Em
tempos idos, como primeiro obstáculo à direita numa pista táctica de outrora,
tínhamos a “GAIOLA
DO GATO”, obstáculo vertical assim chamado porque dentro dele
colocávamos os mais diversos animais domésticos passíveis de ser perseguidos e
abatidos pelos cães (outros cães, gatos, coelhos, chinchilas, porcos da Índia;
perus, gansos, patos, galinhas, pombos, etc.). Os animais engaiolados não
corriam qualquer risco e os cães pouco a pouco familiarizavam-se com eles,
entendendo-os como parte do trabalho a respeitar ao invés de persegui-los,
iniciando deste modo o seu processo de sociabilização, que brevemente
possibilitaria a sã convivência entre os cães e esses animais em liberdade,
nomeadamente dentro da pista. Como ainda não temos a gaiola do gato, mas
seguindo mesmo princípio, valemo-nos para o efeito de uma grande gaiola de
arame, onde colocamos os cães conflituosos enquanto os restantes saltam sobre
eles. Curiosamente, o cão mais conflituoso que temos nas nossas fileiras é o
pequeno Beagle Coco, que se joga a qualquer cão independentemente do seu
tamanho. Por causa disso, coube-lhe ir para dentro da gaiola, mas na companhia
da sua dona, para que se sentisse mais confortável e o conselho dela pudesse
melhor acalmá-lo. Certo é que o Beagle venceu facilmente o desafio, pelo que
passámos à fase seguinte, agora com ele já fora das grades, no centro de um
quadrado de verticais e seguro na ponta da trela pela dona, enquanto os cães
maiores saltavam por cima dele. O Coco voltou a responder afirmativamente ao
exercício.
Quando
somos obrigados a encetar este trabalho com um cão, acabamos por estendê-lo a
todos os cães presentes na classe como forma de reavivamento e também de adaptação
a novas circunstâncias, porque importa manter o foco nas ordens e não nos
animais circundantes. Quando se trabalham em simultâneo várias raças, não é
raro sermos confrontados com a “incompatibilidade somática”, particularmente
quando lidamos com cães que já atingiram a maturidade sexual. No nosso caso
temos Filas de São Miguel e Pastores Alemães. Os primeiros, caso não sejam
sociabilizados, atacam individualmente qualquer cão e em matilha mordem-se uns
aos outros; os últimos constituem-se facilmente em matilha, muitas vezes sem se
conhecerem, e carregam sobre os que lhes são estranhos. Conhecedor do problema,
enfatizo a sociabilização para garantir a autonomia funcional de todos. Convém
que relembrar que toda a obediência é nula enquanto a sociabilização inter
pares e a geral não forem alcançadas. Na foto abaixo é possível ver o FSM Doc a
saltar sobre o CPA cinzento Jay sem qualquer novidade desagradável, basicamente
porque o Pastor Alemão é menos briguento do que o alano-molosso.
Conforme
se pode ver na foto seguinte, quando se inverteram os papéis, o Fila mostrou-se
mais instável, sendo comum vê-lo envolvido em escaramuças contra outros
exemplares da sua raça, confrontos que deixam marcas e que comprometem qualquer
processo de sociabilização. Aqui não aconteceu nada de desagradável porque os
donos se encontravam por perto (um a saltar com o cão e o outro a escassos 5m
do dono. O que se procura e para isso trabalhamos, é que o comportamento dos
cães seja igual com os donos distantes ou ausentes.
No
salto seguinte, agora com os papéis invertidos é o Pastor Alemão que mostra
alguma desconfiança ou insegurança, quiçá como resposta ao que havia acontecido
anteriormente. Pela posição de orelhas do lupino, é possível que tenha sido
repreendido por querer sair do lugar que lhe tinha sido determinado.
Como
os cães não estavam a responder em absoluto ao que era exigível e espectável,
voltámos a solicitá-los para trabalharem em conjunto, continuando o FSM a
mostrar-se instável. À parte disto, que não pode ser desconsiderado, a
suspensão durante o salto do Pastor Alemão é digna de registo.
Depois
chegou a vez do Boxer Balzac ir para dentro do quadrado. Quando eu recebi o
Balzac para treinar, recebi um braquicéfalo tímido, invariavelmente a coxear de
uma das mãos, com pouca apetência para trabalhar e a demonstrar uma gritante
aversão à trela. Hoje está mais atrevido, já não coxeia, adora vir para a
escola trabalhar, raramente puxa na trela, tem-se revelado um atleta de nomeada
e adora ataques lançados. Agora espevitado, conhecedor da sua força e dos
estragos que pode fazer, importa que se sociabilize antes que faça algum
disparate. Na foto abaixo, o Balzac nem se apercebeu que o FSM Doc estava a
saltar por cima dele.
No
salto seguinte, agora com CPA Jay a saltar, a “conversa foi outra”,
mostrando-se o Balzac muito curioso com o cão que o sobrevoava, sem contudo ter
manifestado qualquer atitude agressiva. Quanto ao Jay, não lhe deu importância
nenhuma.
No
final deste trabalho convidámos o FSM Doc para saltar o quadrado com um casal
de Pastores Alemães lá dentro, porque o Doc é um animal excepcional e importa
evitar que a sociabilização seja o seu “Calcanhar de Aquiles”. Acabou por
executar um salto concentrado e por demais sereno, digno de um cão cujo nome se
escreve com letras maiúsculas.
Para
terminar o relatório das actividades de sábado, 24 de fevereiro de 2024, deixo
aqui uma foto do Beagle Coco a ultrapassar a JANELA,
obstáculo para ele de duplo salto e de elevado grau de dificuldade. Bem que o
Coco merece o cognome de “Máquina”, porque é exactamente aquilo que ele é!
Participaram
nos trabalhos os seguintes binómios: Cláudio/Balzac;
Joana/Coco; José António/Doc; José Maria/Drako; José Maria/Jay; Paulo/Bohr e
Viv/Kiara. O Jorge Filipe não compareceu por motivos laborais, o Paulinho foi poupado
por se encontrar doentinho e o Miguel Dias viu-se obrigado a vir de Cabo Verde
a nado. Apesar de lhe doer muito a zona lombar e a área adjacente ao coxis, o
Paulinho procedeu à reportagem fotográfica das actividades. O Plano de Aula foi
cumprido e trabalhou-se afincadamente.