Houve tempos em que
nos envolvíamos em polémicas intermináveis, quando achávamos que tínhamos razão
e importava esclarecer. Hoje já não metemos nisso, porque compreendemos que
apesar do nosso esforço, ainda há quem persista em ser cego. A mentira mais em
voga relativa aos cães é que eles só são maus por causa dos donos, que a sua
maldade resulta exclusivamente do tratamento de que são alvo e que
geneticamente são uns anjinhos, como se não continuassem predadores, não
carregassem impulsos inatos para tal, não fossem criados para o efeito e não
fossem indivíduos e como tal, todos diferentes uns dos outros mesmo dentro da
mesma raça. A contradizer tudo isto está o aumento da procura dos rafeiros e a
prática recorrente à castração. E se há culpa humana a imputar, antes da
condenação dos donos, importa culpabilizar também os criadores, por não saberem
do seu ofício ou por seleccionarem deliberadamente cães para a desgraça. E se ainda
restarem dúvidas, resta dizer que os cães mimados mordem mais donos que os
privados dessas mordomias. E se a agressividade canina tivesse unicamente o
peso ambiental como base jamais os cães seriam verdadeiramente agressivos, já
que essa investidura, por falta de suporte, bem depressa cessaria. Por tudo isto
somos simultaneamente contra e a favor da lei dos cães perigosos.
Somos contra a lei porque
em todas as raças existem cães bons e maus e, somos a favor dela, porque
sabemos que alguns são produzidos para causar dolo e que outros nascem “acidentalmente”
assim. Nenhuma raça canina, quiçá também humana, é constituída exclusivamente
por indivíduos dominantes e valentes, subsistindo em todas elas indivíduos
diferentes que possibilitam o seu escalonamento social e por conseguinte a sua
sobrevivência. Condenar uma raça é fácil e generalizar nunca foi difícil,
porque as diferenças saltam à vista e bitolar indivíduos não requer grande esforço
ou sabedoria. Mais do que na raça há que considerar os indivíduos, para não
sermos surpreendidos como foi Megan Wright, uma canadiana de 37 anos, que em
Outubro do ano passado foi atacada numa paragem de autocarro (ponto de ônibus)
por um São Bernardo, que a perfurou onze vezes nas pernas e duas num cotovelo,
vindo a ser suturada com mais de 40 pontos, a ficar com uma rótula fracturada e
em risco de entrar em choque hipovolémico.
Assim como é mentira
que todos os cães sejam bons, também não é verdade que todos os cães de
determinada raça sejam maus. Há cães que são perigosos sem serem instigados
para isso e cães que teriam todas as razões para serem assim e permanecem
dóceis e submissos. Não se pode ignorar a genética nem tampouco o manuseamento
humano presente na selecção canina, porque donde menos se espera pode o perigo
espreitar.
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