domingo, 13 de março de 2022

ATAQUES DE CÃES E TSPT

 

Não é todos os dias que temos notícias de Barbados, país insular nas Pequenas Antilhas das Índias Ocidentais, na região caribenha das Américas e a mais oriental das ilhas do Caribe, pertencente à British Commonwealth e país natal da cantora e compositora Rihanna (Robyn Rihanna Fenty). Ali, mais propriamente nos Maynards, na paróquia de St. Peter, os moradores da área estão preocupados com uma série de ataques caninos que acontecem tanto de manhã como à noite sobre transeuntes e corredores. Um homem que foi violentamente atacado por dois cães no último sábado, confessa que teme voltar para aquele lugar. Elton Hall, de 62 de idade, manifestou o seu temor durante uma entrevista telefónica realizada ontem do Hospital Queen Elizabeth (QEH) onde estava a ser tratado de ferimentos nas mãos, pernas e na zona do estômago. “Quando saio do hospital não tenho vontade de voltar para aquele bairro porque vou ficar com medo. Eu não quero voltar a ver aqueles cães novamente, se dentro de algumas semanas os levarem outra vez para lá”, disse Hall a uma agência de notícias local, a quem contou perturbado os detalhes do incidente que ocorreu perto do cruzamento da estrada principal de Maynards e Valley View (foto abaixo), onde alguns moradores se viram obrigados a afugentar os cães para o socorrer.

TSPT é a sigla para designar a perturbação de stresse pós-traumático, um tipo de transtorno de ansiedade que pode desenvolver-se em pessoas que experimentaram um evento traumático, cuja condição causa sofrimento intenso e prejudica vários aspectos da sua vida, nomeadamente no trabalho e nos vários relacionamentos. Embora qualquer pessoa exposta a algum tipo de trauma psicológico possa desenvolver o distúrbio, as senhoras são duas vezes mais atritas do que os homens. Muitos ataques caninos, como o sucedido nos Barbados sobre o Sr. Elton Hall, causam TSPT às vítimas, levando-as a evitar os cães ou a entrar em pânico quando os vêem (cinofobia). Alguém sujeito a uma experiência destas, como foi o caso do cavalheiro atrás mencionado, é natural ficar deveras abalado, desenvolvendo sentimentos e pensamentos perturbadores associados ao episódio que podem persistir durante meses e até anos, o que pode indicar um quadro de stresse pós-traumático.

Pessoa ou pessoas assim afectadas podem apresentar os seguintes sintomas: 1. _ Lembranças persistentes (reviver involuntariamente o trauma através de memórias angustiantes e repetitivas, através de pesadelos ou desenvolver a sensação de que o evento traumático está a acontecer novamente - “flashbacks”); 2. _ Reacções físicas extraordinárias (circunstâncias que relembram o trauma podem desencadear sintomas fisiológicos como suores, náuseas e tremores); 3. _ Comportamento de esquiva (que as leva a evitar lugares, pessoas e actividades que trazem recordações dolorosas. As pessoas podem também mostrar-se incapazes de lembrar-se ou de falar sobre o ocorrido); 4. _ Excitação exagerada (que inclui andar em constante estado de alerta, evidenciar eventualmente explosões de raiva, assim como dificuldade em dormir e em concentrar-se); 5. _ Desconfiança e emoções negativas (as pessoas afectadas por TSPT mostram alguma dificuldade em confiar nos outros e em manter relacionamentos próximos; evidenciando por vezes perca de interesse em várias actividades e possíveis sentimentos de culpa e de vergonha).

Estou a abordar esta patologia não porque seja da minha competência enquanto treinador de cães, mas porque várias vezes somos solicitados para fazer parte da sua solução, quando nos trazem crianças, jovens e adultos para “perderem o medo dos cães”, incumbência que só devemos a aceitar a rogo e por aconselhamento terapêutico, porque doutro modo podemos estar a agravar e a prolongar o problema. Convém dizer que o tratamento do transtorno visa ajudar crianças e adultos a alcançar o controlo do medo e da angústia, assim como doutros sintomas e que isso acontece mediante o concurso da psicoterapia e por vezes também da medicação, o que quer dizer que não podemos nem devemos usurpar ou esquecer a competência de médicos, psiquiatras e psicólogos. Em matéria de saúde e bem-estar, dos outros e de nós mesmos, contrariando um aforismo muito conhecido, apraz-me dizer que de loucos temos tudo e de médico pouco ou quase nada. Como o ataque de um cão pode ir para além de meia-dúzia de pontos e gerar stresse pós-traumático nas vítimas, convém evitar a todo o custo que isso aconteça, tanto a quem nos visita como àqueles que fazem parte das nossas fileiras.

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