segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

GAIOLA E QUADRADO PARA OS REFILÕES

 

Em tempos idos, como primeiro obstáculo à direita numa pista táctica de outrora, tínhamos a “GAIOLA DO GATO”, obstáculo vertical assim chamado porque dentro dele colocávamos os mais diversos animais domésticos passíveis de ser perseguidos e abatidos pelos cães (outros cães, gatos, coelhos, chinchilas, porcos da Índia; perus, gansos, patos, galinhas, pombos, etc.). Os animais engaiolados não corriam qualquer risco e os cães pouco a pouco familiarizavam-se com eles, entendendo-os como parte do trabalho a respeitar ao invés de persegui-los, iniciando deste modo o seu processo de sociabilização, que brevemente possibilitaria a sã convivência entre os cães e esses animais em liberdade, nomeadamente dentro da pista. Como ainda não temos a gaiola do gato, mas seguindo mesmo princípio, valemo-nos para o efeito de uma grande gaiola de arame, onde colocamos os cães conflituosos enquanto os restantes saltam sobre eles. Curiosamente, o cão mais conflituoso que temos nas nossas fileiras é o pequeno Beagle Coco, que se joga a qualquer cão independentemente do seu tamanho. Por causa disso, coube-lhe ir para dentro da gaiola, mas na companhia da sua dona, para que se sentisse mais confortável e o conselho dela pudesse melhor acalmá-lo. Certo é que o Beagle venceu facilmente o desafio, pelo que passámos à fase seguinte, agora com ele já fora das grades, no centro de um quadrado de verticais e seguro na ponta da trela pela dona, enquanto os cães maiores saltavam por cima dele. O Coco voltou a responder afirmativamente ao exercício.

Quando somos obrigados a encetar este trabalho com um cão, acabamos por estendê-lo a todos os cães presentes na classe como forma de reavivamento e também de adaptação a novas circunstâncias, porque importa manter o foco nas ordens e não nos animais circundantes. Quando se trabalham em simultâneo várias raças, não é raro sermos confrontados com a “incompatibilidade somática”, particularmente quando lidamos com cães que já atingiram a maturidade sexual. No nosso caso temos Filas de São Miguel e Pastores Alemães. Os primeiros, caso não sejam sociabilizados, atacam individualmente qualquer cão e em matilha mordem-se uns aos outros; os últimos constituem-se facilmente em matilha, muitas vezes sem se conhecerem, e carregam sobre os que lhes são estranhos. Conhecedor do problema, enfatizo a sociabilização para garantir a autonomia funcional de todos. Convém que relembrar que toda a obediência é nula enquanto a sociabilização inter pares e a geral não forem alcançadas. Na foto abaixo é possível ver o FSM Doc a saltar sobre o CPA cinzento Jay sem qualquer novidade desagradável, basicamente porque o Pastor Alemão é menos briguento do que o alano-molosso.

Conforme se pode ver na foto seguinte, quando se inverteram os papéis, o Fila mostrou-se mais instável, sendo comum vê-lo envolvido em escaramuças contra outros exemplares da sua raça, confrontos que deixam marcas e que comprometem qualquer processo de sociabilização. Aqui não aconteceu nada de desagradável porque os donos se encontravam por perto (um a saltar com o cão e o outro a escassos 5m do dono. O que se procura e para isso trabalhamos, é que o comportamento dos cães seja igual com os donos distantes ou ausentes.

No salto seguinte, agora com os papéis invertidos é o Pastor Alemão que mostra alguma desconfiança ou insegurança, quiçá como resposta ao que havia acontecido anteriormente. Pela posição de orelhas do lupino, é possível que tenha sido repreendido por querer sair do lugar que lhe tinha sido determinado.

Como os cães não estavam a responder em absoluto ao que era exigível e espectável, voltámos a solicitá-los para trabalharem em conjunto, continuando o FSM a mostrar-se instável. À parte disto, que não pode ser desconsiderado, a suspensão durante o salto do Pastor Alemão é digna de registo.

Depois chegou a vez do Boxer Balzac ir para dentro do quadrado. Quando eu recebi o Balzac para treinar, recebi um braquicéfalo tímido, invariavelmente a coxear de uma das mãos, com pouca apetência para trabalhar e a demonstrar uma gritante aversão à trela. Hoje está mais atrevido, já não coxeia, adora vir para a escola trabalhar, raramente puxa na trela, tem-se revelado um atleta de nomeada e adora ataques lançados. Agora espevitado, conhecedor da sua força e dos estragos que pode fazer, importa que se sociabilize antes que faça algum disparate. Na foto abaixo, o Balzac nem se apercebeu que o FSM Doc estava a saltar por cima dele.

No salto seguinte, agora com CPA Jay a saltar, a “conversa foi outra”, mostrando-se o Balzac muito curioso com o cão que o sobrevoava, sem contudo ter manifestado qualquer atitude agressiva. Quanto ao Jay, não lhe deu importância nenhuma.

No final deste trabalho convidámos o FSM Doc para saltar o quadrado com um casal de Pastores Alemães lá dentro, porque o Doc é um animal excepcional e importa evitar que a sociabilização seja o seu “Calcanhar de Aquiles”. Acabou por executar um salto concentrado e por demais sereno, digno de um cão cujo nome se escreve com letras maiúsculas.

Para terminar o relatório das actividades de sábado, 24 de fevereiro de 2024, deixo aqui uma foto do Beagle Coco a ultrapassar a JANELA, obstáculo para ele de duplo salto e de elevado grau de dificuldade. Bem que o Coco merece o cognome de “Máquina”, porque é exactamente aquilo que ele é!

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Cláudio/Balzac; Joana/Coco; José António/Doc; José Maria/Drako; José Maria/Jay; Paulo/Bohr e Viv/Kiara. O Jorge Filipe não compareceu por motivos laborais, o Paulinho foi poupado por se encontrar doentinho e o Miguel Dias viu-se obrigado a vir de Cabo Verde a nado. Apesar de lhe doer muito a zona lombar e a área adjacente ao coxis, o Paulinho procedeu à reportagem fotográfica das actividades. O Plano de Aula foi cumprido e trabalhou-se afincadamente.

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