Chega de dizermos mal uns
dos outros, que inclinação fratricida e atroz nos domina, como podemos
sobreviver como nação se o maior inimigo de um português é outro nascido no
berço pátrio? Portugal não é só um país de poetas mas também uma tradicional nação
de zoófilos. O amor que temos pelos animais estendeu-se aos nossos escritores e
poetas, muito antes da antrozoologia ser considerada como ciência, sendo as
citações de alguns verdades insofismáveis e currículo obrigatório para quem
gosta, cuida e educa animais. Teixeira de Pascoaes, um poeta do saudosismo,
disse um dia: “Os animais são pessoas,
como nós somos animais”. Pessoa foi mais longe ao dizer: “O homem não sabe mais que os outros
animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.”. Tendo como
base estas citações, depois de reflectirmos sobre elas e descortinado as
verdades que encerram, decidimos explicar a sua importância para o adestramento,
algo para além da poesia, que ao ser aprendido e praticado, eleva o ensino
canino acima das quimeras pelo sonho tornado realidade.
Comecemos pela sentença de
Pascoaes: “Os animais são pessoas, como nós somos animais”. Não deixa dúvidas a
ninguém que o poeta aristocrata de Amarante se está a referir ao respeito pelos
animais e pelos seus direitos enquanto seres vivos. Em simultâneo está a
alvitrar que todos são diferentes entre si como as pessoas, verdade que também
se estende aos cães e que muito nos importa, porque o adestramento visa a sua adaptação
e capacitação de acordo com o potencial individual de cada um deles, pelo que
os métodos de ensino não são universais e muito menos os conteúdos escolares a
transmitir. Tal como as pessoas, os animais têm diferentes vocações que importa
descobrir e potenciar, saber que impede o adestramento de se transformar numa
actividade contra-natura.
Dizia Fernando Pessoa e
bem que: “O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o
que precisam saber. Nós não.”, pensamento que em nada foge à verdade e que por
isso mesmo é irrefutável, porque os animais vivem da experiência que alcançam e
os homens são embalados (por vezes traídos) pela esperança que não lhes dá
tréguas nem descanso, capacidade que os leva à ambição, a ir para diante e ao
querer saber mais, inquietude que tudo põe em causa e que para tudo procura
explicação. Esta capacidade humana, que vai para além do instinto de
sobrevivência também presente nos animais, obriga-nos a preparar os nossos cães
para os desafios quotidianos, a alertá-los para os perigos que os cercam e a
adaptá-los para que vivam mais tempo, porque vivem na perspectiva do dia de ontem
e não sabem o que os aguarda amanhã. Contrariamente aos animais selvagens, cuja
autonomia lhes garante o saber necessário para a subsistência e para a
sobrevivência, o cão ao tornar-se dependente dos homens entregou-lhes a sua
sorte e casou o seu destino com o deles, cedência e fragilidade que nos remetem
para a necessidade do seu ensino, por maiores que sejam as nossas ambições ou
dúvidas existenciais.
A cinotecnia, enquanto
actividade transformadora, outra coisa não é que a poesia do concreto, porque
os cães incorporam os sonhos dos homens, dão-lhes protecção, fazem-lhes
companhia, servem-lhes de inspiração, criam-lhes momentos de felicidade nunca
experimentados, pequenas glórias e gozos espontâneos que jamais esquecerão. A
inglesa Mary Ann Evans (1819-1880), escritora mundialmente conhecida pelo
pseudónimo masculino de “George Eliot”, em cuja obra reflectia os conflitos do
ser humano como a angústia, o desespero e a busca da razão da vida, disse a
determinado trecho: “Os animais são amigos tão agradáveis: não fazem perguntas,
não criticam”, assim são também os cães e talvez por causa disso os tenhamos em
tão alta estima. Num País de poetas não podem faltar adestradores capazes!
PS: A propósito, não se tratem como cães uns aos outros, tratem-se como eles nos tratam a nós!
PS: A propósito, não se tratem como cães uns aos outros, tratem-se como eles nos tratam a nós!
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