terça-feira, 12 de julho de 2016

VERDADES E MENTIRAS

Houve tempos em que nos envolvíamos em polémicas intermináveis, quando achávamos que tínhamos razão e importava esclarecer. Hoje já não metemos nisso, porque compreendemos que apesar do nosso esforço, ainda há quem persista em ser cego. A mentira mais em voga relativa aos cães é que eles só são maus por causa dos donos, que a sua maldade resulta exclusivamente do tratamento de que são alvo e que geneticamente são uns anjinhos, como se não continuassem predadores, não carregassem impulsos inatos para tal, não fossem criados para o efeito e não fossem indivíduos e como tal, todos diferentes uns dos outros mesmo dentro da mesma raça. A contradizer tudo isto está o aumento da procura dos rafeiros e a prática recorrente à castração. E se há culpa humana a imputar, antes da condenação dos donos, importa culpabilizar também os criadores, por não saberem do seu ofício ou por seleccionarem deliberadamente cães para a desgraça. E se ainda restarem dúvidas, resta dizer que os cães mimados mordem mais donos que os privados dessas mordomias. E se a agressividade canina tivesse unicamente o peso ambiental como base jamais os cães seriam verdadeiramente agressivos, já que essa investidura, por falta de suporte, bem depressa cessaria. Por tudo isto somos simultaneamente contra e a favor da lei dos cães perigosos.
Somos contra a lei porque em todas as raças existem cães bons e maus e, somos a favor dela, porque sabemos que alguns são produzidos para causar dolo e que outros nascem “acidentalmente” assim. Nenhuma raça canina, quiçá também humana, é constituída exclusivamente por indivíduos dominantes e valentes, subsistindo em todas elas indivíduos diferentes que possibilitam o seu escalonamento social e por conseguinte a sua sobrevivência. Condenar uma raça é fácil e generalizar nunca foi difícil, porque as diferenças saltam à vista e bitolar indivíduos não requer grande esforço ou sabedoria. Mais do que na raça há que considerar os indivíduos, para não sermos surpreendidos como foi Megan Wright, uma canadiana de 37 anos, que em Outubro do ano passado foi atacada numa paragem de autocarro (ponto de ônibus) por um São Bernardo, que a perfurou onze vezes nas pernas e duas num cotovelo, vindo a ser suturada com mais de 40 pontos, a ficar com uma rótula fracturada e em risco de entrar em choque hipovolémico.
Assim como é mentira que todos os cães sejam bons, também não é verdade que todos os cães de determinada raça sejam maus. Há cães que são perigosos sem serem instigados para isso e cães que teriam todas as razões para serem assim e permanecem dóceis e submissos. Não se pode ignorar a genética nem tampouco o manuseamento humano presente na selecção canina, porque donde menos se espera pode o perigo espreitar.    

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