quinta-feira, 7 de julho de 2016

DETALHES SOBRE OS COMANDOS À DISTÂNCIA

Temos ouvido falar muito acerca de comandos à distância e muito pouco sobre o que são, como se alcançam e para que servem. Apostados em desambiguá-los e nada interessados em polémicas, porque não entramos nelas por convite mas quando assim o entendemos, decidimos escrever este artigo que esclarece a nossa opinião pela experiência e resultados que temos vindo a alcançar. Os comandos à distância, sucintamente, são ordens a executar pelos cães quando distantes dos seus donos e a trabalhar isoladamente, que na sua última fase podem dispensar parcial ou totalmente tanto a presença física dos seus líderes como a ordem expressa, alcançando os animais aquilo que normalmente designamos por “autonomia funcional”, que outra coisa não é que o principal fim útil do treino, sem o qual qualquer adestramento havido é precário, insuficiente e manifestamente incompleto, seja em que disciplina cinotécnica for, porque todas elas comportam acções deste tipo.
Para se alcançarem os comandos à distância, que não dispensam a condução em liberdade, é necessário haver aprovação binomial no condicionamento prévio (à trela e em liberdade), que o cão tenha suporte psicológico para tal e se agrade da tarefa, que a liderança do seu condutor seja inquestionável, activa e acertada, o que não irá dispensar o treino aturado de ambos. O trabalho começa em curtas distâncias e ao alcance da correcção dos cães pelos donos (num raio de 6 metros) e daí vai evoluindo para distâncias ordenadas até aos 100 metros. Nesta distância e para além dela, também nos trajectos ou percursos que cortem o contacto visual entre o dono e o animal, a linguagem codificada a utilizar terá que ser forçosamente outra para além da verbal (ultra-sons, rádio e outros dispositivos electrónicos sonoros), isto se houver mudanças de direcção ou necessidade de alertar o cão.
As acções condicionadas e repetitivas à distância (“ronda”, “guarda”, “busca”, etc.), naturais ou artificiais, são também consideradas comandos à distância, porque os cães trabalham para além da presença física dos donos (isoladamente), só necessitam de uma voz de acção e eventualmente outra de inacção, porque os animais sabem ao que vão até regressarem ao local de partida. É por demais evidente que nada disto seria possível sem o contributo de uma boa máquina sensorial, dos instintos próprios para a função e dos impulsos herdados que a garantem. Estas acções, que podem vir a sofrer alteração por diferentes motivos, sempre carecem de recompensa, recapitulação e aprimoramento, porque a ausência do dono induz o cão a rumo próprio e aumenta a sua vulnerabilidade, já que não nasceu para estar só e parte na certeza da chegada, trabalhando não só porque lhe dá gozo mas para ver reconhecidos os seus méritos, necessidade e aprovação social que não dispensa.
Os comandos à distância servem para melhor aproveitar as características particulares caninas, para o seu uso consensual e complementar, tirados a partir do trabalho de equipa pela cumplicidade alcançada nas metas anteriores, também para minimizar o esforço humano pela liberdade condicionada alcançada pelo cão. A diferença entre a condução em liberdade e os comandos à distância reside nisto: a condução em liberdade é uma meta, os comandos à distância o objectivo, o que faz de todos os exercícios de condução em liberdade preciosos subsídios para o alcance dos comandos à distância.
O préstimo destes comandos estende-se a todas as disciplinas cinotécnicas úteis e desportivas, graças à esmerada contribuição da obediência e dos respectivos comandos direccionais, também eles exercícios de liberdade condicionada (em frente, à frente, atrás, troca, roda/vira, para trás, up, abaixo/fura, à esquerda, à direita, devagar, aqui, etc.). Sem comandos à distância seria praticamente impossível efectuar operações de detecção, salvamento e resgate, prestar socorro, procurá-lo, ter um cão guardião, um pastor ou um atleta de agility. É por demais evidente que sem o contributo da sociabilização inter pares qualquer comando à distância fica imediatamente comprometido. Nem todos os comandos à distância são dinâmicos ou assentam sobre subsídios direccionais, também as figuras de imobilização (alto, senta, deita, quieto, morto, larga, etc.) constituem parte da sua exigência, assim como outros comandos próprios das diferentes especialidades.
Resumindo, comandos à distância são acções ordenadas ou condicionadas, com o dono distanciado do cão ou ausente, que resultam da condução em liberdade e que procuram a maximização do esforço canino como complemento das acções humanas, prestando-se a todo o tipo de disciplinas cinotécnicas até ao seu expoente máximo.

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