáteis, o que no caso do CPA Thor é de extraordinária importância atendendo à idade que atravessa.

Um dos objectivos que neste momento pretendemos alcançar com o Coco é aumentar a sua capacidade de concentração, que actualmente é ainda diminuta, o que nos obriga à constante mudança de ecossistemas e tarefas para não perder o seu interesse, evitar a sua saturação e captar a sua atenção.

E porque alguém se lembrou de colocar dois obstáculos no recinto destinado aos cocós dos cães, o que não é nada benéfico para a saúde dos animais, fomos lá de passagem e fizemos os ditos obstáculos. Na foto abaixo vemos o CPA Thor a executar a passerelle, a quem uma alma iluminada e de muito saber surripiou as tábuas da entrada e da saída (zonas de contacto).

O Beagle Coco também ali fez o “baloiço”, obstáculo mal concebido a lembrar uma porta basculante, por ser largo e curto demais, o que o faz descer rápido demais e causar um impacto ao solo desagradável. Não obstante, o Coco venceu-o sem dificuldade.

Apesar de gostar de fazer buracos, o Coco não foi originalmente criado para trabalhos no subsolo, o que não impediu que iniciasse ontem o trabalho em escombros e subterrâneos visando uma futura prestação de socorro. Como bom cão de sofá que tem sido, o Beagle resistiu inicialmente à entrada das passagens subterrâneas, executando-as depois alegremente e a contento.

Visando neste trabalho a supressão de traumas, o desempenho alegre e a cativação do interesse do animal, a sua introdução aconteceu em entradas e as tarefas com baixo grau de exigência, partindo-se do fácil para o difícil e do simples para o complicado.

No último dos momentos de supercompensação, porque importa recompensar e equilibrar (de acordo com as exigências) o trabalho com a pausa, surpreendemos o Coco a brincar com o seu condutor, que tinha na mão o biscoito que o Beagle cria.

As metas propostas foram atingidas, os objectivos cumpridos e o Plano de Aula respeitado. O tempo esteve de feição e os ecossistemas escolhidos serviram na perfeição os conteúdos de ensino propostos.

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