Parece caricato mas
acontece: ainda há quem não saiba se deve treinar o seu cão ou mandá-lo
treinar, se ir com ele a uma escola ou entregá-lo nas mãos dum profissional!
Comecemos pela última hipótese: quando é que um cão deve ir parar às mãos dum
profissional. Só duas razões justificam esta opção: o aprimoramento do cão
nalguma especialidade para além da competência ou alcance do dono e a negação
absoluta do animal em aceitar a sua liderança, ao ponto de colocar em risco a
sua integridade física e a de terceiros. Não conhecemos outras razões que
validem tal opção, muito embora saibamos que ela é amplamente requerida pelos
donos “indisponíveis”, aqueles que dizem não ter tempo para tal obrigação, que
preferem pagar ao invés de se incomodarem, indivíduos por norma muito exigentes
e pouco dedicados aos seus cães, que invariavelmente acabam mal servidos ou
incapazes de conduzi-los satisfatoriamente.
Que vantagens oferece o
treino operado pelo dono? Como são inúmeras, o que tornaria este artigo muito
extenso e possivelmente maçador, adiantaremos apenas as mais importantes,
sabendo que esta opção beneficia tanto o dono como o cão, vantagens que terão
como reflexo uma sólida e duradoura unidade binomial, porque a experiência
conjunta leva a um melhor conhecimento recíproco dos elementos que constituem o
binómio, o que fortalece os vínculos afectivos de ambos pelo vencer das
dificuldades através da parceria e da cumplicidade. Como é sabido, o
adestramento encetado pelo dono é um processo pedagógico que, ao ser mais
lento, acontece sem atropelos e de acordo com os seus tempos de apreensão
cognitiva que diferem de condutor para condutor. À parte disto, o dono, ao ser
o principal agente de ensino do seu cão e por não lhe ser estranho, transforma
o treino numa extensão dos cuidados domésticos havidos, o que facilita a
assimilação canina dos conteúdos de ensino pela diminuição da resistência.
Para aqueles que pretendem
um cão unipessoal, impoluto e incorruptível, este é a única opção que isso
garante, porque o animal obedece e evolui exclusivamente por solicitação do dono,
facto que jamais sucederia se fosse treinado por outra pessoa, a quem
obedeceria mais prontamente e da qual possivelmente se enamoraria, preferindo-a
em relação ao seu proprietário. Na eventualidade de se desejar um cão para
defesa e segurança, o treino efectuado pelo dono é também o mais indicado,
porque a investidura pretendida não obrigará à despromoção social do cão,
despromoção que sempre acontece quando várias pessoas dominam sobre ele,
relegando-o hierarquicamente para um ou mais lugares abaixo, o que invariavelmente
acarreta uma prestação de serviço mais débil ou uma execução carente de
condições.
Pondo de parte as questões
ligadas ao aproveitamento do animal e considerando a sua necessidade de
bem-estar, condição essencial para que se agrade do treino e nele evolua,
importa dizer que aprender com o dono é menos stressante e mais agradável que
aprender com um estranho. O mesmo se pode dizer sobre a sociabilização do cão
com outros cães, já que é na mão do dono que se vai cruzar com outros no meio
da rua. Ao ir à escola com o cão e ao apreender a controlá-lo, a familiarizá-lo
e a sociabilizá-lo com os seus colegas de classe, o dono sai com ele à rua mais
confiante e experiente, sabendo de antemão como proceder porque treinou para
isso.
E se considerarmos os cães
muito submissos, inibidos ou traumatizados (os afectados pelo medo), nas mãos de
quem evoluirão mais? Em quem confiarão mais depressa?
Entregar o cão a outro para
o ensinar não será uma traição ao animal? Treinar o cão é um dos deveres do dono,
um prazer que melhorará a comunicação de ambos até ao perfeito entendimento, é
partir à descoberta de um mundo até ali desconhecido e usufruir da ímpar harmonia
que o contacto interespécies oferece, onde cada uma se completa na outra e ambas
formam um todo quase indivisível!
Não sei do que está à espera,
aceite o desafio e experimente a felicidade que teimamos em não largar!
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