Um
cão só habilitado a fazer ataques lançados é como uma arma de um só disparo e como
tal não pode falhar, tem que ser certeiro, porque doutro modo acabará por ser
vítima da sua própria arremetida, logro facilitado pelo maior conhecimento
geral canino, tanto teórico quanto empírico e que abrange toda a casta de
pessoas. A vantagem ofensiva canina, para ser completamente eficaz, não pode
dispensar o elemento surpresa, porque se for desprezado, o êxito dos cães
reduzir-se-á significativamente. Os cães de guarda, porque ninguém os tem para
que pereçam, precisam de suplantar a provocação que gera a resposta instintiva
e de ser condicionados noutros tipos inesperados de abordagens, visando a sua
salvaguarda e consequente vantagem. Como caçadores e guardas de rebanhos, os
cães não capturam as diferentes presas do mesmo modo e não se lançam de peito
aberto e indistintamente contra todos os predadores, procuram naturalmente
surpreender uns e outros, tentando no segundo caso evitar ao máximo as
eventuais lesões de um contragolpe. Nada disto seria possível sem a
identificação prévia das suas presas e adversários operada pela experiência.
Assim,
não basta fazer ataques lançados a um manga ou a um fato de ataque, porque a
experiência feliz levará o cães ao descuido e a uma inusitada confiança que
poderão ser-lhes fatais. O ataque continuado a estes acessórios causa
habituação e pode esconder animais impróprios para o ofício, nomeadamente aqueles
que temendo fazer dolo e querendo evitar a repreensão mordem como se estivessem
a participar numa brincadeira, procurando zonas de impacto sem nenhuma ou quase
nenhuma perigosidade. O tempo que se perde a fazer repetitivos ataques lançados
deverá dar lugar ao treino de ataques a alvos específicos, passando-se logo que
possível das mangas e dos fatos para as protecções ocultas, o que eventualmente
poderá levar à procura de outros figurantes para além dos usuais. Suponhamos
que um cão tem pela frente um homem armado de uma pistola. O animal deverá
arrancar linearmente e dar o peito às balas ou ocultar-se e surpreender o seu
adversário pela retaguarda, imobilizando-lhe a mão pela forte captura do pulso?
A resposta parece-nos óbvia. Este modus operandi é o mesmo para quem vem armado
de uma faca ou munido de um spay tóxico.
Se ao invés de uma arma de fogo, o intruso
vier ataviado de um varapau, o que o obrigará a aproximar-se mais do animal, o
cão deverá estar habilitado a evitar os golpes e a atacar no seu intervalo,
podendo neste caso partir directamente para cima do agressor, muito embora seja
preferível que o surpreenda, uma vez que é a surpresa que dita a ocasião e
evita muitos males. Estas situações deverão ser reproduzidas no treno debaixo
de um crescendo operacional, para que os cães consigam diferenciar as situações
e agir apropriadamente – proceder às capturas debaixo do menor risco possível
(os cães protectores de rebanhos na eurásia não atacam do mesmo modo ursos e
lobos). A persistência abusiva nos ataques lançados e a inexistência de um
treino desta natureza pode constituir-se numa tortura indutiva à morte dos
animais. Pelo que acabei de dizer, para se ter cães assim habilitados, para além
de trabalho aturado, é necessário que os animais tenham nascido com um impulso
ao conhecimento tão desenvolvido quando os seus impulsos à luta e ao poder, que
sendo devidamente aproveitados, equiparão superiormente os cães para a função.
PS: Existem muito mais modos de ataque a ensinar aos cães, tanto direccionais como os resultantes da sua ocultação.
Sem comentários:
Enviar um comentário