Temos ouvido falar muito
acerca de comandos à distância e muito pouco sobre o que são, como se alcançam
e para que servem. Apostados em desambiguá-los e nada interessados em
polémicas, porque não entramos nelas por convite mas quando assim o entendemos,
decidimos escrever este artigo que esclarece a nossa opinião pela experiência e
resultados que temos vindo a alcançar. Os comandos à distância, sucintamente,
são ordens a executar pelos cães quando distantes dos seus donos e a trabalhar
isoladamente, que na sua última fase podem dispensar parcial ou totalmente
tanto a presença física dos seus líderes como a ordem expressa, alcançando os
animais aquilo que normalmente designamos por “autonomia funcional”, que outra
coisa não é que o principal fim útil do treino, sem o qual qualquer
adestramento havido é precário, insuficiente e manifestamente incompleto, seja
em que disciplina cinotécnica for, porque todas elas comportam acções deste
tipo.
Para se alcançarem os
comandos à distância, que não dispensam a condução em liberdade, é necessário
haver aprovação binomial no condicionamento prévio (à trela e em liberdade),
que o cão tenha suporte psicológico para tal e se agrade da tarefa, que a
liderança do seu condutor seja inquestionável, activa e acertada, o que não irá
dispensar o treino aturado de ambos. O trabalho começa em curtas distâncias e
ao alcance da correcção dos cães pelos donos (num raio de 6 metros) e daí vai
evoluindo para distâncias ordenadas até aos 100 metros. Nesta distância e para
além dela, também nos trajectos ou percursos que cortem o contacto visual entre
o dono e o animal, a linguagem codificada a utilizar terá que ser forçosamente
outra para além da verbal (ultra-sons, rádio e outros dispositivos electrónicos
sonoros), isto se houver mudanças de direcção ou necessidade de alertar o cão.
As acções condicionadas e repetitivas
à distância (“ronda”, “guarda”, “busca”, etc.), naturais ou artificiais, são
também consideradas comandos à distância, porque os cães trabalham para além da
presença física dos donos (isoladamente), só necessitam de uma voz de acção e eventualmente
outra de inacção, porque os animais sabem ao que vão até regressarem ao local
de partida. É por demais evidente que nada disto seria possível sem o
contributo de uma boa máquina sensorial, dos instintos próprios para a função e
dos impulsos herdados que a garantem. Estas acções, que podem vir a sofrer
alteração por diferentes motivos, sempre carecem de recompensa, recapitulação e
aprimoramento, porque a ausência do dono induz o cão a rumo próprio e aumenta a
sua vulnerabilidade, já que não nasceu para estar só e parte na certeza da
chegada, trabalhando não só porque lhe dá gozo mas para ver reconhecidos os
seus méritos, necessidade e aprovação social que não dispensa.
Os comandos à distância
servem para melhor aproveitar as características particulares caninas, para o
seu uso consensual e complementar, tirados a partir do trabalho de equipa pela
cumplicidade alcançada nas metas anteriores, também para minimizar o esforço
humano pela liberdade condicionada alcançada pelo cão. A diferença entre a
condução em liberdade e os comandos à distância reside nisto: a condução em
liberdade é uma meta, os comandos à distância o objectivo, o que faz de todos
os exercícios de condução em liberdade preciosos subsídios para o alcance dos
comandos à distância.
O préstimo destes comandos
estende-se a todas as disciplinas cinotécnicas úteis e desportivas, graças à
esmerada contribuição da obediência e dos respectivos comandos direccionais,
também eles exercícios de liberdade condicionada (em frente, à frente, atrás,
troca, roda/vira, para trás, up, abaixo/fura, à esquerda, à direita, devagar, aqui,
etc.). Sem comandos à distância seria praticamente impossível efectuar
operações de detecção, salvamento e resgate, prestar socorro, procurá-lo, ter
um cão guardião, um pastor ou um atleta de agility. É por demais evidente que
sem o contributo da sociabilização inter pares qualquer comando à distância
fica imediatamente comprometido. Nem todos os comandos à distância são
dinâmicos ou assentam sobre subsídios direccionais, também as figuras de
imobilização (alto, senta, deita, quieto, morto, larga, etc.) constituem parte
da sua exigência, assim como outros comandos próprios das diferentes
especialidades.
Resumindo, comandos à
distância são acções ordenadas ou condicionadas, com o dono distanciado do cão
ou ausente, que resultam da condução em liberdade e que procuram a maximização
do esforço canino como complemento das acções humanas, prestando-se a todo o
tipo de disciplinas cinotécnicas até ao seu expoente máximo.
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