O
adestramento canino acontece através de um conjunto de rotinas a que chamamos
procedimentos. Os cães quando chegam à escola trazem consigo um conjunto de
rotinas domésticas e voltam para casa com as ditas escolares. As rotinas
domésticas e as escolares não deverão alternar-se ou substituir-se uma à outra,
mas sim completar-se, eliminando-se aquelas que criam vícios como a manha, que
causam dificuldades à liderança e que obstam ao ensino, disponibilidade e
prontidão dos cães – que dificultam a assimilação cognitiva e por conseguinte a
sua interacção. A possível substituição das rotinas nos cães deverá acontecer
gradualmente, porque a entrada abrupta de novos procedimentos, enquanto abuso,
pode gerar desinteresse, resistência e rotura nos animais (aqui a recompensa
tem um importante papel a desempenhar). Penso que quanto a isto estamos todos
de acordo, a menos que apareça algum iluminado, vindo não se sabe donde, um
génio, que se faça entender aos cães por meios extra-sensoriais, pondo-os
inclusive a falar para melhor entenderem e serem compreendidos.
De
um jeito ou de outro, todos abominamos as rotinas, mesmo que lhe chamemos
protocolos, ainda mais quando o ensino dos cães tem muito de lúdico, está
carregado de emoções e desperta uns quantos sonhos, alguns até quase sufocados
pelo tempo e tão antigos quanto os indivíduos, o que tantas vezes leva a extravasação
a usurpar o lugar da regra e a evasão a suplantar-se ao procedimento correcto,
havendo gente que invariavelmente, quase sem dar por isso, se deixa ir na onda,
idiossincrasia que entre nós se tornou no provérbio “Perdoa-se o mal que faz
pelo bem que sabe”. Por outro lado, o apego aos procedimentos exige dos donos
uma liderança segura, disciplina, temperança, paciência e constância nas acções,
predicados que não são extensíveis a todos e que por isso chegam a incomodar
muitos. Acontece também com alguma frequência, mercê da dicotomia entre os
indivíduos e a sua máscara, entre o que são e o que encobrem, que os cães
chegam à escola para aprender e acabam por constituir-se em terapia para os
seus donos, permitindo-lhes estes algum incumprimento, abuso e sublevação,
entendendo todos os seus comportamentos, bons e maus, desejáveis e indesejáveis,
como “pétalas de rosa caídas do céu”.
Sem comentários:
Enviar um comentário