Aonde
vão alguns espanhóis buscar tamanha crueldade? Esta é uma pergunta que me tem
assolado ao longo da vida e que nunca foi formulada com base num exacerbado
patriotismo ou chauvinismo da minha parte, até porque a crueldade de alguns dos
nossos vizinhos costuma ser infecciosa em Portugal. Chego até a pensar que a
culpa é dos visigodos, daqueles que em 410 tomaram e saquearam Roma, partindo
dali para a Gália e para a Espanha onde se nobilitaram e fundaram o primeiro
estado visigótico em terras do Império Romano. Será que ainda sobrevive em
Espanha algum pequeno remanescente desta casta de sanguinários, assassinos, ladrões,
violadores e pirómanos? Se não existe, parece que sim, porque não havendo mais
“romanos” para desgraçar, há quem não se importe de continuar a maltratar e a
massacrar animais.
Activistas
de toda a Espanha saíram às ruas para pedir o fim da caça com cães e que estes
animais fossem protegidos pela Lei do Bem-Estar Animal. No passado domingo, dia
4 de fevereiro de 2024, a plataforma NÃO
À CAÇA (NAC)
liderou manifestações em 47 cidades espanholas, chamando a atenção para a
situação dos cães de caça. Estas manifestações tiveram como objetivo evidenciar
os maus tratos e o abandono dos galgos e outras raças utilizadas na caça. Criminosa
e incompreensivelmente, estes animais foram deixados de fora da Lei de
Bem-Estar Animal aprovada em Fevereiro de 2023, gerando controvérsia em vários
sectores da sociedade espanhola, incluindo o comércio de animais de estimação, veterinários
e activistas antiespecistas.
Em
Madrid, cerca de 1.200 pessoas, escoltadas pelos seus cães, principalmente
galgos e cães de caça, reuniram-se para expressar as suas preocupações. Estas
raças enfrentam frequentemente o peso do abuso no sector da caça devido à sua
“vida útil” limitada na indústria. A Espanha continua a ser o único país da UE
que permite a caça com estes animais, um ponto sublinhado pelo NAC durante o
comício que contou com a participação de entidades políticas como o PODEMOS e
o partido dos direitos dos animais PACMA.
“Uma verdadeira lei de bem-estar animal, sem discriminação e sem interesses
económicos por trás dela”, foi uma exigência fundamental da porta-voz do NAC,
Mia Rojo. Enfrentando a seca: A conversa também abordou a grave seca em
Espanha, sublinhando-se o impacto na vida selvagem e a necessidade de medidas proteccionistas.
Segundo o NAC, “as instituições devem ter em conta esta situação que afecta
directamente a biodiversidade e proteger as aves e os mamíferos da actividade
cinegética”.
Esta
crise ambiental sublinha ainda mais a urgência de reavaliar as práticas de
caça. O movimento teve uma participação significativa em regiões como Castela e
Leão, onde ocorreram protestos em sete capitais de província. Valladolid
liderou com quase uma centena de participantes, seguido por Burgos e Segóvia.
As manifestações em Palência e Salamanca atraíram números comparáveis, com León
e Ávila também participando activamente. Além disso, Sevilha assistiu a uma
mobilização substancial, reflectindo um apoio generalizado à causa. A mensagem
chegou até ao Reino Unido com uma publicação que dizia: “Ontem, em Londres, a
nossa família participou no protesto pacífico contra a caça com cães em
Espanha. Este é o primeiro ano em que se realiza uma Marcha em Londres. A
actual contestação a nível nacional sublinha um descontentamento crescente com
as actuais práticas de caça e com o quadro jurídico que envolve o bem-estar
animal.
Toda esta gente e todos aqueles que amam a natureza e os animais só poderão dormir descansados no dia em que todos os cães foram iguais perante a lei e venham a ser dispensados do ofício cinegético que põe em causa o equilíbrio de vários ecossistemas pela extinção da biodiversidade. A consciência espanhola em relação ao bem-estar dos animais está a mudar e os combatentes espanhóis pelos direitos dos animais acabarão vencedores, como vencedores têm sido outros nas mais diversas latitudes – o tempo dos visigodos já lá vai, passou à História!
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