sábado, 23 de julho de 2016

UM AUXÍLIO COMPROVADO PARA AS FAMÍLIAS COM FILHOS AUTISTAS

Há que subtrair os exageros que se ouvem e lêem acerca das mais-valias caninas, porque provêm de cinófilos confessos, os cães estão na moda e estas circunstâncias têm vindo a transformá-los numa panaceia, a exemplo do que se passou com o Aloé Vera e outros produtos naturais (um apicultor dirá sem grande dificuldade que o Própolis é a solução para todas as maleitas).
É evidente que ainda não se descobriram todas as vantagens que um cão de companhia tem para oferecer, até porque a sua existência tal como o conhecemos hoje é relativamente recente, tornou-se mais visível a partir da última década do Séc. XIX e o recurso sistemático aos cães de terapia sucedeu apenas há 30 anos atrás, ainda que os cães-guias levem um século de existência. Por outro lado, a exaltação dos méritos caninos está associada a múltiplos factores, dos quais destacamos a migração humana do campo para as cidades, o stress urbano e o viver citadino, o descontentamento e suspeita relativos aos medicamentos sintéticos, o aumento da riqueza, maior justiça social e a menor taxa de natalidade nas famílias do Mundo Ocidental, sendo este último facto responsável pela maior procura e apreço pelos cães, que hoje como nunca tendem a substituir os filhos e que são objecto de uma veneração nunca vista, como se o lobo familiar fosse uma divindade finalmente revelada.
Recentemente vários investigadores têm levado a cabo e publicado estudos onde avaliam os benefícios dos cães de companhia nas famílias com filhos autistas, comprovando que a presença destes animais é benéfica tanto para os pais como para as crianças, porque nos primeiros oferece-lhes cumplicidade, reforça-lhes os esforços e liberta-os do stress, contribuindo assim para uma harmonia familiar menos desgastante, uma vez que facilitam a interacção com as crianças e ajudam-nas a ser mais responsáveis.
Já em Abril de 2014 investigadores da Universidade de Missouri-Columbia/USA haviam chegado a estas conclusões e agora investigadores da Universidade de Lincoln/UK, financiados pela Fundação norte-americana HUMAN ANIMAL BOND RESEARCH INITIATIVE (HABRI), vieram comprová-las. Diz-nos a experiência que nem todos os cães se prestam como animais de companhia e um grupo muito menor conseguirá desempenhar a tarefa, isentando pais e crianças de riscos desnecessários. Para que tudo corra sem novidade e os resultados esperados sejam alcançados, é necessário que os cães sejam objecto de escolha, fáceis de se ambientar, cúmplices e submissos, pouco territoriais, calmos e com fracos ou inexistentes impulsos à defesa, à luta e ao poder, porque doutro modo, como reacção ao stress provocado, poderão descarregar sobre as crianças portadoras deste distúrbio neurológico, caracterizado por dificuldades na interacção social, na comunicação verbal e não-verbal, e por um comportamento repetitivo e restrito.
Ao longo da nossa existência pudemos comprovar os benefícios caninos sobre crianças com distúrbios neurológicos iguais ou similares, indivíduos que nunca tratámos como anormais e dignos de pena mas que convidámos como iguais para o nosso meio apostados na sua recuperação. Certamente haverá outros animais que se prestarão para a tarefa mas nenhum deles tornará a desejável interacção mais fácil que o cão, um animal que criámos para servir e que assim tem permanecido ao longo dos tempos, um companheiro que ao invés de ser Deus atribui aos seus donos um estatuto quase divino, prontificando-se a tudo para os fazer feliz. 

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