quarta-feira, 27 de julho de 2016

BOX & MANGA: UMA VELHA RECEITA DO SCHUTZHUND

Ultimamente temos dedicado alguns artigos relativos à recuperação dos cães medrosos, quer hajam nascido assim ou tenham sido vítimas de algum trauma, muito embora nenhuma das causas seja de categórica e fácil eliminação, sendo ainda mais difícil recuperar aqueles que somaram à razão genética outra ambiental. O medo dos humanos é mais comum nos lobos que nos cães e sempre que ele se torna visível nos últimos, não sobrando daí nenhuma razão ambiental, algo de errado aconteceu na selecção dos seus progenitores, que ao invés de dotarem a sua prole da adaptabilidade necessária à sua coabitação prestativa, antes lhe transmitiram a desconfiança e o medo ancestrais.
Imagine-se um cão que teme qualquer pessoa e o comportamento de todas, que resiste a circular no meio delas e que tem pavor das suas festas, apesar de evoluir satisfatoriamente no seu ambiente e perante pessoas que conhece desde sempre. Neste caso, para que leve de vencida os seus receios “infundados”, connosco ao seu lado a acalmá-lo, importa colocá-lo dentro de uma box de transporte num local público, onde passe um número razoável de transeuntes, para que os possa observar (estudar o seu comportamento) sem ser incomodado, porque doutro modo a sua sociabilização resultaria mais difícil. Porquê uma box de transporte e não uma feita totalmente de grades de ferro? Caso optássemos por uma box de grades, a sua exposição seria maior e o pânico dela resultante, pela vulnerabilidade oferecida, atentaria contra o nosso propósito. Uma box porquê? Porque lá dentro sentir-se-á mais protegido, não será surpreendido pela retaguarda, observará quase sem ser visto e prontamente reagirá à aproximação de estranhos, quer avisando da sua presença quer advertindo-os, porque mais depressa defenderá um espaço pequeno que outro mais amplo, sendo esta a razão que leva os cães a defender mais depressa um carro do que uma propriedade. Estando a box ao nosso lado, depressa aquilataremos dos progressos do animal, que deverá ser liberto e atrelado quando se encontrar calmo ou fizer menção de sair.
Caso os seus receios não se estendam aos outros cães, depois de ter reagido à aproximação dos estranhos de dentro da box, deverá ser instalado numa linha de cães prontos a atacar uma cobaia, para que reaja por simpatia e de acordo com o apoio e exemplo dos seus companheiros mais experimentados, uma vez que o problema é também de origem social. Quando manifestar desejo de capturar a cobaia há que incentivá-lo e não assustá-lo, recompensando-o sempre que possível, mesmo quanto manifeste pouco interesse ou as suas tentativas sejam ténues. Independentemente disso, exige-se um figurante experimentado, que instigue ao invés de intimidar e que no princípio dispensará o uso do bastão. Caso os receios do cão se estendem também aos seus pares, deverá ser colocado numa linha constituída por cachorros já iniciados e por cadelas minimamente controladas. Trata-se aqui de despertar o impulso à defesa nele deficitário, de dar-lhe uma experiência que lhe transmita confiança e que leve de vencida os seus medos.
Nenhum destes dois momentos poderá ter um cronograma previamente estabelecido, porque cada animal desperta em diferentes momentos e cada um estabelecê-lo-á de acordo com as respostas positivas que nos vai dando. Cães assim recuperados não deverão ser usados para guarda, porque tanto poderão morder a medo quando regredir perante o aumento da oposição. Em vez disso, deverão continuar a sua capacitação através de churros e outros brinquedos que defenderão ou lutarão pela sua posse. Parece simples e é, desde que haja muita paciência e empenho. 

Sem comentários:

Enviar um comentário