Não há dúvida que os
proprietários caninos portugueses estão muito mal servidos de escolas para os
seus cães, como não há dúvida que são pouco exigentes e com pouco se contentam,
não fora a ignorância um dos maiores negócios (talvez o maior) deste mundo e a
vaidade causa de tanto disparate. A esmagadora maioria dos centros de treino
caninos aqui existentes ensina os seus pupilos na perspectiva de uma ou várias
modalidades desportivas, esquecendo a sua salvaguarda, saúde e bem-estar,
apesar do grosso dos seus binómios abominar as competições e os donos
pretenderem apenas ter um animal de companhia bem-comportado. No geral, o
parque de obstáculos que têm à sua disposição é pobre e escasso, de lamentável
concepção, dúbio conceito, mal apresentado, invariavelmente mal conservado e de
pouco ou nenhum préstimo. Considerando os preços praticados, que são por vezes
irrisórios, há quem diga que para quem é bacalhau basta!
Apesar
de serem muitos os obstáculos e aparelhos em falta, necessários à recuperação,
manutenção, desenvolvimento e maior aptidão dos índices atléticos caninos, em
quase todas as escolas falta um em particular: a piscina, obstáculo que se
presta à hidroterapia e que é indispensável para a salvaguarda dos cães. A
hidroterapia, para além de ajudar na convalescença e recuperação dos cães
saídos de lesões, de pós-operatórios ou condenados à inactividade por várias
razões, é aqui primordial, considerando o pouco despiste que aqui é feito sobre
a displasia do cotovelo presente nalgumas raças, que inibe grandemente o
trabalho dos anteriores em qualquer dos andamentos naturais dos cães por ela afectados.
Saiu recentemente um
estudo da autoria de um grupo de investigadores do Hartpury University Centre/UK,
divulgado pela Society for Experimental Biology, acerca das vantagens da
hidroterapia num grupo de Labradores com displasia do cotovelo, onde se faz
saber que a claudicação de anteriores neles verificada foi suavizada graças à
hidroterapia, saindo dela com uma maior amplitude de movimento, frequência de
passos e comprimento de passada. No mesmo estudo foi verificado que os cães
saudáveis convidados para a hidroterapia apresentaram andamentos mais soltos
quando no solo. Ora, se os adestradores estão em falta, o que dizer das
clínicas veterinárias que não oferecem ou não recomendam a hidroterapia?
Pondo de parte as questões
terapêuticas, que de modo algum deverão ser desconsideradas, acresce o facto de
muitos cães nadarem mal ou de não serem capazes de fazê-lo, inaptidão que
importa vencer diante da sua salvaguarda, prestando-se a piscina cabalmente
para esse efeito. No Verão, havendo uma piscina na pista de obstáculos, ela
poderá ser usada para refrescar os cães nos momentos de supercompensação,
constituindo-se assim como parte integrante do reforço positivo, já que os
cães, depois de cómodos dentro de água, não querem outra coisa!
Há uns meses atrás
perguntámos a um adestrador porque não tinha uma piscina na sua escola, para
surpresa nossa respondeu-nos: “se os donos querem piscina para os cães que usem
a deles e, se não tiverem uma, que vão prá dos amigos”. Tal sentença trouxe-nos
à memória uma idêntica, proferida por um funileiro no pós-25 de Abril, na sua
qualidade de presidente duma colectividade dedicada a dar chutos na bola,
situada nos arrabaldes de Lisboa, que interpelado pelos associados acerca da
necessidade de um pavilhão gimnodesportivo, não foi de modas e respondeu-lhes
assim: Pavilhão Gimnodesportivo, ginástica? Os nossos jogadores já o fizeram na
barriga das mães!”
E se a piscina está em
falta nos nossos centros de treino, também é inexistente na maioria dos hotéis
caninos, o que economicamente não se justifica pelos preços exorbitantes que
cobram aos seus clientes. Infelizmente ainda há muita gente que não entende
ser um hotel canino diferente de um amontoado de chiqueiros para porcos. E como
o mundo não pára, quem se agarrar ao passado não alcançará o futuro. O cúmulo
dos cúmulos é vermos uma placa de uma escola a dizer: “ensinamos cães para resgate e
salvamento” e não ter no seu perímetro uma piscina! Enquanto a situação não
mudar, felizes são os cães cujos donos têm uma à sua disposição.
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