sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O QUE EU DEVO E POSSO FAZER COM UM BEAGLE

 

Para começo de conversa: se não tem experiência prévia em cães, não escolha um Beagle como primeiro cão, porque ele é um super-cão e você pode não ter o saber, a paciência, a resiliência, a disposição e a disponibilidade para o acompanhar e educar. Ele é um cão que dá trabalho, mas que devidamente educado é uma verdadeira bênção e um excelente auxiliar. A primeira coisa que devo fazer antes de adquirir um Beagle é certificar-me de que ele não é portador das doenças mais comuns na raça, que são: displasia coxo-femoral, hipotireoidismo, epilepsia, luxação da patela (rótula deslocada) e distúrbios oculares. Também antes de levar o cão para casa, deverei comprar uns ténis ou outro tipo de calçado cómodo para puder fazer com ele grandes caminhadas à trela, porque este cão britânico reclama por exercício, no mínimo 1 hora diária. Em simultâneo, se porventura tem um quintal e pensa deixar o Beagle andar por lá, cerque-o com uma cerca robusta de pelo menos 150 cm de altura que se estenda ao subsolo (de 180cm se o animal se encontra ginasticado), porque estes cães são verdadeiros artistas de fuga e não hesitarão em cavar túneis para ir ao encontro de um odor atraente.

Independentemente da variedade de Beagle que escolher, porque existem duas, uma que mede à cernelha menos de 33cm e outra daí até aos 45cm, de uma coisa tenho que ficar imediatamente ciente: o Beagle, enquanto cão de matilha, não nasceu para estar só, precisa e exige a companhia de alguém que brinque com ele, quer esteja dentro de um apartamento ou jogado num quintal. Quando entregue a si próprio durante longos períodos de tempo tende a ser destrutivo, que é coisa que ninguém deseja! Este forte sentimento gregário virá em nosso auxílio e ajudar-nos-á no seu treino. Apesar dos Beagles serem reconhecidamente inteligentes, curiosos, robustos, ousados, compactos e atléticos - grandes para os seus centímetros – eles são igualmente teimosos, senão que fica a dever-se à sua natureza instintiva e ao facto de pensarem quase exclusivamente com o nariz, o que lhes confere uma denotada independência que pode ser mal-entendida como rebeldia. Este particular, somado ao facto dos Beagles não cederem perante um treino duro (resistir-lhe-ão até à exaustão e acabarão por ter aversão ao treino), o método mais indicado para trabalhá-los é o do reforço positivo, onde as guloseimas alcançam lugar de destaque.

No meu entender, o treino de um Beagle deverá iniciar-se precocemente, na idade da cópia, aos 4 meses de idade, para nos sobrar tempo para alcançarmos os objectivos desejados sem os entraves provocados pela sua pequena curva de crescimento e maturidade sexual. De imediato temos três trabalhos a vencer: alcançar a sua sociabilização, pô-lo a ladrar apenas à ordem e fazer com que levante o seu nariz e olhe para nós, sem contudo o isentar de farejar, interdição que atentaria dolosamente contra o seu bem-estar. Como cão com um fortíssimo instinto de caça, o Beagle carece de ser sociabilizado logo que tal seja possível e necessita de ficar condicionado a ladrar somente quando isso lhe for ordenado e nas situações para as quais foi treinado, para evitar o seu uivo agudo que emite quando se encontra excitado e que não é nada agradável para quem o ouve, como são os casos das visitas lá de casa, dos vizinhos, das crianças de tenra idade, dos doentes e dos idosos. Uma das grandes dificuldades que os donos dos Beagles enfrentam é que eles raramente olham para quem os conduz, preferindo levar a cabeça rente ao solo e daí rapidamente passam para a surdez selectiva, o que poderá levar ao seu absoluto descontrolo. O requerido olhar para o dono que será requerido na fase instrutória e a espaços, deverá acontecer com a anuência dos animais, coisa facilitada pelo recurso à recompensa. Nas caminhadas diárias, pensando na futura utilidade de um Beagle, os momentos de detecção deverão suplantar os da fixação exclusiva no dono.

Devido à sua polivalência, eu posso fazer quase tudo com um Beagle em matéria de trabalho e utilidade, muito embora a sua principal vocação aponte para a detecção. Posso fazer dele um cão obediente e se o isentar da detecção (o que não devo fazer) poderá ser um ás no cumprimento das ordens. Dificilmente será batido na pistagem, no resgate e na detecção de algo quando bem aproveitado e compreendido (como de resto todos os cães). Na área da segurança dará um excelente e sonoro cão de alarme, podendo ser usado em casa, no jardim, no carro ou junto a qualquer pertence. Como atleta que é, o Beagle pode ainda participar com alegria em provas de agility, mas se é para concorrer a um lugar no pódio, é melhor participar com um Beagle abaixo dos 33cm de altura no mini-agility. Na Pista Táctica são inúmeras as suas aplicações, podendo nela formar-se como um cão especializado na prestação de socorro e nos mais variados serviços específicos. Felizmente, ao contrário da maioria das raças com pedigree, há muita biodiversidade nos Beagles, o que muito abona a sua saúde, utilidade, longevidade e futuro. Para quem ainda não sabe, os Beagles têm diferentes variedades cromáticas nas quais se destacam as cores: azul; branco; castanho; limão; vermelho e preto, quando combinadas entre si numa apresentação bicolor ou tricolor.

Penso que o essencial está dito, porque muito mais haveria a dizer sobre este excelente e fiel cão, um verdadeiro hércules no seu trabalho, mas de certo modo incompreendido, porque a maioria dos seus donos acaba, por hedonismo ou ignorância, sem ter paciência para ele. Essencialmente por estas razões, muitos Beagles continuam a uivar desalmadamente, a escaparem-se de casa e a morrerem na boca de outros cães. Se anda à procura de um cão-robot não escolha um Beagle, porque ele nasceu para ser compreendido, amado e respeitado, entregando nas mãos dos donos a sua vida. Se eventualmente tem um Beagle e anda à procura de conselhos, estamos à sua disposição através do email deste blogue.

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