A
dúvida que encabeça este artigo não tem uma resposta unânime nem peremptória,
havendo quem diga que “não”, quem diga que “sim” e ainda quem diga um “sim
condicionado”. Mas vamos ao caso concreto, acontecido na cidade de Listowel, na
província canadiana de Ontário, onde mora o casal Mike e Erin Doan, pais de
Henry, um menino autista não-verbal com 9 anos de idade, que só recentemente
aprendeu a falar com a ajuda de um software especial instalado num iPad.
Segundo a mãe, o menino disse “Quero um cachorro agora”, pedido que deixou os
seus pais muito felizes por serem gente que adora cães, mas que estavam a adiar
a aquisição de um até terem a certeza do seu filho estar pronto para isso (segue foto da família).
Decidida
a encontrar um cão para o filho (na foto abaixo), Erin inquiriu sobre um cão postado online pelo
Kismutt Rescue situado nos arredores de St. Marys, na mesma província de Ontário.
Como pretendia ser sincera, esta mãe pediu um encontro com o grupo de resgate
de animais e disse-lhes que o seu filho era autista. Para seu espanto e
desânimo, recebeu mais tarde um email que dizia: “Desculpe, espera que você entenda,
mas acho que, com base no autismo do seu filho, tal não seria uma boa opção.” Perplexa
e ao mesmo tempo insatisfeita com aquela resposta, a mãe do menino pediu mais
esclarecimentos e foi informada de que o Kismutt Rescue não entrega cães para adopção
a famílias com autismo. Não aceitando tal justificativa, Erin contrapôs: "Hoje
em dia, há tanta desinformação, e essas crianças e adultos com autismo são
pessoas maravilhosas", disse ela. "Com certeza, há alguns que têm
mais problemas comportamentais do que outros, mas pôr em prática uma política
generalizada sem sequer conhecer a criança e a família - é realmente
desanimador. Só porque uma criança tem um colapso ou uma explosão, não
significa que todas as crianças com autismo tenham explosões com os seus
animais”.
Após várias tentativas de contacto com Kismutt Rescue, uma pessoa desconhecida da organização enviou-lhe um e-mail após a publicação desta história dizendo que o aquele abrigo adopta cães para pessoas com deficiência, mas que só faz para cães de companhia, não como cães de serviço. Anteriormente, a organização já havia escrito um longo post no Facebook sobre sua política de não permitir que famílias com crianças com autismo adoptassem um cão. “Uma das partes mais difíceis do resgate é o aspecto emocional”, dizia o post. "Tomar decisões difíceis, aprender com os erros e testemunhar ferimentos graves, levou-nos evitar doenças e morte em animais." O post continuava detalhando duas ocasiões separadas que envolviam uma criança com autismo que mordeu um cão após a adopção do Kismutt Rescue. Na outro caso citado, uma criança bateu num cão com um leque. “Após o segundo incidente com o segundo cão, fiz uma política de que NENHUM cachorro será adotado em lares com crianças autistas”, dizia o post.
"Acho que nunca deveria haver um caso em que uma criança fosse discriminada", continuou Wessel. "Uma criança 'normal' de funcionamento regular também pode ter problemas de agressão com um cão, da mesma forma que uma criança autista pode ter um colapso." Concluindo, disse ainda: “Cabe aos pais de todas as crianças avaliar aquilo com que os seus filhos podem lidar em particular.” Este é também o meu parecer e tem sido prática na Acendura, quando por diversas vezes adequámos cães para autistas no âmbito da nossa missão. Entretanto, a busca da família Doan parece estar a ter sucesso, porque outro abrigo local estendeu-lhe a mão e espera trabalhar com ela para encontrar o par perfeito para o Henry, o que levou Erin, a mãe do menino a exclamar: “Há novamente alguma humanidade lá fora!”
Sem comentários:
Enviar um comentário