Serve-nos de mote o
fado “AI CHICO, CHICO”, que Amália Rodrigues
imortalizou, da autoria de Jörgen Elofsson, para abordarmos a actual visita do
Papa Francisco à Polónia e as considerações que teceu acerca das guerras
actuais, que segundo ele não são religiosas mas de cariz económico, lutas pela
posse dos recursos naturais e pelo domínio dos povos (não podíamos estar mais
de acordo). Esta visita do Papa jesuíta à Polónia, País onde a Companhia de
Jesus operou a reconversão do seu povo ao catolicismo, é de certa forma um regresso
a casa e tem sido alvo da cobertura das principais agências noticiosas
internacionais. O Líder dos cristãos romanos foi ao campo de extermínio de
Auschwitz, onde foram mortas mais de 1 milhão de pessoas, prestar homenagem às
vítimas e onde deixou, segundo o periódico francês “Le Fígaro”, a seguinte
mensagem no seu livro de visitas: “Senhor, tem piedade do teu povo; Senhor,
perdão por tanta crueldade”, como se aqueles que ali padeceram necessitassem de
ser empurrados para o Céu e os nazis já não os houvessem despachado. Tal
peregrinação, que vale apenas pelo reconhecimento do holocausto (o que é de louvar),
oxalá sirva também de futura lição para o papado, que no passado procedeu do
mesmo modo.
Diga-se em abono da
verdade que a nefasta prática dos nazis não constituiu novidade, porque beberam
inspiração e deram continuidade, ainda que em maior escala (Solução Final), às
torturas e autos de fé levados a cabo pelo “Tribunal do Santo Ofício”
(Inquisição) em séculos anteriores, sendo particularmente assassino na
Península Ibérica, onde o dominicano Tomás de Torquemada, de quem se diz ter uma origem
sefardita, se destacou pelas piores razões enquanto Inquisidor-Geral de
Espanha. A inquisição em Portugal e nisso os nossos maiores historiadores estão
de acordo, assentou mais sobre razões económicas que religiosas, considerando a
prosperidade dos judeus (muitos tornados cristãos por falta de outra
alternativa a não ser a morte) e a inexistência de um proselitismo hebraico. Por
alguma razão, o Papa Clemente VII anulou em 1532, a Bula que havia introduzido
no ano anterior a Inquisição em Portugal, o que tornou a perseguição aos judeus
numa “guerra santa” por razões económicas, razão ainda hoje por detrás de todas
as guerras, num acto que duma assentada violou todos os Mandamentos da Lei
Mosaica (10 Mandamentos; a Lei dada a Moisés).
Deseja-se que esta
visita do Papa latino-americano não seja um hipócrita “acto de contrição” ou uma protocolar cerimónia de “Lava-Pés” mas uma manifestação de verdadeiro arrependimento,
que os judeus e os cristãos bíblicos entendem como “ שו"ב “ (Shuv),
que vai para além de uma mera mudança de pensar e
que assenta num “arrepiar de caminho”, numa mudança de atitude e de prática no
sentido contrário. Como é impossível alterar as práticas assassinas dos papas
do passado, por decisão própria, conluio, interesse ou desinteresse, espera-se deste e dos
vindouros que lutem pela vida e dignidade humanas, dando seguimento ao que Cristo
disse: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a
sua vida pelos seus amigos” (João 15:3).
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