E porque ainda há quem
persista em mandar cortar a cauda e as orelhas aos seus cães, importa-nos
demonstrar as implicações sociais e atléticas desta opção nestes animais, dispensando-nos
de abordar as questões ligadas ao mal-estar causado e aos riscos da anestesia, da
perda de sangue e de infecção por serem do conhecimento geral. Todos sabemos
também que essas amputações alteram a apresentação dos cães, alterações que
impedem a compreensão imediata dos seus estados anímicos pela menor visibilidade
das expressões mímicas que os denunciam, fornecidas pelas diferentes colocações
das orelhas e da cauda, tanto aos homens como aos outros cães, contratempo que
em nada ajuda à sua compreensão e sociabilização, uma vez que sempre desfilam em
porte majestático mercê das amputações, engano mais do que suficiente para
serem mal-entendidos, que vistos como perigosos pelas pessoas e provocadores pelos
seus iguais, acabam invariavelmente vítimas da sua antipatia.
Para além das implicações
sociais, acrescem aos cães assim amputados menos valias atléticas pela
inexistência da cauda, que sendo imprescindível ao seu desempenho físico
acertado, acaba por obrigá-los a esforços maiores e de maior risco,
nomeadamente na transposição de obstáculos e na presença de animais rectos ou
menos angulados de traseira, porque não tendo cauda falta-lhes o leme, são obrigados
a saltos mais distantes dos obstáculos, mais altos e menos arredondados, apresentando
maiores dificuldades de travamento, factores que interligados e associados a
cães quadrados, pernaltos ou obesos, concorrem significativamente para lesões
imediatas ou a médio prazo.
O hábito destas amputações
tem uma origem pastoril e perpetuou-se entre os cães de arena desde tempos
imemoráveis, porque as orelhas são fortemente irrigadas de sangue e importava
que não se esvaíssem no desempenho das suas actividades, quer dessem caça aos
predadores, caçassem em locais de vegetação espinhosa ou lutassem entre si.
Pelas razões sociais atrás citadas, muita gente tem comprado gato por lebre,
comprado cães cobardes com aparência de valentes, estratégia que tem servido de
sobremaneira a criadores menos escrupulosos e necessitados de escoar a escória
da sua produção. O que mais atemorizará: um Doberman de orelhas tombadas ou
outro com elas amputadas? Felizmente, em abono dos cães, do seu bem-estar e
aceitação, esta prática tem vindo a ser proibida um pouco por toda a parte,
muito embora ainda se vejam animais assim amputados para gáudio dos seus donos,
que o fazem por razões estéticas, suprir desejos de saudosistas ou para
assustar os outros.
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