Não
é todos os dias que temos notícias de Barbados, país insular nas Pequenas
Antilhas das Índias Ocidentais, na região caribenha das Américas e a mais
oriental das ilhas do Caribe, pertencente à British Commonwealth e país natal
da cantora e compositora Rihanna (Robyn Rihanna Fenty). Ali, mais propriamente
nos Maynards, na paróquia de St. Peter, os moradores da área estão preocupados
com uma série de ataques caninos que acontecem tanto de manhã como à noite
sobre transeuntes e corredores. Um homem que foi violentamente atacado por dois
cães no último sábado, confessa que teme voltar para aquele lugar. Elton Hall,
de 62 de idade, manifestou o seu temor durante uma entrevista telefónica realizada
ontem do Hospital Queen Elizabeth (QEH) onde estava a ser tratado de ferimentos
nas mãos, pernas e na zona do estômago. “Quando saio do hospital não tenho
vontade de voltar para aquele bairro porque vou ficar com medo. Eu não quero voltar
a ver aqueles cães novamente, se dentro de algumas semanas os levarem outra vez
para lá”, disse Hall a uma agência de notícias local, a quem contou perturbado os
detalhes do incidente que ocorreu perto do cruzamento da estrada principal de
Maynards e Valley View (foto abaixo), onde alguns moradores se viram obrigados
a afugentar os cães para o socorrer.
TSPT
é a sigla para designar a perturbação de stresse pós-traumático, um tipo de
transtorno de ansiedade que pode desenvolver-se em pessoas que experimentaram
um evento traumático, cuja condição causa sofrimento intenso e prejudica vários
aspectos da sua vida, nomeadamente no trabalho e nos vários relacionamentos. Embora
qualquer pessoa exposta a algum tipo de trauma psicológico possa desenvolver o
distúrbio, as senhoras são duas vezes mais atritas do que os homens. Muitos
ataques caninos, como o sucedido nos Barbados sobre o Sr. Elton Hall, causam
TSPT às vítimas, levando-as a evitar os cães ou a entrar em pânico quando os
vêem (cinofobia). Alguém sujeito a uma experiência destas, como foi o caso do
cavalheiro atrás mencionado, é natural ficar deveras abalado, desenvolvendo sentimentos
e pensamentos perturbadores associados ao episódio que podem persistir durante
meses e até anos, o que pode indicar um quadro de stresse pós-traumático.
Pessoa
ou pessoas assim afectadas podem apresentar os seguintes sintomas: 1. _
Lembranças persistentes (reviver involuntariamente o trauma através de memórias
angustiantes e repetitivas, através de pesadelos ou desenvolver a sensação de
que o evento traumático está a acontecer novamente - “flashbacks”); 2. _ Reacções
físicas extraordinárias (circunstâncias que relembram o trauma podem desencadear
sintomas fisiológicos como suores, náuseas e tremores); 3. _ Comportamento de
esquiva (que as leva a evitar lugares, pessoas e actividades que trazem
recordações dolorosas. As pessoas podem também mostrar-se incapazes de lembrar-se
ou de falar sobre o ocorrido); 4. _ Excitação exagerada (que inclui andar em
constante estado de alerta, evidenciar eventualmente explosões de raiva, assim
como dificuldade em dormir e em concentrar-se); 5. _ Desconfiança e emoções
negativas (as pessoas afectadas por TSPT mostram alguma dificuldade em confiar
nos outros e em manter relacionamentos próximos; evidenciando por vezes perca
de interesse em várias actividades e possíveis sentimentos de culpa e de vergonha).
Estou a abordar esta patologia não porque seja da minha competência enquanto treinador de cães, mas porque várias vezes somos solicitados para fazer parte da sua solução, quando nos trazem crianças, jovens e adultos para “perderem o medo dos cães”, incumbência que só devemos a aceitar a rogo e por aconselhamento terapêutico, porque doutro modo podemos estar a agravar e a prolongar o problema. Convém dizer que o tratamento do transtorno visa ajudar crianças e adultos a alcançar o controlo do medo e da angústia, assim como doutros sintomas e que isso acontece mediante o concurso da psicoterapia e por vezes também da medicação, o que quer dizer que não podemos nem devemos usurpar ou esquecer a competência de médicos, psiquiatras e psicólogos. Em matéria de saúde e bem-estar, dos outros e de nós mesmos, contrariando um aforismo muito conhecido, apraz-me dizer que de loucos temos tudo e de médico pouco ou quase nada. Como o ataque de um cão pode ir para além de meia-dúzia de pontos e gerar stresse pós-traumático nas vítimas, convém evitar a todo o custo que isso aconteça, tanto a quem nos visita como àqueles que fazem parte das nossas fileiras.
Sem comentários:
Enviar um comentário